Manuel José colecionou sucessos além-fronteiras, mas também em Portugal, onde conta com passagens pela Luz, Alvalade, Bessa e outras paragens. Aos 75 anos, o treinador admite que gosta de falar aquilo que pensa e sabe, não entrando pelas 'amarras' do politicamente correto. Por isso, não nega ter uma dívida de gratidão para com o Benfica, clube do qual admite ser adepto, ainda que guarde algumas lembranças pouco positivas de quando, como treinador, deixou o Estádio da Luz num arranque de temporada pela mão de Manuel Damásio.
“O Benfica tirou-me da vida difícil que tinha em Vila Real de Santo António", admite o algarvio que há vários anos é uma espécie de filho adotivo de Espinho, que não esquece a forma como Manuel Damásio, ex-presidente do Benfica, o mandou embora do emblema lisboeta. "Fui despedido por telefone por aquele presidente que não era presidente de coisa nenhuma, o Manuel Damásio", critica Manuel José, não negando que levou os então dirigentes do clube da Luz para tribunal.
Como treinador, a carreira de Manuel José passou pela Benfica depois de ter representado Boavista, Marítimo, Espinho e Sporting, entre outros clubes. E foi em Alvalade que o treinador diz ter passado por algumas situações onde teve também de marcar a sua posição e deixar claro o seu caráter.
"Nenhuma razão de queixa do Sporting. Tive os problemas normais de quem não ganhou títulos", admite, por hoje, Manuel José, que não esconde que nem tudo foi um 'mar de rosas' em Alvalade, mas percebeu a dimensão da rivalidade entre leões e águias.
Manuel José recorda, em entrevista ao jornal A Bola, uma época em que o leão, a poucas jornadas do fim do campeonato, travou o voo da águia para o título, que acabou nas mãos do dragão. "Ganhámos 2-1 ao Benfica num estádio completamente cheio, 120 mil pessoas, tudo preparado para a festa do título. No fim parecia um funeral", recorda o treinador, destacando que, nessa altura, o então presidente leonino João Rocha foi ao balneário dobrar o prémio pela vitória do Sporting sobre o Benfica.
"Lembro-me do João Rocha entrar no balneário, de fato e gravata, entrar pelo chuveiro dentro aos gritos. Dobrou o prémio da vitória por termos roubado o título ao Benfica. O FC Porto foi campeão", recordou Manuel José a época 1985-86, realçando que graças a esse título, os azuis e brancos tiveram a possibilidade de jogar a então Taça dos Clubes Campeões Europeus e venceram-na na época seguinte. "Foi esse título que permitiu ao FC Porto tornar-se campeão europeu na época seguinte", complementa.
Manuel José estará também para sempre marcado na história dos clássicos de Lisboa, uma vez que foi sob o seu comando que o Sporting aplicou a histórica vitória por 7-1 sobre o Benfica numa temporada em que, apesar deste desaire, o Benfica, de John Mortimore, conquistou campeonato e Taça de Portugal.
"Ganhámos 7-1 e foi uma euforia", recorda Manuel José, salientando numa frase um resumo dessa época. "A única coisa boa que aconteceu nesse ano foram os 7-1 ao Benfica. O Benfica foi campeão e eu fui despedido", destacou o treinador que salienta a consideração que tem pelo emblema de Alvalade, embora o coração seja encarnado. "Maior respeito pelo Sporting, mas sou benfiquista". Palavra de Manuel José.
