Passou um mês pelo Rio Ave como lateral, mas, agora, brilha como médio ao serviço do AS Mónaco de Leonardo Jardim
Fábio Henrique Tavares tem 23 anos e apresenta-se ao Mundo do futebol como Fabinho. O diminutivo não faz jus ao talento e à inteligência tática que tem demonstrado pelos relvados franceses. No AS Mónaco cresceu e foi moldado enquanto jogador ao mais alto nível, transformando-se num verdadeiro caso de estudo no futebol europeu na atualidade.
Contudo, antes de chegar à ribalta, Fabinho teve direito a uma passagem relâmpago pelo nosso país. Desde então, Portugal nunca mais o largou, mesmo que nem sequer tenha feito a estreia oficial na nossa Liga. Foi sob a influência de vários portugueses que o internacional brasileiro trilhou o caminho que o ajudou a subir a pulso na carreira.
Estamos a falar num dos médios mais promissores do futebol mundial e que mais deu nas vistas na última temporada. Cobiçado por alguns dos maiores gigantes do futebol europeu, Fabinho tem-se afirmado como o fiel da balança da vistosa equipa que Leonardo Jardim montou ao longo das últimas épocas no Mónaco. É já um valor seguro da equipa do principado e longe vão os tempos em que chegou à Europa como um lateral promissor.
Visita a Vila do Conde
Temos de recuar cinco épocas, até ao verão de 2012, para recuperar o primeiro contacto de Fabinho com a realidade do futebol europeu. Natural de Campinas, após cumprir a formação no Paulínia FC, um modesto clube de São Paulo, Fabinho deu nas vistas e o Fluminense não hesitou em recrutá-lo. É aqui que se dá o primeiro contacto com o nosso país. O técnico Luís Campos foi ao Brasil observar a Copa São Paulo, destinada ao escalão sub-20, e ficou logo impressionado com o que viu do lateral.
“Fui observar um jogador da equipa adversária”, começa por dizer ao Bancada Luís Campos. “Mas foi sobre ele que recaíram as minhas atenções”, relembra. O técnico português não lhe perdeu o rasto e observou mais dois jogos de Fabinho no torneio, onde confirmou “o potencial que nele existia”. O Fluminense acabou por se antecipar a outros pretendentes, até porque o jogador ainda não tinha 18 anos, estando assim impossibilitado de sair do país.
Esteve dois anos no clube carioca, entre juniores e equipa de reservas, onde se cruzou com algumas promessas do futebol brasileiro, incluindo Eduardo Teixeira, médio que chegou na última época ao Estoril. Eduardo lembra que as primeiras impressões que Fabinho lhe deixou foi a de uma pessoa “tímida, mas com bom-humor”, classificando-o como “um jogador de grupo”. Também elogia a dedicação do ex-colega, que “a cada dia evoluía mais”, pois “tinha um grande potencial”.
Em junho de 2012, com apenas 18 anos, aterra em Portugal, pelas mãos do “super” empresário Jorge Mendes, um promissor lateral direito. É apresentado como reforço do Rio Ave. As expectativas são elevadas, mas nem sequer chegamos a ter uma pequena amostra do talento do jovem canarinho. Em meados de julho é anunciado como reforço do Real Madrid, por empréstimo dos vila-condenses.
Um episódio que surpreendeu o futebol português, mas também o jogador. “Estava em casa com amigos e, de repente, o meu representante liga-me”, começa por contar Fabinho, numa entrevista concedida ao canal brasileiro ESPN, em 2014. “Ele disse para eu arrumar as malas porque ia para Espanha. Disse: ‘Para Espanha?’. E ele: ‘Sim. Arruma as malas que depois explico-te tudo’. Arrumei as malas e fui. Mas nem sabia qual a equipa para onde ia [risos]. Imaginem a minha surpresa quando, a meio do caminho, ele contou-me que era o Real Madrid…”, recorda.
Luís Campos:“José Mourinho disse que precisava de um defesa direito para o Castilla. Rapidamente sugeri o Fabinho”.
A mudança relâmpago para Madrid tem o cunho de Luís Campos, que nunca deixou de seguir o percurso de Fabinho. “O José Mourinho disse que precisava de um defesa direito para o Castilla [formação secundário do Real], que fosse alto e tivesse um perfil diferente do Carvajal. Alguém capaz de dar mais equilíbrios e que tivesse menos propensão ofensiva. Rapidamente sugeri o Fabinho”, revela-nos o técnico natural de Esposende, que na altura desempenhava funções de observador no Real Madrid.
Antes de a contratação ficar fechada, Mourinho ainda enviou Luís Campos para uma observação final, que acontece na África do Sul, no Torneio das Oito Nações, onde o jogador fez a estreia pela seleção sub-20 brasileira. O Rio Ave, na altura orientado por Nuno Espírito Santo, perdia assim uma verdadeira pérola, que iria passear o seu potencial por Madrid. Foi incluído na equipa de reservas, onde acabou por ir evoluindo ao lado de jogadores como Casemiro, Nacho, Lucas Vásquez, Jesé ou Morata. Às ordens de José Alberto Toril protagonizou uma temporada de estreia positiva, marcando dois golos nas 30 partidas efetuadas.
“Quando chegou era um jovem ainda por desenvolver, mas já se notava talento”, começa por dizer-nos Toril. “Ficámos surpreendidos, pois ele era alto e tinha envergadura física, o que não é normal para a um lateral. No entanto, o Fabinho reunia todas as condições específicas para ser um bom lateral e a evolução que teve nesse ano foi muito boa”, aponta.
Não demorou a captar a atenção de José Mourinho, técnico da equipa principal, que falava diariamente com o técnico da formação secundária para estar a par da evolução dos jogadores mais jovens. A 8 maio de 2013, o treinador português promove a estreia do lateral ao mais alto nível. Os merengues venciam o Málaga por 5-2, no Santiago Bernabéu, quando Mourinho colocou o jovem brasileiro no lugar de Fábio Coentrão, aos 76 minutos. Fabinho ainda foi a tempo de assistir Di María para o 6-2 final, aos 90 minutos.
“A capacidade de tomar decisões corretas e a maturidade e inteligência tática que já possuía” eram outras das virtudes que saltavam à vista de Campos. Apesar da estreia promissora no Real, o lateral acabou por não continuar na capital espanhola. O regresso de Carvajal ao Bernabéu tapa-lhe o lugar no plantel principal e o brasileiro preferiu partir. Toril admite que Fabinho tinha qualidade para se impor em Madrid, mas realça que o jogador “tomou a opção acertada, que lhe permitiu construir um caminho e ser reconhecido internacionalmente”.
O passe continuava a pertencer ao Rio Ave e um eventual regresso representaria, sem qualquer dúvida, uma mais-valia para o clube português. Contudo, Jorge Mendes conseguiu colocá-lo no milionário AS Mónaco, então treinado por Claudio Ranieri. Novamente por empréstimo dos vila-condenses. “Era a minha primeira temporada como profissional e, num primeiro momento, foi difícil porque o campeonato era absolutamente diferente”, relembra Fabinho na mesma peça da ESPN. “Foi uma boa experiência e poderia ter ficado no Castilla. Não sei se tive muita pressa ou não, mas queria muito ir para o Mónaco”, explica.
De empréstimo em empréstimo até à compra definitiva
Apesar da juventude, Fabinho não demorou a adaptar-se à nova realidade. Iniciou a temporada como titular e, entre todas as competições internas, registou 31 partidas efetuadas, sendo 26 delas como titular. Apontou um golo e ajudou a equipa monegasca a sagrar-se vice-campeã francesa e a regressar às competições europeias. O lateral brasileiro começava assim a largar o rótulo de promessa e a afirmar-se, cada vez mais, como um valor seguro.
O Mónaco estava interessado em manter o jogador no plantel e este permanece no principado mais uma temporada emprestado pelo Rio Ave. Mas, em 2014/15, é já Leonardo Jardim o timoneiro do clube. A Ricardo Carvalho e João Moutinho, portugueses que já estavam no plantel na época anterior, junta-se ainda Bernardo Silva. Assim como Wallace, defesa brasileiro que também pertence a Jorge Mendes e que passou igualmente por Portugal sem sequer jogar oficialmente – foi emprestado pelo SC Braga ao AS Mónaco.
Apesar da troca de treinador, Fabinho continua a merecer a confiança no onze. Fez 53 partidas durante toda a temporada – 50 como titular – e estreia-se na Liga dos Campeões, onde marca um dos dois golos obtidos nessa época. É premiado durante a temporada com a chamada de Dunga para a seleção principal brasileira, ele que já era um membro fundamental da seleção sub-21 canarinha. A lesão de Maicon abriu uma vaga para o particular com o Equador, a 10 de setembro de 2014, e foi o jovem do Mónaco a preenchê-la. No entanto, Fabinho não chegou a ser utilizado.
Ainda assim, não demorou muito mais tempo a estrear-se. No final dessa temporada volta a merecer a confiança de Dunga e a 7 de junho atua no particular que o Brasil vence por 2-0 frente ao México. Substitui Danilo ao intervalo e soma aí a primeira de quatro internacionalizações que tem pelo “escrete”. Foi ainda chamado para as duas últimas edições da Copa América, mas sem chegar a ser utilizado.
Já não restavam dúvidas quanto ao talento emergente de Fabinho. Transformara-se rapidamente numa peça-chave do plantel de Leonardo Jardim, ao mesmo tempo que ganhava reconhecimento internacional. O Mónaco avançou, então, para a compra do passe do jogador a título definitivo. Exerceu a opção de compra em maio de 2015. Quase três anos depois de ter chegado a Vila do Conde deixou de pertencer definitivamente ao clube dos Arcos, que nunca representou.
Luís Campos: “Tem um ADN físico que lhe permite jogar facilmente a ritmos altos três jogos por semana, sem se lesionar”
Uma evolução que também se pode explicar pela inteligência do jogador fora de campo e pelo profissionalismo evidenciado. “Tanto em Madrid como no Mónaco, em dois meses dominava as línguas e tem um ADN físico que lhe permite jogar facilmente a ritmos altos três jogos por semana, sem se lesionar”, refere Luís Campos, que a partir de 2014/15 passa a ser coordenador técnico dos monegascos. O técnico português voltou a cruzar-se com o lateral brasileiro, que destaca pelo “grande profissionalismo”, apelidando-o ainda de “relógio suíço”.
Chamada de volta de Mourinho
Em 2015/16 continuou dono e senhor do lugar no lado direito da defesa monegasca. Fez 47 aparições, sempre como titular, entre Liga francesa, Taça de França, Taça da Liga, Liga dos Campeões e Liga Europa. Apontou oito golos, aos quais juntou 14 assistências. Assumiu-se como o marcador de penáltis de confiança de Leonardo Jardim, o que denota bem a confiança depositada nele.
José Mourinho, que não o esqueceu, chegou ao Manchester United no início da temporada e pretendia levá-lo no último verão para a Premier League. Foi o jogador eleito para reforçar o lado direito da defesa dos “red devils”. O clube inglês chegou a oferecer 30 milhões de euros ao Mónaco, mas Fabinho queria disputar a Liga dos Campeões – o United estava na Liga Europa – e rejeitou o reencontro com o técnico que o lançou na ribalta do futebol.
Ainda assim, confessou na entrevista já referida que chegou a conversar com o técnico português e revelou a conversa que teve com este. “Ele [Mourinho] disse que tomei a decisão correta ao deixar o Real Madrid”, salientou. “Teve algo com o Manchester United. Acho que foi um interesse, mas não foi nada concreto. Estou tranquilo no Mónaco. Tivemos um bom início de temporada e estou focado nisso”, frisou Fabinho.
Uma adaptação de sucesso
Assegurada a continuidade no principado, com a renovação do contrato, no verão, até 2021, Leonardo Jardim fez uma aposta pela qual poucos esperavam. Com a contratação do lateral Djibril Sidibé ao Lille OSC, Fabinho começou a ser aposta regular no meio-campo – Jardim já o andava a testar na posição desde 14/15, sendo aí utilizado em cerca de 20 encontros, desde então.
No entanto, nesta época deu-se a mudança definitiva, que muitos podem ter estranhado ao início, até o próprio jogador, que sempre admitiu a preferência por ser lateral, mas que rapidamente se revelou acertada. Tanto que a direção do clube renovou novamente o contrato do jogador no último mês de janeiro, mantendo a duração do vínculo, mas premiando-o com um aumento salarial.
