Dois de junho de 2018 será, para sempre, um dia especial na vida e história do FC Famalicão. Em princípio nada mais será igual e o melhor, para o clube de Vila Nova de Famalicão, poderá estar para vir. A dois de junho de 2018 deu-se “o começo de um novo futuro” para o emblema que milita, atualmente, na segunda liga portuguesa. Um clube cujo apoio popular é singular e que não encontra paralelo em praticamente nenhum outro em Portugal. Um clube que a jogar a terceira divisão nacional levou dez mil pessoas ao Estádio Municipal de Famalicão. Um clube que, a partir de hoje, passa a ter uma academia de excelência que, muitos, creem poder ser a base para a consolidação do FC Famalicão junto da elite do futebol português. O FC Famalicão renasceu.
“Sentimo-nos orgulhosos. É um grande orgulho de todos. A obra fala por si. É um equipamento excelente, destinado à formação. Não há muitos clubes em Portugal a ter uma estrutura destas”. Ao Bancada o clube confessa-se orgulhoso. Não é para menos. Há poucas horas, afinal, era cortada a fita que inaugurou a nova academia do clube e que a partir de hoje irá servir os 350 atletas filiados ao FC Famalicão. Uma infraestrutura que Liga, FPF, Associação e Município de Braga acreditam ser o ponto de partida para consolidar o FC Famalicão, não só nos escalões profissionais depois de uma pequena travessia no deserto, mas principalmente junto da elite do futebol português. "Durante estes três anos já inaugurámos mais de cinco academias. Os clubes têm percebido que é este o caminho que deve ser trilhado", afirmou Pedro Proença durante a inauguração do complexo.
Para o FC Famalicão, esta foi uma estrutura pensada e planeada na ótica do crescimento sustentado que o clube vem apresentando nos últimos anos. Um complexo que vai permitir à equipa de Vila Nova de Famalicão ser olhada com outros olhos pelo campo de recrutamento que, até aqui, mais facilmente ia jogar para cidades como Guimarães e Braga. “É um momento importante na história do clube. Na placa de inauguração diz precisamente isso. ‘O começo de um novo futuro’. Creio que é um pouco isso que a direção quis fazer. Fazer uma mudança de paradigma daquilo que era o clube. Apostar na formação para sustentar o seu crescimento”, diz-nos o clube.
“O projeto nasceu da vontade do clube, claramente. Havia essa necessidade, a tal necessidade, 350 miúdos não cabiam no relvado que tínhamos. Houve uma ação de sensibilização junto do Município para que nos cedesse algum terreno em que pudesse ser concretizado o projeto. Foi encontrada uma solução nestes terrenos onde foram construídos os campos, que foram cedidos pela Câmara ao Famalicão e o município celebrou connosco um contrato programa contribuindo também para a sua construção, um contrato para os próximos quatro anos”, vinca o clube ao Bancada.
“Com condições sabemos que ficamos mais perto de conseguir ter mais qualidade na formação. Com melhores condições forma-se com mais qualidade”
A formação tem sido uma das, se não mesmo a grande preocupação do FC Famalicão ao longo dos últimos anos e, por isso, a necessidade da construção de uma academia tornou-se uma prioridade do clube. “Nós este ano temos a equipa de juniores na segunda divisão nacional. A equipa de iniciados participou no campeonato nacional e assegurou a manutenção. Conseguimos fazer regressar a equipa de juvenis ao principal escalão nacional. Há uma aposta forte na formação. O concelho é grande. Não é só a base de recrutamento. Há um crescente interesse dos miúdos em praticar futebol e havia esta necessidade. As condições que existiam eram muito más. O Famalicão tinha um campo de treino, apenas. Para 350 atletas era muito pouco. Aqui não. Aqui têm excelentes condições”.
Com um custo total a rondar o milhão e meio de Euros, o novo complexo desportivo do clube famalicense irá permitir a todos os escalões do clube trabalharem com outras condições. “Passamos a ter um campo principal, com bancada, para o futebol de onze. Que dá também para destacar em futebol de sete. Aqui na AF Braga existe também futebol de nove e por isso temos as marcações também para esses escalões. Depois há um campo, apenas e só, exclusivamente destinado ao futebol de sete e um pavilhão para a base. Para os meninos que chegam com cinco anos e jogam futebol de cinco. Ficam protegidos do frio e do Sol”.
