Romeu Ribeiro era júnior quando se estreou pela equipa principal das águias, mas acabou por não ser aposta continuada
Romeu Ribeiro. Lembra-se deste nome? Se for adepto do Benfica, certamente sabe de quem estamos a falar. Se vestir outras cores, é possível que o nome lhe diga alguma coisa. Formou-se no Benfica e, em tempos, era tomado como uma das principais promessas das águias e do futebol português. Acabou por não atingir o nível esperado por várias razões, mas a verdade é que ainda não percebeu o principal motivo pelo qual não vestiu mais vezes a camisola encarnada. “Sempre achei muito estranho o Benfica ter apostado em mim com 18 anos e depois ter perdido a esperança”, contou-nos o jogador que gosta de comparar o seu caso ao de Adrien Silva. E se aposta em Romeu tivesse sido semelhante à do Sporting em Adrien? “Quem sabe não estaria agora no Mundial da Rússia”, atira o jogador de 29 anos que hoje atua no FC Penafiel em declarações ao Bancada.
Natural de Vieira do Minho, no distrito de Braga, Romeu Ribeiro é filho de emigrantes e, com apenas dois anos, mudou-se para a Suíça. Foi lá que descobriu o futebol e que começou a dar os primeiros toques numa bola, mas teve de regressar a Portugal alguns anos depois para perceber que tinha capacidade para fazer uma vida em redor do futebol. Começou no Vieira Sport Clube e mudou-se para o SC Braga, clube que representou até aos iniciados. O grande salto deu-se quando entrou para a categoria de juvenis (sub-17), altura em que foi contratado pelo Benfica. Ao Bancada, Romeu Ribeiro explicou como tudo aconteceu. “Na altura havia – e ainda há – o Torneio Lopes da Silva, onde me destaquei. Lembro-me como se fosse hoje de ser abordado pelos responsáveis do Benfica no sentido de representar o clube. É uma imagem que acho que nunca mais me vai sair da cabeça. Fiquei muito contente e liguei logo para o meu pai, que ficou ainda mais feliz”, disse. Contudo, os primeiros tempos foram “difíceis”. Com 15 anos, Romeu lembra-se que ficou numa casa (o centro de treinos no Seixal ainda não existia) e que a família, em Vieira do Minho, sofreu com a situação. “Lembro-me da minha mãe me ligar a chorar. Ela chegou a estar um mês sem entrar no meu quarto em Vieira, tinha muitas saudades.”
Romeu Ribeiro (esquerda) em ação no FC Penafiel (foto: Facebook FC Penafiel)
Subir até aos seniores e jogar na Liga dos Campeões
No Benfica, Romeu Ribeiro demorou pouco a ter sucesso. Era um dos melhores jogadores da sua geração, estava nas seleções jovens e isso fez com que jogasse muitas vezes um ano acima nas equipas de formação das águias. Assim sendo, o sonho de chegar à equipa principal existia e foi bastante alimentado à medida que os anos iam passando. Até que, quando era júnior, foi chamado para a pré-época com Fernando Santos no comando técnico do Benfica. Estávamos em 2007/08 e nem tudo correu como previsto, mas Romeu Ribeiro nem foi muito prejudicado: a saída de Fernando Santos e a entrada de José Antonio Camacho até beneficiou o médio que acabaria por se estrear como sénior a 25 de agosto de 2007, quando tinha apenas 18 anos. “A ideia que ele [Fernando Santos] me passou na altura foi que eu ia treinar com a equipa principal e jogar com os juniores. As coisas não correram bem ao mister e foi despedido, entrando o Camacho. Quando ele chega, fui logo convocado para o jogo com o Vitória de Guimarães. Não estava nada à espera. Lembro-me de ser o primeiro a ser chamado para ir aquecer e de ser o primeiro a entrar em campo. Foi um sentimento… Enfim. Sentir que estava a ser aposta”, revelou Romeu Ribeiro.
Quatro dias depois dessa partida da segunda jornada da Liga, Romeu Ribeiro voltou a jogar ao entrar na segunda parte do desafio contra o FC Copenhaga na terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. “Nunca me vou esquecer. É onde todos querem chegar. Costumo dizer que toda a gente devia ter a oportunidade de pisar esse palco pelo menos uma vez. É um dos momentos mais altos que um jogador pode ter na carreira. Joguei contra o Copenhaga, noutro jogo em que fui para o banco com o mister Camacho. Depois, na fase de grupos, cheguei a ser convocado para o jogo com o Milan, Celtic e Shakhtar”, frisou. No total, Romeu Ribeiro jogou seis vezes pela equipa principal do Benfica e esteve no banco noutras quatro ocasiões antes de ser emprestado ao Aves no mercado de inverno. Porquê? Para jogar mais. “Foi uma decisão tomada pelo Camacho. Na altura, ele disse-me que precisava que nós jogássemos a tempo inteiro meia época e, na época seguinte, teríamos uma conversa com ele e o presidente. Depois dos seis meses no Aves, voltámos para a pré-época. Mas já não era o Camacho o treinador, era o Quique Flores e voltei a ser emprestado.”
