Conquistou tudo o que havia para ganhar pelo FC Porto na época 2010/11, sob o comando de André Villas-Boas, naquela que considera ter sido uma das melhores equipas de sempre dos dragões, passou por campeonatos competitivos como o espanhol e o alemão e viajou também até aos recantos do futebol na Índia e na Turquia. Agora com 33 anos, Henrique Sereno está a equacionar deixar os relvados de vez, depois de uma temporada ao serviço do Chennaiyin FC. Fustigado pelas lesões ao longo da carreira, as saudades da família estão a falar cada vez mais alto para o defesa.
“Quando acabei a época, o meu pensamento era deixar o futebol, mas sempre a dizer que caso aparecesse alguma coisa que me fizesse mudar de ideias voltaria a jogar futebol”, começou por contar Sereno em conversa com o Bancada. Embora ainda não seja uma total certeza de que vai pendurar as botas, a verdade é que esse parece ser cada vez mais o cenário a acontecer, com o passar dos dias. “Neste momento, ainda não me apareceu nada que me fizesse voltar… mas também não estou preocupado, estou somente à espera que passe o mês de setembro para anunciar a minha retirada, se não arranjar nada. Mas, se houver algo que me faça mudar de ideias então lá terei que ir”, confessou Sereno.
O futuro pós-futebol é ainda uma incerteza para Sereno. “Já tenho pensado no que vou fazer depois do futebol. É um dos momentos mais difíceis de um jogador, saber o que fazer a seguir, e eu tenho estado a pensar nisso. Ainda não decidi o que vou fazer, já tenho algumas coisas. O futebol deu-me possibilidades de fazer várias coisas, mas ainda não sei ao certo o que vou fazer, porque também ainda não tenho total certeza se vou deixar de jogar. Vamos ver. Maioritariamente, devido às lesões que tive, mas também porque estou sempre afastado da minha família. A maior razão é mesmo essa.”
A época de maiores conquistas para Sereno teve lugar em 2010/11, com a camisola do FC Porto, ao qual o defesa chegou depois de uma temporada em Espanha, no Valladolid, e uma longa passagem pelo Vitória de Guimarães, clube ao qual rumou com 19 anos. O defesa fez valer a sua polivalência para realizar 13 encontros pelos azuis e brancos nessa época, números que não foram aqueles que mais pretendia, mas que o deixaram orgulhoso ainda assim.
Sereno em campo pelo FC Porto. Crédito: Estela Silva / LUSA
“Foi um ano em que ganhámos tudo. Felizmente, joguei com uma das melhores equipas do FC Porto, com alguns dos melhores jogadores de sempre do FC Porto. Infelizmente, não tive todas aquelas oportunidades que gostaria de ter tido, mas ainda assim fiz 13 jogos na melhor equipa do FC Porto e fiquei contente, pois era o meu primeiro ano na equipa, tinha vindo da Liga Espanhola, não era para ser aposta logo de início, mas ainda joguei”, confidenciou Sereno ao Bancada. Desde aí, o defesa não mais voltou a jogar pelos dragões e somou sucessivos empréstimos ao FC Colónia e ao Valladolid. “O André Villas-Boas acabou por ir embora, um treinador que tinha apostado muito em mim, e no segundo ano o Vítor Pereira, apesar de saber que contava comigo, com as contratações que tinha feito, que era o Danilo na altura, vi que não tinha muitas hipóteses para jogar e pedi para ser emprestado. Foi aí que fui para o Colónia.”
Por falar no campeonato alemão, Sereno contabilizou duas passagens por solo germânico, com desfechos bastante diferentes uma da outra. A primeira, no Colónia, foi uma temporada de afirmação para o defesa. “O primeiro ano [na Alemanha] foi muito bom para mim. Fiz os jogos todos, cheguei até ser capitão da equipa do Colónia. Vinha de um campeonato mais competitivo, que é o português, e consegui impor-me com facilidade”, referiu. No entanto, Sereno regressou à Alemanha em 2015/16, para representar o Mainz, desta feita a título definitivo, só que não fez qualquer jogo pela equipa, devido às ‘malditas’ lesões. “Na segunda passagem, vinha da Turquia, de uma grave lesão na cara e tive o azar de chegar ao Mainz e lesionar-me logo no primeiro mês e ficar parado por quatro meses. Então, só comecei a jogar em janeiro e não tive muitas hipóteses de poder ajudar a equipa.” Ainda assim, Sereno descreve-a como “uma experiência agradável”.
