Prolongamento
“Clubes não ficam nada atrás dos exércitos de Trump e Bolsonaro”
2020-07-29 10:30:00
Ricardo Costa, diretor de informação da Impresa e da SIC, tece fortes críticas à comunicação dos clubes

Em entrevista ao jornal Público, dias depois de a SIC anunciar o fim dos programas de debate desportivo com adeptos, Ricardo Costa faz duras críticas às estruturas de comunicação dos clubes, que, na sua opinião, “estão a matar o futebol”.

“Os clubes de futebol em Portugal não ficam rigorosamente nada atrás dos exércitos de Trump, Bolsonaro, ou Modi na Índia”, acusa Ricardo Costa.

Para o responsável da SIC, os assessores de imprensa dos emblemas deixaram de cumprir esse papel, até porque os treinadores, jogadores e dirigentes “não dão entrevistas”, ao mesmo tempo que “não há reportagens, nada há nada para assessorar”.

“Os clubes deviam despedir todas as estruturas de comunicação e fazer tudo de novo”, defende Ricardo Costa, sugerindo “um reset muito grande”.

“E não tem que ver com as pessoas que lá estão - o Luís Bernardo, o Miguel Braga, o Francisco J. Marques ou com outros. Têm de fazer um reset muito grande porque acham que estão a defender os clubes, mas não estão. Estão a matar os clubes e o futebol”, alega.

"Os assessores passaram a ser diretores de propaganda, criaram estruturas que não aceitam qualquer ideia de independência fora dos seus universos e trabalham isso nos canais dos clubes, e depois nas redes sociais de forma sistemática e permanente”, defende o responsável da SIC, nesta entrevista ao Público.

Ricardo Costa critica o facto de os clubes “fecharem o acesso à matéria-prima normal”. “Quisemos reportagens à volta do futebol, o Nuno Luz e o Fernando Silva não conseguiram chegar ao pé dos ‘grandes’. Fizemos mais reportagens em Tondela ou Moreira de Cónegos num ano do que fazemos no Porto em dez ou no Benfica em 20”, lamenta.

A SIC, recorde-se, decidiu descontinuar os programas de desporto que assentam em comentadores que representam Benfica, FC Porto e Sporting. O diretor de informação da Impresa, Ricardo Costa, confirmou que os dois programas da grelha da SIC Notícias, 'Play Off' e 'Dia Seguinte', terminam "na próxima semana".

"Vamos ter um modelo diferente à segunda-feira e outro ao domingo, ainda estamos a reorganizar as grelhas", disse Ricardo Costa, quando questionado sobre que tipo de programas vão substituir o 'Play Off' e o 'Dia Seguinte'.

"A pandemia podia ter ajudado a que os agentes do futebol percebessem bem a situação em que o futebol, como toda a sociedade se encontra, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Ou seja, o futebol voltou ainda pior do que estava antes em termos de guerra entre os clubes", salientou Ricardo Costa.

Nesta entrevista ao Público, o responsável repetiu o argumento e acrescentou que a SIC poderá agora fazer "o que é essencial".

"Há uma toxicidade que toda a gente admite. Não temos rigorosamente nada a ganhar, com a agravante de nos últimos anos isso nos ter impedido a todos, como jornalistas, de fazer aquilo que é o essencial que é reportagem, entrevista", disse, àquele periódico.

O FC Porto já reagiu a esta decisão. Ainda que evite imiscuir-se nas decisões editoriais de qualquer canal de televisão, o diretor de Comunicação do clube da Invicta encontra incongruências na SIC e "pecados originais”.

Francisco J. Marques fala em “cumplicidade” e critica “o cheque em branco passado ao comentador Rui Santos”, que participa nos programas 'Play-Off' e 'Tempo Extra', daquele canal.