Rodízio de empréstimos e desistência do Benfica
Acabou 2007/08, mudou o treinador do Benfica e Romeu Ribeiro voltou a ser emprestado ao Aves. No ano seguinte, foi cedido ao Trofense. Ainda assim, e apesar da quantidade consecutiva de cedências, Romeu Ribeiro só pensava em voltar ao Benfica. Na sua cabeça, esse objetivo ainda era possível, mas não aconteceu e o motivo dado pelo atleta é a “fase complicada e instável” que o emblema lisboeta atravessava. “Mesmo com estes sucessivos empréstimos, nunca me desviei do meu objetivo que era voltar ao Benfica. Fiz boas épocas no Desportivo das Aves, Trofense e Marítimo e sempre pensei que pudesse voltar. Sentia que tinha condições e a certeza que ia conseguir. Só que não aconteceu, não sei porquê. Talvez porque o Benfica passava uma fase complicada e instável e não dava para apostar na formação, o que só começou a acontecer há três, quatro anos”, explicou.
A jogar pelo Aves contra o clube com quem tinha contrato, o Benfica (foto: António Cotrim/Lusa)
Finalmente, Romeu Ribeiro soube por Luís Filipe Vieira que a intenção do Benfica não era voltar a emprestá-lo e foi desvinculada a ligação entre as duas partes. Ribeiro assinou pelo Marítimo, mas encontrou novas contrariedades. Quando foi para a Madeira, o objetivo era ganhar ritmo na equipa B para depois subir à equipa principal, mas não foi isso que aconteceu. “Sabia que no início poderia ter de fazer alguns jogos na equipa B. Em conversa com o mister Pedro Martins, sabia que após três, quatro jogos podia passar para a equipa principal. Estava a médio centro, era o melhor marcador da equipa B e achava um pouco estranho não ser chamado à equipa principal. São opções dos treinadores.”
No entanto, foi nos três anos que passou na equipa B do Marítimo que viveu uma das melhores histórias da carreira. “Quando estava no Marítimo tínhamos um diretor que tinha vindo do clube rival. Íamos jogar ao continente, não me lembro contra quem. Estávamos a caminho do aeroporto e voltámos para trás. Tudo porque esse nosso diretor tinha-se esquecido do bilhete de identidade em casa e tivemos de voltar a casa dele. Quando chegámos à casa dele, ele tinha uma bandeira enorme do rival. Era como se o diretor do Benfica tivesse uma bandeira do Sporting em casa [risos]. Nós, na brincadeira, dizíamos que ele tinha sido despedido”, contou.
Estabilidade no Penafiel, objetivo no estrangeiro e a carreira do irmão
Em 2013, Romeu Ribeiro assinou contrato com o FC Penafiel e não podia ter pedido melhor ano de estreia. Jogou muito, foi importante e a equipa subiu à Primeira Liga ao terminar o campeonato na terceira posição da tabela classificativa. Fazer parte e contribuir para uma aventura destas deixou Romeu Ribeiro deliciado. “Foi um ano fantástico, com um treinador [Miguel Leal] com boas ideias que me ajudou a crescer e ver o futebol de outra maneira. Consegui pegar de estaca na equipa. No ano seguinte, consegui o meu objetivo de regressar à Primeira Liga. Acabámos por não conseguir a permanência e acabámos por descer.” Passou 2014/15 com o FC Penafiel na Primeira Liga e teve menos tempo de jogo que no ano anterior. A descida de divisão e os problemas vividos nessa temporada fizeram com que Romeu Ribeiro abandonasse o clube para assinar pelo Académico de Viseu. Esteve um ano com os viriatos e regressou de imediato a Penafiel. “Sentia que estava a precisar de mudar de ares. Logo no início da época, apareceu uma proposta do Académico de Viseu. Era um projeto aliciante, ambicioso. Senti que precisava de mudar, mas as coisas não correram bem. Havia ali algumas falhas. Pensei que ia ter um ano mais calmo que aquele que tive no Penafiel, mas acabou por ser ainda mais complicado. Voltei para o Penafiel, um clube que gosto e onde sei que gostam de mim.”
