Prolongamento
O Jogo critica apoio da Santa Casa ao jornal A Bola
2020-04-20 11:50:00
“Lotarias tanto se vendem no Bairro Alto como em Campanhã ou no Toural”, ironiza direção

No dia em que O Jogo entra no primeiro lay-off da sua história, a direção do jornal publica um duro editorial, onde aponta o dedo ao que apelida de “ignorância, favoritismo e laxismo do Estado”.

A direção do desportivo do Norte não compreende também a medida do Governo de comprar publicidade institucional nos jornais, num investimento de 15 milhões de euros. Trata-se de “um pacote de ajudas anedótico que nem menção faz aos jornais desportivos”.

Mas em causa está também a compra, por parte da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, de assinaturas de oito jornais nacionais – Expresso, Público, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Visão, Observador e A Bola (o único desportivo de todos os meios apoiados por esta medida).

“Hoje, mais do que nunca, o jornalismo deve ser reforçado na sua missão de informar para que os cidadãos tenham sempre esse farol de referência, porque só assim se poderá enfrentar, de forma consciente e eficaz, os enormes desafios sociais que Portugal irá enfrentar nos próximos meses”, justificou a Santa Casa.

Na origem destes apoios (do Governo e da Santa Casa) está a pandemia que deixou os órgãos de comunicação social em grandes dificuldades. A direção de O Jogo fala em “vírus e enteados”, não compreendendo os critérios de atribuição deste apoio da Santa Casa.

“É especialmente agradável receber a notícia de que a Santa Casa de Lisboa acaba de ajudar um jornal desportivo (A Bola) com a compra de uns milhares de assinaturas, esquecida talvez de que as lotarias tanto se vendem no Bairro Alto como em Campanhã ou no Toural”, aponta o editorial.

O artigo critica as “televisões tabloides”, que publicam “festivais de insultos”. E lembra que O Jogo “tem uma redação em Lisboa, bastante maior do que as delegações dos nossos concorrentes no Norte, e nenhum dos jornalistas que lá estão deixará de trabalhar com o lay-off”.

No texto, é percetível a crítica a uma visão centralista e também um aparente lamento pelo silêncio das entidades locais, ao contrário do que sucedeu recentemente, no célebre oráculo sobre as razões da evolução da pandemia na região Norte.

“Há de ser consensual que somos um dos dois únicos jornais nacionais ainda sediados no Norte, embora o Norte – tão ferozmente defendido por causa de uma patetice num oráculo da TVI – raramente se aperceba disso ou se dê ao trabalho de imaginar um futuro sem diversidade de sotaques”, escreve a direção do desportivo.