“Temos uma residência para os miúdos que cheguem para os escalões mais altos. Sub 17, Sub 18, Sub 19... Foi pensamento precisamente para isso, para sustentar um pouco o crescimento do clube”, explica ao Bancada o clube. A nova academia do Famalicão, acreditam os responsáveis do clube, irá permitir que o mesmo seja visto com outros olhos e mesmo que a equipa principal possa não beneficiar da mesma de forma direta, no futuro, poderá ser uma fonte de rendimento em caso de transferências de jogadores formados no FC Famalicão como, aliás, já sucedeu recentemente.
“Não interessa só ter o plantel recheado de jogadores só por serem da formação. O que interessa é esses jogadores terem qualidade. Agora... com condições sabemos que ficamos mais perto de conseguir ter mais qualidade na formação. Com melhores condições forma-se com mais qualidade, há uma maior procura do clube, porque aqui à volta há clubes importantes, como o Vitória ou o SC Braga, que são bons exemplos de formação e portanto um bom jogador de Barcelos, da Póvoa do Lanhoso, sei lá... Comparavam as condições e o mais provável era ir jogar para Guimarães ou Braga. Agora certamente o clube irá ser olhado de outra forma. Tem a base de recrutamento mais alargada. Não só a nível do concelho, mas mais alargada. Porque se trabalha bem e se tem boas condições. Isso é fundamental. Foi essa ideia que sempre se teve”.
Mesmo que não seja para servir diretamente a equipa principal? “Sem dúvida, será importante. Há um exemplo que nós temos, que deu uma receita importante ao clube há uns anos, que foi a venda do Paulo Oliveira do Vitória ao Sporting. O Paulo foi formado no Famalicão e na altura o clube tirou daí alguns dividendos. Há de ser sempre um pouco por aí”.
“Acima de tudo existiu uma grande preocupação em dar condições a esta base e aquilo que se entende como a base do futebol. Há um crescimento nesse sentido. Os clubes têm de sobreviver com aquilo que é a sua formação. No Famalicão não há orçamentos milagrosos. Ninguém tem uma varinha de condão. Se pudéssemos ir comprar a equipa do Barcelona íamos e subíamos de divisão, mas não podemos. É procurar criar bases e depois daí tirar dividendos”, diz-nos ainda o clube.
“Vencer sempre. O clube quer crescer. Este investimento revela uma grande vontade em querer crescer. Todos têm essa ideia. Estão a dar-se passos importantes nesse sentido”
Apesar de ter concluído a segunda temporada consecutiva na segunda divisão do futebol em Portugal, não foi há muito tempo que o FC Famalicão andava a disputar o campeonato distrital de Braga, regressando ao terceiro escalão nacional em 2011, para dar início a uma nova era da história do clube. Fruto de um crescimento sustentado que hoje é marca registada do clube, o FC Famalicão regressou às competições da Liga em 2014, para se estabelecer na segunda divisão como um dos clubes com maior assistência média e taxa de ocupação de estádio da competição.
Com 32,6% de taxa de ocupação média do estádio, na segunda liga, esta temporada, só Santa Clara, Nacional, União e CD Cova da Piedade registaram números superiores. Os 1731 espetadores médios presentes no Municipal de Famalicão também só foram superados pelas médias de assistência de Académica, Santa Clara e Nacional. O Famalicão é um clube renascido e experienciar um fulgor muito particular, fruto de um crescimento sustentado, consistente e pensado. Com a inauguração da academia, o FC Famalicão, dizem os responsáveis do futebol português, deu um passo de gigante rumo à primeira divisão.
“Ontem nos discursos, quer o Presidente da Liga, quer o Presidente da Câmara, quer o Presidente do Clube, quer também o Presidente da AF Braga ou o Sr. Hermínio Loureiro que representava a Federação falaram nisso. Que o Famalicão tem uma grande base de apoio. Que é um clube que anseia chegar à primeira Liga e que está a criar estas infraestruturas para chegar lá. Agora... Isto como também dizia o nosso Presidente, isto não é por decreto nem vai ser de qualquer maneira. Tem de ser de uma forma sustentada e que não comprometa o que tem sido feito. Não é chegar lá e depois descer. É manter o crescimento sustentado”.
Quando é que tal pode acontecer? “Não há timing. Há trabalhar para isso e o clube já trabalha para isso há alguns anos. Está-se a cimentar. Esteve há poucos anos nos campeonatos distritais, foi fazendo um percurso de crescimento, foi saldando dívidas, foi sustentando o seu futebol, é hoje um clube mais organizado, basta olhar para aquilo é a nossa estrutura. Há três anos atrás o Famalicão não tinha um diretor de comunicação ou um departamento de Marketing. Agora tem. Estão a ser criadas bases para fazer o clube crescer para depois quando chegarmos à primeira liga, se um dia lá chegar, estar preparado para consolidar esse crescimento”.
“O Famalicão tem uma base de apoio muito grande que vem de uma geração de quando o Famalicão esteve na primeira liga. Aí cresceu um sentimento muito próprio de ‘ser do Famalicão’”
Depois de quatro temporadas consecutivas na primeira divisão nacional no início dos anos 90, a despromoção do FC Famalicão à segunda divisão em 1994 deu início a um período negro da história do clube famalicense que culminou mesmo, em 2008, à queda do clube à quinta divisão nacional. Grande parte dos últimos 30 anos do FC Famalicão foram passados entre a terceira e a quarta divisão, porém, a passagem do emblema de Vila Nova de Famalicão pela primeira divisão entre 1990 e 1994 ainda hoje tem repercussões naquilo que é o apoio ao clube e na forma como Vila Nova de Famalicão vive o emblema azul e branco.
“Os adeptos... A quotização nunca foi alta, nunca foi alterada, crescemos no número de adeptos, estamos perto dos sete mil, aí não há muitos clubes em Portugal que têm tantos adeptos quanto o Famalicão, mesmo em número de sócios. Nós crescemos imenso nos últimos dois ou três anos no número de sócios e nem temos trabalhado muito nesse sentido. Os adeptos aparecem em função das vitórias e do sucesso desportivo. Se a bola entrar temos sempre muito mais gente no estádio. Mas o Famalicão tem uma base de apoio muito grande que vem de uma geração de quando o Famalicão esteve na primeira liga. Aí cresceu um sentimento muito próprio de ‘ser do Famalicão’”, explica-nos o clube.
“Há muita gente que ainda se mantém. O Famalicão tem um conjunto grande de sócios que apesar do clube ter estado nos distritais sempre se mantiveram fiéis ao clube. Mesmo nos momentos mais difíceis. Há ali uma base muito grande, um grande sentimento de ‘ser do Famalicão’. Mesmo nos miúdos isso se vê e se percebe isso ao longo dos últimos anos. Nós num jogo contra o Varzim, no CNS, tivemos 10 mil pessoas no estádio. Dez mil pessoas! Não cabia mais ninguém. Desde aí para cá tem existido um grande crescimento”.
Um crescimento sustentado no apoio local, seja ele de adeptos, seja ele assente no tecido empresarial do Concelho. Numa época em que o futebol é sinónimo de investimento estrangeiro e a identidade dos clubes se dilui com o tempo, o poder do Famalicão é ainda muito local. “A sustentação do clube nos últimos anos assenta muito naquilo que é o apoio do tecido empresarial do Concelho. Não há aqui Governo Regional que nos sustente. É o tecido empresarial, através da divulgação das marcas no nosso estádio, ações de marketing, é um bocadinho esse o trabalho que temos feito e tem servido de base ao crescimento do clube nos últimos anos”.
FC Famalicão, o começo de um novo futuro
A placa desvendada à porta do novo complexo do FC Famalicão não foi feita ao acaso. Nela, inscritas, estão as palavras que definem toda a infraestrutura. Para o clube minhoto, é um novo começo. O começo de um novo futuro. De um futuro de consolidação e auto-sustentação. “Todos queremos a subida de divisão, mas não vamos fazê-lo de forma alucinada. Esta é uma semente lançada à terra para que nos próximos anos se colham frutos deste investimento sustentado e que vai fazer com que o Famalicão se afirme entre os grandes do futebol nacional”, afirmou Jorge Silva, presidente do FC Famalicão, durante a inauguração da Academia do emblema minhoto, precisamente um ano após o começo da obra.
A estrutura não ficará por aqui. Jorge Silva garantiu querer começar brevemente uma segunda fase das obras do complexo e, para o futuro, o desejo é ter um campo com relvado natural. “Será uma complementaridade que se impõe. Estamos a falar de um investimento avultado, mas a ideia passa por construir um relvado natural e outro sintético”.
Um equipamento que orgulha não só o clube, mas também a autarquia de Vila Nova de Famalicão. “Esta Academia deve-se à visão estratégica da direção do FC Famalicão que colocou no topo das suas prioridades a formação, como base de um projeto maior. É a concretização de uma ambição. É aqui que os nossos jovens vão construir o sonho de serem futuros craques, mas acima de tudo, os futuros homens para uma sociedade melhor”, vincou Paulo Cunha, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
Mais do que o maior investimento da história quase centenária do emblema minhoto, a inauguração da Academia do FC Famalicão é o começo de um novo futuro. Porque como disse Pedro Proença... “Se o FC Famalicão, com esta envolvência, não chega à Primeira Liga, nenhum outro clube o conseguirá”.