Prolongamento
Carlos Fortes: baixinho, magrinho, que do nada deu um pulo e brilha na Roménia
2018-08-09 21:00:00
Ao serviço do Gaz Metan, o avançado português chegou, viu e venceu. É o melhor marcador da Liga e só faz golos decisivos

Chegou, viu e venceu. Carlos está a protagonizar uma entrada forte na Liga romena fazendo jus ao apelido dele. Fortes é o melhor marcador do campeonato principal da Roménia com três golos em outros tantos jogos, a par de Gnohéré, do Steaua Bucareste. Mas ainda mais marcante, todos os remates certeiros do avançado português, de 23 anos, de origem cabo-verdiana, que esteve ligado ao SC Braga, foram decisivos para a conquista de pontos (um empate e duas vitórias) do Gaz Metan, atual líder da prova, e que conta nas suas fileiras com mais quatro portugueses, Ricardo Batista, Nuno Lopes, Luís Aurélio e Ely Fernandes e ainda o camaronês Fofana que também jogou em Portugal.

Contratado ao FC Vizela no defeso, Carlos Fortes, titular na equipa orientada pelo jovem Mihai Teja, de 39 anos, fez recentemente o golo decisivo para a vitória frente ao Dínamo de Bucareste (3-2), que tem em Diogo Salomão outro português a brilhar na Liga romena. Já na segunda jornada, na estreia a titular, e no primeiro jogo fora de casa, Fortes assinou o golo do empate diante o Voluntari (1-1). Na ronda inaugural, em casa, recém contratado começou o jogo no banco mas ainda foi a tempo de ser o herói da partida. Entrou aos 62 minutos para carimbar o triunfo para o Gaz Metan diante o Concordia Chiajna, aos…90+2’. Por tudo isto, que não é pouco, Carlos Fortes tornou-se no principal alvo das atenções da pequena e pacata cidade de Medias, com pouco mais de 50 mil habitantes.

O jogador sente-se feliz com o momento que atravessa mas procura focar-se no trabalho e reconhece que o mais importante é continuar a trabalhar em prol da equipa porque só assim poderá prolongar o bom momento que atravessa. “Estou satisfeito, um avançado vive de golos, mas o mais importante é que a equipa conquiste os três pontos”, disse em conferência de imprensa o avançado português expressando-se num inglês fluído. Nos tempos livres, Fortes aproveita para estar com a namorada e o filho que o acompanham nesta aventura e para conhecer um pouco a cidade, embora não haja muito para conhecer.

O que tem mais chamado a atenção dos adeptos e da crítica é o “caparro” de Carlos Fortes que do alto dos seus quase 1,90m de altura e 88 kg alia uma qualidade técnica invejável, aliás como o próprio fez questão de definir numa entrevista ao site do SC Braga, na altura em que representou o clube bracarense. “Sou um jogador que joga bem de costas para a baliza, segura bem a bola, aparece bem em zonas de finalização e sou muito forte tecnicamente, na minha opinião”.

Mas Carlos Fortes não foi sempre forte, nem avançado centro. “Eu sempre fui extremo, era sempre o mais baixinho, o mais magrinho da equipa, e do nada dei um pulo enorme e as pessoas começaram a meter-me a avançado. As coisas começaram a correr bem. Até hoje”, conta o jogador que revela uma paixão extrafutebol, os desportos de contacto. No facebook postou uma imagem dele ao lado de Euclides Castro, o melhor jiu-jitsu português.

Carlos Fortes (à direita) ao lado de Euclides Castro, o melhor jiu-jitsu português (Foto Facebook Carlos Fortes)

David Caiado, um dos portugueses do Gaz Metan e companheiro de Fortes, está satisfeito pelo momento que o avançado atravessa, ressalvando que o facto de a equipa ter “um coletivo muito forte” ajuda ao destaque. “Ficámos todos muito contentes. Ele possui muitas qualidades, técnicas e físicas, que bem trabalhadas podem levá-lo longe. É um jogador com muito potencial”. O médio de 31 anos conta em jeito de piada que os companheiros, sobretudo os portugueses, já se meteram com Carlos Fortes dizendo-lhe que se ele continuar a jogar assim e a marcar golos ver-se-ão livres dele em janeiro. “É uma brincadeira, mas agora a sério, o Carlos é uma excelente pessoa, brincalhão, sempre bem disposto, humilde, e trabalha muito”. E dá um conselho ao jovem jogador. “No futebol não há memória, é o momento. Ele tem qualidade, mas tem que continuar a trabalhar com a mesma vontade para tentar prolongar o mais possível o bom momento que está a atravessar. Ele sabe disso. Apesar de ter 23 anos, é um jogador que já passou pelo SC Braga da I Liga e pelo Vizela do Campeonato de Portugal”.