Foto: AS Mónaco Facebook
Esta mudança no terreno de jogo não surpreendeu José Alberto Toril, que o utilizou sempre como lateral. “Como tem uma boa condição física, juntando ainda qualidade técnica, é normal que se esteja a adaptar perfeitamente a essa nova posição. Esta polivalência vai ser uma mais-valia no futuro, sobretudo para ter possibilidade de jogar noutras equipas maiores”, prevê o técnico espanhol, de 43 anos.
Fabinho disputou 56 encontros na última temporada – jogou a lateral somente num encontro, por via de ausências e da rotação imposta por Jardim – e transformou-se ainda mais num dos esteios do Mónaco. Anotou 12 golos e fez ainda 14 assistências, tendo atuado mais de 4500 minutos em toda a temporada. Uma aposta que acertou em cheio, mesmo “contra a opinião de várias pessoas, incluindo empresários”, como veio a revelar Jardim no final da época.
Constituiu com Tiémoué Bakayoko uma das duplas de meio-campo mais fortes do futebol europeu e foi nela que assentou o sucesso da formação de Jardim. Chegaram às meias-finais da Liga dos Campeões, após eliminar Manchester City e Borussia Dortmund, venceram a Liga francesa após 17 anos e deliciaram os adeptos com o futebol praticado. Um futebol de ataque e pressão alta, que fez dos monegascos uma das equipas com melhor média de golos marcados nos principais campeonatos europeus.
Para Luís Campos, que agora exerce funções no Lille, a adaptação foi “uma aposta ganha de Leonardo Jardim”. “No seu modelo de jogo, ele [Leonardo Jardim] prefere laterais mais ofensivos para dar largura, assim como médios capazes de saltar linhas e que raramente errem nas decisões tomadas no eixo central. O Fabinho rapidamente fez o que o Jardim queria”, explica-nos.
Mourinho volta ao ataque
O registo mais impressionante de Fabinho está relacionado com o acerto no passe. Tem uma percentagem de sucesso acima dos 85 por cento, sendo que no meio-campo ofensivo essa percentagem de acerto é de quase 80 por cento. As disputas de bola ganhas estão acima dos 50 por cento. Na Champions os números são ainda melhores e a eficácia sobe em todos estes parâmetros. Algo que faz com que Mourinho ainda não tenha desistido da contratação do médio brasileiro, pois o United tem sido novamente apontado com um dos clubes interessados na sua contratação.
Fabinho brilha mais nos relvados que fora deles, onde se comporta como uma pessoa “reservada, educada e que sabe estar”, segundo José Alberto Toril. Para o antigo técnico, trata-se de um jovem que “gosta de ouvir e aprender”. “Em Madrid encontrou um mundo diferente do que estava habituado, mas não quis deixar escapar a oportunidade que estava a ter e aproveitou-a muito bem”, realça Toril, que termina afirmando que ficou com “muitas boas recordações” do jogador, “tanto a nível pessoal como profissional”.
Talvez por isso, Fabinho não hesite em apontar Marco Verratti, do PSG, rival na Liga francesa, como uma das principais referências. “Tem um jogo diferente do meu, é mais técnico, mas é um jogador que admiro. Não perde a bola e assume os riscos. É perigoso, mas é isso que gosto nele. O controlo de bola que tem é impressionante”, admitiu recentemente numa entrevista ao portal Goal.com.
Avaliado em 25 milhões de euros, pelo site Transfermarkt, Fabinho afirma-se como um médio moderno e completo. Um jogador forte nas bolas divididas e no jogo aéreo, que é capaz de pressionar alto e recuperar a posição rapidamente. Envolve-se facilmente na manobra ofensiva e surge com frequência em zonas de finalização, mas também compensa com regularidade a subida dos laterais, aproveitando a experiência que traz das origens. A velocidade com que recupera a bola e a capacidade técnica, por vezes evidenciada através de passes mais longos e na marcação de bolas paradas, que empresta são outras das mais-valias de um dos principais nomes de uma formação recheada de talento e juventude.
Bernardo Silva, Benjamin Mendy, Thomas Lemar, o próprio Bakayoko e Kylian Mbappé são outros dos jovens prodígios que florescem no jardim semeado por Leonardo no principado. Mas Fabinho não esquece a influência de um dos jogadores mais mediáticos do plantel: o goleador e capitão Radael Falcao. O colombiano “renasceu” esta temporada no Mónaco, tendo apontado 30 golos. É o papel de “líder do balneário” e “a experiência que transmite aos mais jovens”, que o “sub-capitão” destaca no companheiro de equipa.
