Prolongamento
"Devemos pensar no fartote que deve ter sido no balneário do FC Porto"
2021-09-14 15:25:00
Miguel Braga fala em "cartilha" de ex-árbitros e lembra pedido de Pepe para que fosse consultado o VAR

Miguel Braga, diretor de Comunicação do Sporting, criticou o VAR do Sporting-FC Porto e também os ex-árbitros que comentam arbitragens nos jornais, falando em “cartilha”. O responsável refere-se a algumas análises publicadas na imprensa, onde se defende que Pepe não cometeu grande penalidade nem agrediu Coates, no lance mais controverso do jogo.  

“Acho inquietante que haja uma cartilha de ex-árbitros que vêm para os jornais tentar mostrar-nos uma realidade paralela que não existe. Ou estão a gozar com a nossa cara, ou com a cara do Coates. Li nos jornais que o Coates teve culpa (praticamente) porque estava a tentar agarrar o braço do Pepe. Não há qualquer explicação para aquilo que foi escrito a não ser um total corporativismo que eu acho perigoso e muito pouco honesto. É uma agressão em qualquer parte do mundo”, afirmou Miguel Braga, na Sporting TV. 

Considerando que o Sporting-FC Porto “foi um bom clássico. Intenso, jogado no limite”, com as duas equipas a mostrar uma “muito boa atitude competitiva”, Miguel Braga até compreende o erro do árbitro, mas refere que esperava mais do VAR.  

“Mesmo o lance do empurrão ao Coates [o Sporting queixa-se de outro penálti, por alegado empurrão de Taremi] são lances de alguma subjetividade, onde eu posso dizer que o Coates foi empurrado e outras pessoas dizerem que o empurrão não teve intensidade suficiente. O erro faz parte do jogo e os árbitros são humanos. Neste jogo, houve erros para um lado e para o outro. Consigo viver em paz com isso. O que me deixa inquieto é o lance capital do jogo e aqui a responsabilidade é inteira do VAR. E quando o digo não estou a atacar o instrumento VAR – que deve ficar”, argumenta.  

“No lance da agressão do Pepe ao Coates, Pepe faz aquilo que já o vimos fazer noutros campeonatos e noutros lances. Aquela imagem mostra o Pepe a cerrar os dentes e isto é tão óbvio que se torna absurdo que uma pessoa, com um assistente e 16 televisões, acha isto perfeitamente normal”, continua o responsável. 

Miguel Braga compreende que “o VAR não seja uma ferramenta para ser usada a torto e a direito”. Mas “serve para corrigir erros do árbitro e para ver lances que podem ter escapado à visão do árbitro”. E segundo o responsável leonino, o lance que envolve Pepe e Coates “é um exemplo claro de uma agressão” que escapou ao juiz de campo. “Vermos alguém que acha isto normal é absurdo, surreal”, critica, apontando o dedo aos ex-árbitros que tiveram visão diferente, assim como ao VAR da partida. 

Mas este não foi o único encontro da jornada onde o Sporting considera que foi prejudicado, em termos de classificação e de distância para o primeiro lugar. E o videoárbitro também é visado por Miguel Braga. 

“Este não é o único jogo em Portugal onde existiu um erro claro, para não dizer dois erros claros do VAR. Também tivemos um VAR influente nos Açores. As pessoas leem nos jornais que o Benfica ganhou 5-0, espetacular, jogam muito bem. Mas esquecemo-nos que, na primeira parte, o guarda-redes do Benfica era expulso em qualquer parte do mundo”, diz. 

“Eu desculpo o erro do árbitro de campo, mais do que àquele árbitro que está sentadinho numa sala, com assistente. Uma vez que o árbitro comete um erro, há que o chamar. Um jogador do Benfica coloca o pé na cara de um jogador do Santa Clara. Vemos dois erros com clara influência no resultado e na classificação”, acusa ainda.  

“Vlachodimos varre o jogador do Santa Clara. Neste lance do Coates, poucas vezes vi uma coisa tão absurda. Devemos olhar para estes lances com alguma apreensão”, aponta, considerando sempre que o Sporting saiu prejudicado por ausência de decisões do VAR, quer no jogo dos Açores, quer no clássico entre leões e dragões. 

Miguel Braga regressa à análise do jogo de Alvalade e defende que, com uma arbitragem sem erros graves, dificilmente o FC Porto pontuaria, até porque, “se nos lembrarmos, o FC Porto teve uma oportunidade de golo”.  

“Devemos pensar no fartote que deve ter sido no balneário do FC Porto: o Pepe dá um murro na cara do Coates e ainda diz para irem ver ao VAR. E nós fomos. E vemos uma agressão”, afirma Miguel Braga, referindo-se às imagens do lance que eram transmitidas no momento em que proferia estas palavras. 

“A impunidade com que isto passa, o gozar com a cara das pessoas, faz-me muita confusão. Faz-me confusão que isto passe ao lado do VAR. Faz-me confusão que senhores ex-árbitros que opinam nos jornais tentem desculpar a não marcação de uma grande penalidade e a expulsão de Pepe. Eu tenho muito respeito pelo Pepe, como internacional português, não está isso em causa. Mas o Pepe não tem a fama do Beckenbauer, não é um anjinho de igreja”, salienta Braga.  

“É claro pelas imagens que ele fecha a boca, fica irritado e acerta com a mão no rosto do Coates. Como se desculpa isto? Como se passa um pano por isto. Acho muito perigoso para o futebol português”, lamenta.  

Miguel Braga confirma ainda a entrega do auto de flagrante delito, “uma tentativa de repor alguma justiça”. Porque o futebol “tem regras” e existem mais ferramentas para as fazer cumprir, o clube decidiu avançar: “É verdade. O Sporting avançou com este pedido”. 

Com o levantamento de auto de flagrante delito pedido pelo Sporting à Comissão de Instrutores, o Sporting não quer “castigar o Pepe”, mas “não quer ser penalizado”, porque “o lance influencia o resultado e a classificação”.  

E ao contrário da maioria dos adeptos do Sporting, Miguel Braga não tem dificuldade em compreender os erros do árbitro: “Acho que o Nuno Almeida não teve influência no resultado. Foi um jogo muito difícil para o árbitro também. Sobre os cartões amarelos, se critiquei o Artur Soares Dias por ter expulsado o Gonçalo Inácio aos 17 minutos, não me parece bem por agora criticar o Nuno Almeida por fazer a mesma coisa ao Marcano”. 

No mesmo programa, o responsável pela Comunicação leonina comentou as insinuações sobre as lesões de jogadores do Sporting, que foram colocadas em causa, no âmbito de uma alegada estratégia dos campeões nacionais protegerem os internacionais e poderem preparar o clássico - algo que não se confirmou, até porque alguns dos lesionados falharam mesmo o embate com o FC Porto e não restam dúvidas da sua condição física. 

“Este episódio faz-me lembrar aquela frase: 'Quando o Pedro fala sobre o Paulo, ficamos sempre a saber mais sobre o Pedro do que sobre o Paulo'. Esse tipo de insinuações e de jogo baixo e sujo deve ficar com quem as proferiu”, disse apenas.