Prolongamento
"Não vimos o advogado Rui Patrício indignado em processos com outros arguidos"
2021-04-09 19:55:00
Ex-dirigente do Sporting traça comparação entre o processo do ataque à Academia de Alcochete e a Operação Marquês

O advogado Rui Patrício, que representa dois arguidos no processo Operação Marquês, criticou hoje o aparato e pressão mediática em torno do caso, afirmando que os arguidos mais mediáticos, como José Sócrates e Ricardo Salgado, foram “julgados em praça pública” ainda antes do juiz Ivo Rosa ler a decisão instrutória, o que só aconteceu esta tarde, no Campus da Justiça.

Mas Rui Patrício é também o defensor do Benfica em outros processos, como o Football Leaks e o E-Toupeira, e ficou em silêncio quando um outro arguido, neste caso Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, teve de responder em tribunal no caso do ataque à Academia de Alcochete, como lembrou esta tarde Alexandre Godinho, antigo vice-presidente dos leões.

Com ironia, o ex-dirigente do Sporting salientou o silêncio do advogado do Benfica quando Bruno de Carvalho foi vítima do “circo mediático”. Recorde-se que o ex-presidente do Sporting acabou absolvido de todas as acusações de que estava imputado. “Tão giro ver agora a indignação do advogado Rui Patrício com o ‘circo mediático’ contra alguns arguidos no processo da Operação Marquês... Porque não vimos essa indignação noutros processos e com outros arguidos?”, escreveu Alexandre Godinho, nas redes sociais.

No processo Operação Marquês, Rui Patrício defendeu os arguidos Hélder Bataglia e Bárbara Vara. O empresário luso-angolano, apontado pelo Ministério Público como uma peças centrais para a circulação do dinheiro, foi ilibado de todos os crimes de que estava acusado: cinco crimes de branqueamento de capitais, dois de falsificação de documentos, dois de fraude fiscal qualificada e um crime de abuso de confiança. Bárbara Vara também não vai a tribunal, sendo ilibada de dois crimes de branqueamento de capitais.

Em relação ao Benfica, o advogado representou a SAD no processo E-Toupeira, entre outros, conseguindo que as águias não fossem a tribunal. É também um dos defensores do Benfica no processo Football Leaks, que tem Rui Pinto como arguido. Como membro da associação Fórum Penal, assinou a polémica carta enviada ao presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, para que Rui Pinto não fosse ouvido na comissão de inquérito sobre o Novo Banco (antigo BES), a comissão de inquérito em que o Bloco de Esquerda quer ouvir Luís Filipe Vieira.

“Deixe-me só fazer uma ressalva prévia. Vou responder, sem prejuízo de ser advogado num processo em que patrocino uma determinada entidade [Benfica SAD] e esse processo de alguma forma relaciona-se com esse caso [Rui Pinto]. Vou responder em abstrato e acho que não cometo nenhuma falta com essa resposta em abstrato. A tortura pode ser um método de prova muito eficaz, mas não passa pela cabeça de ninguém, espero eu, achar que a bem da eficácia vamos torturar as pessoas para elas confessarem, reprimindo condutas que podemos achar graves”, defendeu Rui Patrício, num comentário para o Jornal Económico, de forma a salientar que as provas obtidas por Rui Pinto não podem ser utilizadas por terem sido obtidas, alegadamente, por meios ilícitos.