Prolongamento
"Este é um país de etiquetas. O Amorim não precisou de muita experiência"
2021-12-29 16:10:00
"Não fui jogador de alto nível, não tenho família no futebol", diz Renato Paiva numa análise à vida de treinador

A vida de treinador não é fácil no mundo da bola onde os resultados são o algodão que leva os presidentes a tomarem as decisões, não raras vezes. É certo que alguns líderes seguram os seus treinadores mesmo durante a contestação e quando os resultados não aparecem, mas na generalidade a 'corda' acaba quase sempre por partir, inicialmente, pelo treinador. Jorge Jesus é o caso mais recente de um treinador a deixar o cargo na I Liga mas há outros casos.

Renato Paiva, durante várias épocas treinador da formação do Benfica, lamenta que, em Portugal, se coloquem "etiquetas" nos treinadores e depois existam "pouco critério na escolha". "É uma questão de paciência e critério nas escolhas. Eu fartei-me de esperar e fui à minha vida. Este é um país, desculpem, das etiquetas. Aqui tu és treinador da formação, és treinador dos meninos. E, portanto, não olham para o teu talento", lamentou Renato Paiva.

O técnico diz que em Portugal despedir um treinador passou a ser normal, coisa que não vê acontecer na Liga do Equador, onde foi campeão na última temporada.

"Falavam de experiência mas eu não precisei de experiência para ser campeão no Equador. Vão dizer, como eu já ouvi, que é o terceiro mundo. Já ouvi. Eu já ouvi. Mas vão buscar jogadores ao terceiro mundo", salientou o técnico, aproveitando para deixar uma frase para reflexão.

"E depois eu digo que em 30 jornadas despediram-se três treinadores. Aqui vai em quantas [jornadas]? Onde é que é o terceiro mundo? É uma falta de respeito pelos profissionais do treino que está baseada naquilo que eu acho ser o projeto."

Em comentário no canal 11, Renato Paiva disse ainda que, em Portugal, "não há projetos ou há poucos projetos". "E quando não se tem um projeto, hoje escolhem um treinador para sair a jogar, fase de construção apoiada. Ao fim de cinco jornadas aquilo não correu bem, a seguir vão buscar um que joga o jogo direto com os mesmos jogadores".

Prosseguindo no tom crítico, Renato Paiva dá o exemplo de Rúben Amorim e até de Abel Ferreira para destacar que apostaram neles com pouca experiência e os resultados têm aparecido.

"Como isto é das etiquetas as pessoas não olham para o talento, não olham. O Rúben Amorim foi jogador, obviamente, mas não precisou de muita experiência de treinador para fazer o que está a fazer. O Abel Ferreira não precisou de muita experiência para fazer o que está a fazer", avaliou, dizendo que se trata de algo que "tem que ver com talento".

"Como isto é de etiquetas, esta é que é a verdade", lamentou Renato Paiva, precisando ainda que terá sempre de ter cuidado em cada projeto que abraça na carreira.

"Não fui jogador de alto nível, não tenho família no futebol, cada passo que der na minha carreira tem que ser muito bem pensado", concluiu o antigo treinador da formação do Benfica.