Prolongamento
"Disse a Rui Pinto para não cometer mais ilegalidades", declara Aníbal Pinto
2020-09-04 14:05:00
Antigo advogado do hacker reclama inocência na abertura do julgamento do processo Doyen

O advogado Aníbal Pinto, arguido no processo da alegada extorsão de Rui Pinto ao fundo de investimento Doyen Sports, alegou estar inocente dos crimes de que é acusado.

À data dos factos, Aníbal Pinto era o advogado de Rui Pinto, tendo sido em nome do hacker que reuniu com Nélio Lucas, então administrador da Doyen, na área de serviço da A5 em Oeiras, em outubro de 2015, de acordo com a versão do Ministério Público.

Hoje, na primeira sessão do julgamento, Aníbal Pinto defendeu estar inocente e alegou ter avisado Rui Pinto de que não colaboraria com nada que fosse "ilegal".

"Disse-lhe por email para não fazer mais asneiras e não cometer mais ilegalidades", afirmou.

Em tribunal, o advogado e arguido admitiu que "já tinha ouvido falar do Football Leaks", pelo que desde então suspeitava que "pudesse haver ali uma qualquer tentativa de extorsão".

"Disse que não poderia colaborar em nada por ilegalidade. Avisei-o mesmo que o crime mais grave era extorsão. Mantive o anonimato, porque tenho de cumprir com o sigilo profissional", justificou.

Acusado da co-autoria da tentativa de extorsão, como representante de Rui Pinto (o principal arguido do processo), Aníbal Pinto esclareceu que "não mudaria nada" em relação ao comportamento que teve para com o hacker, pois agiu "como advogado".

"Falei duas vezes com ele pessoalmente. Depois ligou-me uma vez, quase um ano depois. Rui Pinto só me disse que teve um negócio de internet, tive conhecimento do banco em questão, que tinha sido hackeado. Achei que a transação era legal. Ligou-me um ano depois e falou de um contrato com a Doyen, sem especificar o que era. Demorei dois dias a responder a Rui Pinto, para verem que não era assim tão importante", sustentou.

De acordo com a contestação, citada há dias pela 'Tribuna', do Expresso, Aníbal Pinto vai alegar que a gravação da reunião ocorrida na área de serviço da A5 foi ilegal.

Nesse encontro participaram, para além de Aníbal Pinto (em representação de Rui Pinto), Nélio Lucas e o advogado deste, Pedro Henriques.

“Quer a PJ, quer o Pedro Henriques, quer o Nélio Lucas sabiam estar a cometer uma ilegalidade”, pois “o crime investigado não permitia o recurso a ação encoberta”, sustentou a defesa de Aníbal Pinto.

A contestação referiu ainda que essa gravação não foi autorizada pelo Ministério Público, nem proposta por este a um juiz de instrução criminal.

O processo Doyen arrancou hoje, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça, e terá, em média, três sessões por semana durante os próximos meses.

O principal arguido é Rui Pinto, de 31 anos, que vai responder por 68 crimes de acesso indevido, por 14 de violação de correspondência e por seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.