Prolongamento
Caso das ligações da PJ à Doyen “pode ser pior do que admitia”, reage Ana Gomes
2021-04-14 21:50:00
Jurista esteve na origem da investigação ao denunciar à PGR os dados recolhidos por Rui Pinto

A jurista Ana Gomes, que tinha feito uma participação sobre as alegadas ligações da Polícia Judiciária ao fundo de investimento Doyen, no âmbito do processo Football Leaks, reagiu com receio à notícia da reabertura da investigação, depois do inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ) Rogério Bravo ter confirmado, em tribunal, que foi constituído arguido por suspeitas de colaboração com a Doyen.

Rui Pinto, o principal arguido do processo Football Leaks, já tinha reagido à reabertura do inquérito. Sem qualquer comentário, o hacker partilhou uma notícia a referir que o processo tinha sido arquivado depois de terem sido ouvidas apenas duas testemunhas. Pouco depois, foi a vez de Ana Gomes, que denunciou a situação à Procuradoria-Geral da República (PGR), comentar o assunto.

Para a jurista e ativista contra a corrupção, a reabertura do inquérito deixa no ar a hipótese dos factos serem bem mais graves do que os relatados por Rui Pinto (e depois denunciados pela própria Ana Gomes à PGR).

“Face ao que o preso [à data] Rui Pinto me disse, entendi não poder ficar sentada sobre os dados e participei-os à PGR. Arquivei o arquivamento do DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] e nada divulguei por respeito a um inspetor da PJ. A reviravolta em tribunal indicia que tudo pode ser pior do q admitia...”, escreveu Ana Gomes, no Twitter.

A reabertura da investigação às alegadas ligações da PJ à Doyen, denunciadas pela ex-eurodeputada com base na informação cedida por Rui Pinto, foi hoje confirmada por Rogério Bravo. No arranque da 34.ª sessão do julgamento do processo Football Leaks, em curso no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, o inspetor-chefe da PJ pediu ao coletivo de juízes para fazer uma declaração inicial.

“Antes de iniciar o meu depoimento gostava de fazer uma breve declaração sobre uma certidão que foi requerida e que fez reabrir um processo, no qual fui constituído arguido. Nesse âmbito, antevendo questões que possam agir sobre esse, acho que não devo responder a questões em que sou arguido num lado e testemunha noutro”, declarou o inspetor da PJ, recebendo da presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, a autorização para “recusar-se a responder quando achar que se está a autoincriminar”.

A extração da certidão pelo tribunal foi proferida no passado dia 10 de dezembro de 2020, após um requerimento da defesa de Aníbal Pinto, apresentado pelo advogado João Pereira dos Santos, na sequência do depoimento do colaborador da Doyen Pedro Henriques.

Em causa estarão indícios da prática dos crimes de falsidade de depoimento, corrupção, abuso de poder e denegação de justiça. Nessa data, a procuradora do Ministério Público (MP), Marta Viegas, sublinhou que essa matéria “já se encontra apreciada em processo-crime” e que o mesmo estava já “arquivado”. Contudo, concluiu não se opor à extração da certidão “para que seja reaberto o processo”, o que veio a ser confirmado pelo tribunal.