Prolongamento
"Espero que a justiça portuguesa tenha noção de que está sob holofotes mundiais"
2020-08-31 15:20:00
Ana Gomes afirma que o tribunal tem de reconhecer o "serviço público" prestado por Rui Pinto

O início do julgamento do processo Doyen, que tem Rui Pinto como arguido, está a colocar a justiça portuguesa sob o foco dos "holofotes mundiais", afirmou ontem Ana Gomes.

No regresso ao comentário semanal para a SIC Notícias, a ativista contra a corrupção sustentou que o hacker desmacarou esquemas ilícitos que causaram prejuízos à escala mundial.

"O caso de corrupção que ele expôs não é só aqui em Portugal, é global", afirmou.

"Espero que a justiça portuguesa tenha a noção de que tem os holofotes mundiais em cima de nós", reforçou a antiga eurodeputada, garantindo que tem recebido telefonemas de jornalistas de todo o mundo "que estão a seguir o caso de Rui Pinto".

No entender da jurista, o hacker precisa que o julgamento seja "justo", até para "compensar a longa prisão preventiva, que foi injustificada".

Ana Gomes defendeu que o tribunal precisa de ter em conta "o serviço público que ele prestou", e que continua a prestar ao colaborar com as autoridades, "como foi reconhecido" por estas, e que o julgamento deve ser o ponto de partida para as autoridades serem dotadas de meios "para fazerem as investigações" das denúncias feitas pelo hacker.

"Há muita informação que foi desperdiçada", lamentou a ativista contra a corrupção, criticando a lentidão da justiça portuguesa em olhar para a documentação revelada "desde 2015" através do Football Leaks, "que levou à ação das autoridades de outros países contra criminosos fiscais e financeiros".

"Em Portugal, o único alvo foi Rui Pinto, a pessoa que estava na origem dessas revelações tão importantes para as autoridades deste país", insistiu.

O processo Doyen é assim fundamental para se recuperar "o tempo perdido", para se reconhecer "o serviço público" de Rui Pinto, a ser "considerado em eventuais delitos que ele possa admitir que praticou", e para se iniciarem "outros processos", que estão "empastelados pela via dos megaprocessos" e por "esquemas que ninguém percebe".

"Espero que toda a informação que ele tem sirva para lher dar uma pena justa, que permita que ele continue a colaborar com as autoridades", concluiu Ana Gomes.

Rui Pinto começa a ser julgado a 4 de setembro por 90 crimes, sendo 68 deles de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting.