Prolongamento
“João Mário não foi ao Europeu porque o treinador percebe pouco desta coisa”
2021-07-26 19:10:00
Antigo capitão do FC Porto elogia médio do Benfica e recua à convocatória de Fernando Santos para criticá-lo

O nome de João Mário continua a preencher grande parte da atualidade futebolística. Desde o final da época passada, em que o jogador deixa o Sporting com rumores (entretanto confirmados) de que não voltaria, à assinatura de contrato pelo Benfica. Pelo meio, uma rescisão controversa com o Inter de Milão e, antes, a ausência do Euro2020, por decisão de Fernando Santos. 

Uma decisão que Rodolfo Reis não compreende e que critica, meses depois da prova. Uma crítica forte, no espaço de comentário televisivo em que participa, na CMTV. Numa altura em que se analisava o facto de João Mário ter entrado (para não sair) no onze de Jorge Jesus, nesta pré-época, o antigo capitão portista manifestou-se um apreciador das qualidades do médio, concordando com visão do treinador do Benfica: o internacional português traz “classe” ao conjunto da Luz. 

“Com João Mário muda muito. Raramente perde um passe. O João tem uma enorme capacidade de organização de jogo, colocando vários ritmos. Tínhamos jogadores ali que perdiam a bola muitas vezes e o João vai dar-nos essa classe”, destacou Jorge Jesus, ontem, depois do empate com o Marselha, em que o médio foi titular. 

Rodolfo Reis concorda. “O João Mário é tal e qual aquilo que o Jorge Jesus disse. E o que disse de João Mário é aquilo que nós, homens do futebol, sabemos: é um jogador que pausa o jogo, que lhe dá velocidade, mas sem grandes sprints. A bola é que corre. Se eu correr com a bola demoro muito mais. Os grandes jogadores são estes, capazes de definir antes de receber a bola”, argumentou o ex-futebolista.  

“Isto é que é velocidade de jogo, isto é que é classe e categoria. Há jogadores que, de primeira, colocam a bola numa situação de contra-ataque quando a equipa está a defender. E João Mário tem isto. E vem trazer ao Benfica algo que a equipa não tinha”, acrescenta Rodolfo Reis. 

E estas palavras conduzem Rodolfo para o raciocínio seguinte. Se João Mário tem estes atributos, por que razão Fernando Santos decidiu prescindir do médio? Rodolfo Reis visa Fernando Santos. 

“João Mário não foi ao Europeu porque o treinador se calhar não percebe desta coisa, ou percebe pouco desta coisa. Uma equipa é uma mescla de jogadores diferentes: uns dão umas ‘porradas’, outros jogam bem de cabeça, outros são rápidos. Se calhar, Fernando Santos levou muitos jogadores iguais e depois viu-se aflito, porque quando tirava um médio e metia outro o resultado era a mesma coisa...”, recorda.  

E é um facto que o meio-campo foi o ‘busílis’ da seleção nacional, no Euro2020. Fernando Santos começou por apostar em William Carvalho, Danilo e Bruno Fernandes, no primeiro jogo, diante da Hungria (vitória por 3-0), mas depois da derrota frente à Alemanha (4-2, no segundo jogo) revolucionou o meio-campo. Diante da França, na terceira partida, restava apenas Danilo, com Renato Sanches e João Moutinho a conquistarem a titularidade. 

Já frente à Bélgica, nos oitavos de final, Fernando Santos continuou a promover alterações no miolo, lançando um trio inédito no Euro2020: João Palhinha, João Moutinho e Renato Sanches. Nenhum destes três elementos havia sido titular na primeira partida da competição. 

Apesar destas permanentes alterações, há um facto que ‘joga’ a favor de Fernando Santos: as caraterísticas dos médios são bem distintas, ao contrário do que sugere Rodolfo – quando diz que o selecionador “levou muitos jogadores iguais” –, na crítica mais dura que foi feira ao selecionador nacional, na ressaca do Euro2020, que ficou aquém das expectativas de um campeão europeu que pretendia revalidar o título.