Prolongamento
Hugo Almeida: o 'panzer' da Figueira que quase preferiu o atletismo ao futebol
2018-08-13 21:00:00
O Bancada recuou até às origens de Hugo Almeida, jogador que aos 34 anos regressou ao futebol português, pela Académica.

Hugo Almeida está de regresso ao futebol português 12 anos depois de ter saído do FC Porto para a primeira aventura no estrangeiro. Aos 34 anos, o avançado prepara-se para trazer mais visibilidade à Segunda Liga e, mais precisamente, à Académica, equipa que vai representar. Numa carreira vastamente passada fora do país de origem, são várias as histórias caricatas e bizarras que Hugo Almeida já partilhou, sejam os tiroteios diários nas ruas que testemunhou no Daguestão, província russa, ou a praxe de beber 20 shots de bebida que os jogadores novos tinham que cumprir no Werder Bremen. Mas, o Bancada foi até às origens do atacante e descobriu um “rei da palhaçada” que poderia ter dado para o atletismo em vez do futebol.

Natural da Figueira da Foz, Hugo Almeida pode muito bem ser descrito como a principal referência desportiva que aquela cidade da Beira Litoral viu nascer. Há quem confirme esta mesma tese. “Neste momento e até hoje, o Hugo deve ser a grande referência desportiva da Figueira da Foz. Até é pena que a Figueira não ‘aproveite’ mais o nome do Hugo porque as pessoas às vezes esquecem-se da carreira que ele tem tido, esteve em dois Europeus e dois Mundiais”, referiu Sérgio Grilo - antigo colega de Hugo Almeida nas camadas jovens da Naval 1.º de Maio, que já passou também pelo Atromitos, Moreirense e UD Oliveirense -, em conversa com o Bancada.

Foi precisamente na extinta Naval 1.º de Maio que Hugo Almeida fez a formação futebolística antes de rumar ao FC Porto, sendo que os primeiros passos no desporto rei foram dados ainda com a camisola do GD Buarcos, clube da Figueira da Foz. Certamente que muitos adeptos deste fenómeno chamado de futebol e que têm acompanhado a carreira de Hugo Almeida se questionam: ‘como é que este panzer seria quando era miúdo’? Pois bem, a resposta está numa mistura entre a timidez natural e a animação. Confuso?

“Ele era sempre dos mais novos nas equipas das camadas jovens, por isso era um pouco mais introvertido, mas quando era um grupo reduzido era um dos reis da palhaçada. Fazia amizades com facilidade e sempre foi muito humilde e um rapaz cinco estrelas. Felizmente, nós aqui na Figueira da Foz damo-nos todos bem e até hoje continua a ser assim e penso que o Hugo não se esquece de com quem jogou e estudou, pois como isto é um meio pequeno andávamos sempre todos juntos e no fundo continua a ser aquele miúdo que depois conseguiu explodir dentro de campo”, considerou Sérgio Grilo.

Hugo Almeida na Seleção Nacional. Crédito: Inácio Rosa/LUSA. 

Aquele golaço pelo FC Porto contra o Inter Milão…

Hugo Almeida chegou ao FC Porto em 2001, então para jogar nas camadas jovens dos azuis e brancos. Os dragões ganharam a corrida ao Sporting na luta pela contratação do jovem avançado que era apontado a altos voos. “Quando o Hugo foi para o FC Porto, se não me engano, ainda era juvenil de primeiro ano e jogava connosco pelos juniores. Ele acabou por fazer alguns golos pelos juniores no campeonato nacional e chegou a ser disputado por FC Porto e Sporting, mas penso que o FC Porto apresentou melhores condições. Depois, ele adaptou-se rapidamente no FC Porto, penso que ainda foi fundamental na fase final de juvenis dessa temporada”, recordou Sérgio Grilo.

Quando chegou a sénior, Hugo Almeida passou pelas mesmas dificuldades que tantos outros jovens portugueses têm encontrado para jogar desde logo nos três grandes vindo das camadas jovens. “No FC Porto, quando se vem das camadas jovens é sempre difícil lutar contra a concorrência que vem de fora, mas penso que ainda fez um bom trabalho no clube”, referiu o ex-colega Sérgio Grilo ao Bancada. Na primeira temporada no plantel principal, mais precisamente em 2002/03, o avançado foi emprestado à União de Leiria na primeira metade da época, equipa pela qual marcou quatro golos em 15 partidas. Completou a temporada com 16 golos em 15 jogos pela equipa B do FC Porto. No ano seguinte, voltou a saltar entre os azuis e brancos e o conjunto leiriense, ao passo que em 2004/05 esteve cedido ao Boavista. Foi em 2005/06 que Hugo Almeida assumiu papel de destaque nos dragões, época na qual fez 38 encontros, ainda que muitos deles na condição de suplente utilizado.

Hugo Almeida a marcar o golo de livre direto contra o Inter. Crédito: Daniel Dal Zennaro/EPA.

Na equipa que era treinada pelo holandês Co Adriaanse, o momento de Hugo Almeida que mais ficou na memória da maioria dos adeptos foi o golo, ou melhor, o golaço que marcou frente ao Inter Milão, em plena Liga dos Campeões. Um livre direto a cerca de 30 metros da baliza dos italianos que quase perfurou as redes. Mesmo que se recorde do golo, este é daqueles que merece ser visto e revisto vezes sem conta (ver vídeo abaixo). Esse duelo terminou infeliz para o FC Porto (2-1 para o Inter), mas o currículo de Hugo Almeida com a camisola azul e branca não o é: dois campeonatos, uma Taça de Portugal e duas Supertaças.

 

O miúdo que estava dividido entre o futebol e o atletismo

Quem sabe se hoje em dia não se poderia estar a apoiar Hugo Almeida numa carreira pelo atletismo em vez de ser no futebol… é verdade. Ainda muito jovem, o avançado dividia o tempo entre o desporto rei e o salto em altura, de acordo com as palavras do ex-colega de equipa Sérgio Grilo. “Ele  também fazia salto em altura no Ginásio [Ginásio Clube Figueirense]. Lembro-me de ele faltar a alguns treinos - e não sei se não terá faltado também a algum jogo - porque estava dividido entre o atletismo e o futebol. Recordo-me de toda a gente dizer que ele assim nunca ia dar em nada, mas parece que se enganaram e o salto em altura até foi um grande ajuda para a carreira dele, pelo menos relativamente ao físico e à impulsão dele em campo”, recordou.

Ainda sem saber se esta será, ou não, a última temporada na carreira futebolística, Hugo Almeida regressou a Portugal pela possibilidade de estar perto daqueles que mais ama. A Académica surgiu, assim, como a oportunidade ideal para o avançado que já somou 57 internacionalizações pela Seleção Nacional. "Quis voltar a Portugal e a Académica é um clube histórico, apesar de estar na Segunda Liga, que me permite estar em casa, perto da família e dos meus filhos. Tinha intenção de regressar [a Portugal] e sinto-me bastante bem na Académica. Quero dar o meu contributo para recolocar a Académica na Primeira Liga, que é a grande ambição e o nosso objetivo", referiu Almeida aquando da apresentação. Agora, que venham os golos, certamente esperam os adeptos da Briosa.