Romeu Ribeiro (à direita) ao serviço do Académico de Viseu (foto: Nuno André Ferreira/Lusa)
Desde então, fez duas temporadas de bastante sucesso individual na equipa e é um dos elementos mais importantes do grupo. Acabou de renovar com os durienses até 2020 e, por isso, não pensa noutra coisa para além do sonho de subir à Primeira Liga com o FC Penafiel. Ainda assim, não coloca essa meta como a principal para 2018/19, onde o objetivo é, para já, melhorar o quinto lugar da última época. “A Segunda Liga é imprevisível, nunca sabemos o que vai acontecer. Há equipas que são favoritas e acabam por fazer campeonatos maus e, pelo contrário, há equipas menos favoritas que atingem melhores classificações. É um campeonato difícil e nunca podemos dizer que vamos lutar por isto e por aquilo. Queremos fazer melhor que no ano passado”, referiu.
E jogar no estrangeiro, nunca? Romeu Ribeiro já teve propostas e chegou a ponderar emigrar em 2014, quando subiu de divisão com o FC Penafiel. Teve uma proposta “bastante tentadora”, mas recusou para poder jogar na Primeira Liga com a equipa nortenha. Posto isto, não nega que quer “experimentar um campeonato diferente” e que “sempre foi um objetivo e uma curiosidade”. Para já, contudo, ainda não aconteceu.
Tudo podia ter sido diferente na carreira de Romeu Ribeiro se este tivesse continuado no Benfica. Perguntámos-lhe o motivo pelo qual não continuou e o jogador admitiu que não sabe a resposta. Para explicar melhor a situação que viveu, Romeu Ribeiro lembrou a aposta do Sporting em Adrien Silva, que também se estreou muito jovem, esteve emprestado e voltou com sucesso. “Ia sempre às seleções jovens, cumpria sempre no Benfica, cheguei a ser chamado à seleção da Europa – na altura, mais nenhum português foi. Sempre achei muito estranho o Benfica ter apostado em mim com 18 anos e depois ter perdido a esperança. Gosto de me comparar com o Adrien. Enquanto o Sporting nunca perdeu a esperança com o Adrien, o Benfica perdeu a esperança comigo. O Benfica estava em mudanças, o clube precisava de estabilizar e precisava de conquistar títulos para depois, sim, apostar na formação”, considerou, afirmando ainda que, se o Benfica tivesse mantido a aposta nele, “quem sabe não estaria agora no Mundial da Rússia, até porque o William foi o único que foi na posição”.
Hoje, mais um elemento da família Ribeiro está a cumprir o sonho de ser jogador profissional de futebol. Yuri Ribeiro, lateral-esquerdo de 21 anos, está mesmo a realizar um percurso em tudo semelhante ao do irmão mais velho. Formou-se no Benfica, estreou-se pela equipa principal, rodou no Rio Ave e vai agora estar na pré-temporada ao serviço de Rui Vitória, técnico que orientou Romeu nas camadas jovens das águias. Apesar das parecenças, Romeu Ribeiro considera que Yuri Ribeiro tem tudo para singrar. E a diferença, mais do que nos jogadores, está no próprio clube. “O Benfica está muito diferente. É um clube que, na minha opinião, está muito melhor. No meu tempo não existia equipa B, o que era mau. Talvez se eu tivesse estado na equipa B as coisas seriam diferentes. O meu irmão tem feito um percurso parecido com o meu, fez uma grande época emprestado ao Rio Ave. As coisas correram-lhe muito bem, ele está motivado. Claro que, como irmão, penso sempre com o coração, mas acho que ele vai surpreender. Tenho quase a certeza que ele vai conseguir agarrar o lugar dele. O feitio dele, o caráter, a persistência e a qualidade vão continuar a vir ao de cima. Tenho a certeza que vai continuar no plantel e vai dar muitas dores de cabeça ao mister Rui Vitória, que gosta de apostar nos jovens e gosta de jogadores como o Yuri.”
Yuri, à esquerda, e Romeu, à direita. Os dois craques da família Ribeiro (foto: Facebook Romeu Ribeiro)
Já se passaram mais de dez anos desde que Romeu Ribeiro, então um adolescente, jogou com a camisola da equipa principal do Benfica. Desde então, jogou em vários clubes, diferentes divisões e vestiu-se em vários balneários. O amor pelo futebol continua o mesmo, mas o jogador cresceu e hoje sabe reconhecer que teve “algumas escolhas que não foram as melhores”. Mas em vez de se justificar e apoiar nesse facto, utiliza-o para tentar guiar o irmão no melhor caminho. “O que costumo dizer ao meu irmão é que gostava de ter tido um irmão mais velho que me ajudasse a traçar um caminho melhor e a fazer escolhas mais acertadas. Sempre que ele tem alguma escolha a fazer, como quando ele me disse que ia ser emprestado, ele fala comigo”, explicou-nos, falando com (mesmo) muito orgulho.