Prolongamento
Faixa e mau cheiro ausentes no estádio vizinho a aterro em Valongo
2020-02-16 19:50:00
Jogo entre Sobrado e Freamunde ganhou dimensão fora do relvado por motivo ambiental

A ausência da publicidade à empresa dona do aterro, Recivalongo, e a chuva que afastou o mau cheiro de que se queixa desde 2019 a população de Sobrado, pontificou no estádio que dista cerca de 300 metros do aterro.

Acusada de “crime ambiental” pelos locais e alvo de várias intervenções públicas da associação ambientalista Jornada Principal e políticas, a Recivalongo marca presença também no futebol local, sendo um dos patrocinadores do CD Sobrado, um equilíbrio que os dirigentes da comissão administrativa, em conversa com a Lusa, preferiram gerir em silêncio.

A receção hoje ao Freamunde, para o campeonato da Divisão de Elite da Associação de Futebol Porto, ganhou expressão mediática na sexta-feira quando dos ‘capões’ surgiu a informação de que a claque do clube visitante iria “protestar com faixas, camisolas negras e máscaras”, denunciando as dificuldades provocadas pelo aterro em Sobrado, o que não se verificou.

Propriedade da Recivalongo, o aterro dista cerca de 300 metros do estádio e só “a chuva e muita humidade impediu que o jogo de hoje não decorresse sob um cheiro nauseabundo”, contou à Lusa Joaquim Nélson, reformado de 69 anos.

Acrescentou o sócio do clube que hoje não foi apenas o “mau cheiro” que ficou de fora do recinto, foi também a “faixa de publicidade da Recivalongo que costuma estar por detrás de uma baliza desapareceu”, curiosamente, ao lado do local onde acabou por posicionar-se a claque visitante.

Numa conversa que acompanhou a primeira parte de um jogo em que a equipa local chegou ao intervalo a vencer por 3-0, Joaquim Nélson falou da “angústia de uma população” que assente na “ignorância do que chega todos os dias ao aterro e qual a sua proveniência já julga que pode vir aí o coronavírus”.

Paredes meias com a EB 2.3 do Sobrado, é sobre “crianças que não podem ir para o recreio e de atletas que são picados pelos mosquitos enquanto treinam e que ficam doentes” que a conversa prosseguiu até ao intervalo.

“Ao fim de semana não há camiões. A empresa está fechada, logo sente-se menos o mau cheiro”, explicou o local, descrevendo que o “movimento de descarga de resíduos acontece de segunda a sexta-feira, até às 17:30”, mas que o “pior chega depois das 18:30, quando há descargas”.

Alberto Ferreira, comerciante de Sobrado, de 63 anos, contou à Lusa estar a reviver em Sobrado o que viveu enquanto aluno em Ermesinde, “na década de 1970 quando ali instalaram a Lipor, também para tratamento de resíduos orgânicos”.

“Foram tempos muito difíceis, ninguém queria viver em Ermesinde por causa disso. E agora, em Sobrado, está a acontecer o mesmo, ainda que aqui seja mil vezes pior”, acrescentou, argumentando ver “com frequência” do seu estabelecimento comercial, em Sobrado, “passar camiões para o aterro para descarregar amianto”.

Questionado pela Lusa, o presidente do Freamunde, Hernâni Cardoso, explicou que o cancelamento do protesto “foi para respeitar a relação que existe entre o Sobrado e o patrocinador, a Recivalongo”.

A Lusa tentou também falar com o líder da comissão administrativa do Sobrado, Nuno Bessa, para comentar a relação comercial com a Recivalongo, a retirada da faixa de publicidade e os problemas de que se queixa a população, mas este não se mostrou disponível, mais interessado em comemorar o 4-2 com que terminou o jogo.

O ministro do Ambiente revelou no sábado que em 28 de fevereiro será feita uma inspeção “decisiva” ao aterro de Valongo, que tem gerado contestação popular, para avaliar se a gestão dos resíduos urbanos está a ser feita corretamente.

“No dia 28 de fevereiro há uma inspeção final, aqui final não quer dizer a última, mas sim muito importante. E se a gestão dos resíduos urbanos não estiver a ser feita como deve ser feita, como tem de ser feita e como é feita nos restantes aterros, será inevitável que pelo menos a parcela dessa licença lhe seja retirada”, afirmou Matos Fernandes.

O governante falava durante a inauguração do parque fotovoltaico da Lipor - Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, em Gondomar, distrito do Porto, depois de ter sido recebido por um grupo de pessoas a pedir o fim do aterro devido aos maus odores e insetos que atrai.

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