Será natural que o defeso leve o craque brasileiro a dar o salto para um dos principais clubes europeus, transformando-o num dos mais recentes negócios dourados de Jorge Mendes. Muito por culpa da persistência de Leonardo Jardim em torná-lo num médio. Um português, claro está. Ou não estivesse esta ascensão meteórica do jogador brasileiro, mesmo tendo passado por Portugal somente durante um mês, sido sempre protagonizada de mão dada com o nosso país.
O exemplo paradoxal de Alípio
Fabinho não foi o único jovem brasileiro “pescado” pelo Rio Ave em terras de Vera Cruz, que posteriormente “voou” para um gigante europeu. Em 2007 chegou a Vila do Conde o jovem avançado Alípio. Era considerado uma grande promessa. Veio para os juniores do clube e demora apenas uma temporada até se mudar para o Real Madrid, somente com 16 anos, também pelas mãos de Jorge Mendes.
Tal como o lateral, Alípio não chega a representar a equipa principal. Em Espanha ganha o rótulo de “novo Ronaldo”, sendo comparado com o “Fenómeno” que outrora encantou o Bernabéu. Passa pela terceira equipa merengue, a C, sendo depois promovido ao Castilla, onde foi orientado por Lopetegui. Mas no verão de 2010 é incluído na transferência de Di María do Benfica para os merengues e veio para a Luz juntamente com Rodrigo.
A culpa do falhanço na capital espanhola foi das lesões, segundo explica o próprio. “O Real Madrid negligenciou uma tendinite e isso complicou-me bastante a vida”, apontou Alípio, numa entrevista concedida há cerca de um ano à ESPN Brasil. “O meu empresário era o Jorge Mendes e tive contacto rápido com a alta cúpula do Real. Mesmo estando lá, vivia num mundo à parte. Cheguei a ir com o Pepe, o Marcelo e o Cristiano Ronaldo a um restaurante”, relembrou.
No entanto, se Fabinho aproveitou as oportunidades que foi tendo para se fazer jogador ao mais alto nível, Alípio, pelo contrário, iniciou nos encarnados o declínio numa carreira ainda muito jovem. Atuou pelos juniores, mas nunca conseguiu oportunidades na equipa principal. Regressou ao Brasil, por empréstimo, representando o América Natal, e depois rumou ao Al Sharjah, dos Emirados Árabes Unidos. Seguiu-se Chipre, já desvinculado das águias, Grécia e o regresso ao Brasil, numa queda que parecia não encontrar amparo.
O atacante faz agora um mea-culpa das escolhas que teve. “Acho que fui prejudicado por algumas escolhas que fiz. Em Portugal, estudava e fazia amigos fora do futebol. No Real Madrid precisava de ter uma válvula de escape também, mas não fazia outra coisa além de jogar. Poderia ter-me imposto, mas a lesão virou uma bola de neve e tive de aguentar. Acho que deveria ter parado de treinar”, lamenta.
Alípio: “Desde que fui operado pela primeira vez nunca mais tive contacto com Jorge Mendes. Ele poderia ter-me ajudado”.
As muitas lesões que foi sofrendo foram impedindo a afirmação. Após recuperar de uma operação ao tornozelo, realizada ainda em Portugal, sofreu uma rutura de ligamentos num joelho. O calvário parecia não ter fim e Alípio perdeu o contacto com o empresário português. “Desde que fui operado pela primeira vez nunca mais tive contacto com Jorge Mendes. Ele poderia ter-me ajudado, mas não guardo rancor porque ele também fez boas coisas por mim. Poderia ter estado do meu lado, mas sabem como é o futebol…”, desabafa o jogador na já referida entrevista.
Atualmente, com 24 anos, representa o Vila Nova (GO), depois de já ter passado por Atlético Goianense, Vitória da Bahia e Luverdense. Chegou a pensar em terminar a carreira, mas agarrou com unhas e dentes a última oportunidade que concedeu a si próprio, no seu país natal. Órfão desde muito jovem e com várias lesões a atormentarem-lhe a carreira, Alípio representa a outra face do sucesso. Um jovem que prometeu muito, mas que nunca conseguiu provar o seu potencial nos relvados europeus.