As origens do jogador mais mediático do momento do Gaz Metan são humildes. Filho de pais caboverdianos, o pai é de São Vicente e a mãe de Santo Antão, Carlos Fortes teve uma infância modesta mas onde nunca lhe faltou nada. “Foi uma infância positiva, os meus pais nunca me faltaram com nada e deram-me uma educação boa para ser aquilo que sou hoje em dia. Tive momentos em que me portei muito mal, mas tive sempre o apoio deles que foi fundamental para poder atingir um certo nível de responsabilidade. Foi a base para não seguir outros caminhos”, afirmou ao site do SC Braga.

De Lisboa a Braga e Vizela, com o Funchal pelo meio, passando por Espanha e Turquia, até chegar à Roménia

O percurso da carreira ainda jovem de Carlos Fortes quase que poderia dar para um roteiro de viagens. O primeiro clube dele foi o Sacavenense onde esteve três anos, até aos 14. Um clube onde arranjou muitas amizades que ainda hoje perduram. A seguir foi para o Alta de Lisboa, um clube que ficava perto de casa e que dava para ir conciliando com os estudos. Jogou um ano no Cultural da Pontinha antes de embarcar numa “aventura” como ele próprio define. Foi jogar para os juniores do Nacional, com 18 anos. “Foi uma aventura boa, gratificante para mim. A nível individual cresci como jogador e como pessoa. Foi o ano em que também desisti de estudar porque não conseguia conciliar as duas coisas”.

Seguiu-se nova aventura, logo na época seguinte. Desta vez Espanha, mais concretamente o Racing Santander. Mesmo não tendo conseguido afirmar-se na equipa principal, considera ter sido uma experiência positiva. “É para recordar para sempre na minha vida. O Racing é um clube que vou levar comigo para sempre. Os adeptos são incríveis, apoiaram-me muito numa altura em que o clube não estava numa situação muito boa em termos financeiros”.

Carlos Fortes chegou ao SC Braga no verão de 2014 com apenas 19 anos, vindo de uma época mal sucedida no Racing Santander para onde foi transferido depois de um ano nos juniores do Nacional. Destacou-se no SC Braga B onde até 2016, fez 63 jogos e marcou 15 golos, e teve como treinador Abel Ferreira, atual técnico da equipa principal do SC Braga. O já possante avançado foi utilizado apenas numa ocasião na equipa principal do Braga, quando o então treinador Paulo Fonseca o fez alinhar a titular os 90 minutos diante do Belenenses, no Restelo.

Após a cedência mal sucedida ao Sanliufaspor, da Turquia, regressou em janeiro de 2016 a Portugal para representar o Vizela por empréstimo do SC Braga até ao final da época. Em declarações reproduzidas pelo clube vizelense, Carlos Fortes definiu então como meta pessoal “marcar dez golos”. Marcou apenas quatro em 12 jogos, mas na época seguinte, começando de início, já fez dez em 29 partidas, e esteve com a equipa a lutar até à última pela subida à 2ª Liga.

Seleção: Portugal e Cabo Verde

Fortes que tem como ídolo Cristiano Ronaldo e o sonho de jogar na Premier League, tem dupla nacionalidade (portuguesa e cabo-verdiana) e já revelou que não descarta a hipótese de representar os Tubarões Azuis. Inclusive já teve na lista de pré-convocados, mas nunca acabou por ser chamado. Por Portugal, fez parte da seleção portuguesa presente no Torneio de Toulon, em 2014, onde jogou duas partidas e não marcou qualquer golo. Uma seleção que tinha jogadores como Bruno Varela, Rúben Vezo, Tobias Figueiredo, Bruno Fernandes, Iuri Medeiros, Hélder Costa, Sturgeon, João Cancelo, Rúben Semedo, João Teixeira, Ricardo Horta, Alexandre Guedes, entre outros, e que era orientada por Ilídio Vale, o atual adjunto de Fernando Santos na seleção principal.

Carlos Fortes, o avançado dos golos decisivos, a festejar o tento que deu a vitória do Gaz Metan na receção ao Concordia Chiajna, aos 90+2'.  (Foto Facebook Carlos Fortes)