Sereno a jogar pelo Mainz. Crédito: Jonas Guettler / EPA
Sereno já passou também pelos campeonatos da Índia e da Turquia e no primeiro deles salientou as diferenças culturais e a nível futebolístico. “A diferença em termos culturais e futebolísticos é enorme. Em termos de futebol, é um pouco menos profissional, apesar de estar a melhor de ano para ano, mas ainda não estão a um bom nível. É melhor que a Arábia Saudita, o Catar e assim, porém ainda não é como deveria ser naquela Ásia. A nível cultural é totalmente diferente, são pessoas muito diferentes, mas também muito boas”, considerou o defesa. A experiência na Turquia também é descrita como muito positiva, não obstante a ‘má fama’ que por vezes aquele campeonato tem no público em geral. “O campeonato turco é muito bom, já mais profissional do que aqui em toda a Ásia, mas passei lá dois anos espetaculares, no Kayserispor, adorei ter lá estado. Na minha altura, ainda só podiam jogar cinco estrangeiros em cada equipa, agora já é muito mais profissional.”
Um dos grandes sonhos cumpridos da carreira de Sereno foi o de chegar a internacional português, façanha que alcançou por duas vezes, embora tenha sido chamado a cerca de duas dezenas de encontros da Seleção Nacional. A estreia pela equipa das quinas foi realizada a 10 de junho de 2013, num jogo particular frente à Croácia que terminou com vitória portuguesa. Quatro meses mais tarde, o defesa também foi a jogo frente ao Luxemburgo, então a contar para o apuramento do Mundial de 2014. “É um sonho para qualquer jogador, o ponto mais alto da carreira. Tive a sorte de jogar pela Seleção, num dos anos em que a Seleção esteve melhor. Saí do Elvas, da terceira divisão, com 19 anos, para o Vitória de Guimarães e não é uma trajetória normal. Mas, lutei por tudo aquilo que consegui, foi tudo graças ao esforço e dedicação, que valeu a pena. Fui a uns 15 ou 20 jogos, só joguei dois, mas fiquei contente e não esperava mais”, salientou Sereno.
Sereno (entre Raúl Meireles e Varela) a treinar na Seleção Naciona. Crédito: José Sena Goulão / LUSA
O Bancada lançou ainda um desafio a Sereno de escolher colegas, adversários e momentos marcantes da carreira. No que respeita a melhor treinador que teve até hoje, o defesa de 33 anos não se conseguiu ficar apenas por um nome. “Tive vários treinadores de que gostei muito. O Manuel Cajuda foi o que me ajudou mais, mas gostei muito de ter tido o André Villas-Boas, o Paulo Bento, inclusive o Domingos Paciência. Depois, também o Prosinecki e o Molina, que é agora meu diretor desportivo. Não posso dizer apenas um.” Os adversários mais difíceis de marcar que teve na carreira foram Cristiano Ronaldo e Messi, sendo que considerou o português como o melhor jogador com quem jogou, do qual foi colega na Seleção.
Quanto ao pior momento da carreira de Sereno, ocorreu “principalmente no Mainz. Apostei tudo em ir para a Alemanha, para poder ir ao Mundial, e correu tudo mal devido às lesões.” Noutra perspetiva, Sereno teve “vários momentos bons na carreira, mas no Vitória de Guimarães destaco a subida de divisão, não a ida à Champions, mas mais a subida de divisão. No FC Porto, aqueles títulos todos… na Turquia também o troféu que ganhei e na Índia os dois campeonatos. Mas, se tivesse de destacar seria a subida pelo Vitória e a Liga Europa no FC Porto.”