Quinito é nome grande no futebol português. Apesar de afastado do desporto há anos, Quinito é venerado e respeitado por treinadores, jogadores, dirigentes e adeptos.
Aliás, dificilmente se encontra no futebol português uma figura tão consensual. Desta forma, esta biografia de Quinito torna-se obrigatória para enaltecer os feitos de tão afamado treinador.
Biografia de Quinito
Mas quem é Quinito, mestre de treinadores conceituados como Carlos Carvalhal, Jaime Pacheco, Henrique Calisto ou o saudoso Vítor Oliveira?
Joaquim Lucas Duro de Jesus, que no futebol ficou conhecido como Quinito, nasceu a 6 de novembro do ano de 1948 na freguesia de Bocage, em Setúbal.
Quinito queria ser toureiro, mas acabou a jogar futebol no Vitória de Setúbal. Passou por Académica, Belenenses e Racing de Santander (Espanha) antes de terminar a carreira de jogador com a camisola do SC Braga.
Quinito, o treinador de fraque
E foi precisamente no SC Braga, um ano após pendurar as chuteiras, que Quinito se estreou como treinador. Nessa temporada de 1981/82, Quinito leva o seu “Braguinha” à final da Taça de Portugal, com o Sporting de António Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão.
Apesar do SC Braga ser goleado, essa final entrou para a história do futebol português devido ao fraque de Quinito. No Jamor, o treinador apresentou-se com um traje de cerimónia cor de creme, complementado com um laço negro ao pescoço.
Era um fraque, mas popularmente ficou gravada a imagem de “Quinito de smoking branco” no Jamor. Afinal, a final da Taça de Portugal era um evento de gala. “Acredito que também sei beber nesses grandes salões onde se ouve Mozart e Chopin”, explicou-se o técnico, numa das suas muitas frases marcantes.
“Quinas”, um treinador único
Ao longo da carreira, Quinito – ou “Quinas”, como foi apelidado – viria a treinar mais de uma dezena de clubes. E quase sempre no principal escalão do futebol português.
Amante do futebol ofensivo e devoto do golo, o ousado Quinito preferia ganhar por 6-5 do que por 1-0.
“Se alguém marcasse um golo de pontapé de bicicleta, o Quinto invadia o campo, dava uma cambalhota e depois um beijo ao jogador”, recordou Carlos Carvalhal, orientado por “Quinas” no SC Espinho, SC Braga e FC Porto, durante uma entrevista ao portal Tovar FC.
No balneário, o treinador criava uma grande cumplicidade com os jogadores, que o veneravam. E é raro encontrar um jogador que não queira contar uma história com Quinito.
Clubes treinados por Quinito
-
SC Braga: 1981-1982; 1983-1985;
-
Rio Ave: 1982-1983; 1994;
-
Al-Yarmouk (Kuwait): 1985-86;
-
SC Espinho: 1986-1988; 1991-1993;
-
FC Porto: 1988;
-
Marítimo: 1989;
-
Portimonense: 1989-1990;
-
União de Leiria: 1990; 1997;
-
Vitória de Setúbal: 1990-1991; 1995-1996;
-
Vitória SC: 1994/1995; 1997-1998; 1999-2000;
-
Belenenses: 1996;
-
Estrela da Amadora: 2000-2001.
Frases de Quinito
Nessas passagens por vários clubes do principal escalão do futebol português, Quinito disse frases que o tempo gravou na pedra. Tal como a sua imagem de marca, as barbas que resultavam do seu horror aos barbeiros.
“O Quinito tinha a mania de, antes de começar a palestra, cantar um bocadinho, pôr álcool nas mãos e passá-las pela cara, pelas barbas. Tinha muitas coisas destas engraçadas”, revelou Zé Carlos, ex-jogador do Vitória, durante uma entrevista ao Expresso.
O que disse Quinito?
Recorde algumas das frases de Quinito que ficaram para a história do futebol português:
-
“É o Gomes e mais dez”
-
“Vamos pôr a carne toda no assador”
-
“O Quaresma é um supermercado de fintas, dribes e simulações. Nunca vai ser o melhor do Mundo, mas é o melhor da rua dele e isso para mim já basta”
-
“Se tivesse dinheiro, comprava o Pedro Barbosa e punha-o a jogar no meu quintal, só para mim”.
-
“Miúdo [Nuno Espírito Santo, na estreia como guarda-redes do Vitória], põe lá o gel que vais jogar hoje”
O quarto lugar do SC Braga
Ainda hoje, Quinito é reconhecido como um treinador incomparável. Todavia, não é daqueles técnicos com os armários cheios de troféus.
O grande mérito de Quinas é ter uma fórmula mágica que potencia a ambição dentro do contexto da equipa.
Por exemplo, ele foi dos primeiros treinadores do SC Braga a conseguir um quarto lugar no campeonato! Ainda por cima, foi logo na sua época de estreia como treinador. No entanto, é inevitável lembrar que, à data, o “Braguinha” não estava tão próximo dos ‘grandes’ como está atualmente.
Três épocas depois, quando levou o SC Braga de volta às competições europeias e a equipa minhota foi goleada pelo Tottenham, Quinito animou os jogadores com o seu humor inimitável:
“Olhem para ele [Gleen Hoddle, do Tottenham, acompanhado por uma mulher no estacionamento do White Hart Lane]... Alto, louro, uma rapariga linda, um bom carro... Olhem para vocês, baixos, com barba, com namoradas terríveis e maus carros... Queriam ganhar a estes tipos? Perdemos 0-6? Isso é fantástico! ‘Chauffer’, música por favor!”
Principais conquistas de Quinito treinador
-
1981/82: Na estreia como treinador consegue um terceiro lugar para o SC Braga;
-
1986/87: Leva o modesto SC Espinho ao sexto lugar no campeonato;
-
1988/89: É escolhido por Pinto da Costa para suceder a Ivic no comando técnico do FC Porto campeão mundial e vencedor da Supertaça Europeia;
-
1988/89: Lança um jovem desconhecido que se tornaria um dos melhores guarda-redes do mundo, Vítor Baía;
-
1991/92: Vence a II Divisão de Honra (atual II Liga) como técnico do SC Espinho;
-
1994/95: O seu Vitória SC soma exibições de classe, incluindo uma histórica vitória sobre o Benfica em pleno Estádio da Luz por 1-3;
-
1995/96: De ‘regresso a casa’, é vice-campeão da II Divisão de Honra e recoloca o Vitória de Setúbal no principal escalão;
-
1997/98: De novo em Guimarães, bate-se quase até ao final do campeonato com o Benfica pelo segundo lugar, que dava acesso à Liga dos Campeões;
-
1999/2000: Mais uma passagem pelo Vitória SC, onde lança jovens da formação como Fernando Meira, Pedro Mendes, Jairson, Lima, Kipulu e Lixa.
Quinito treinador, dirigente ou radialista?
Em 2001, após rescindir amigavelmente com o Estrela da Amadora, o treinador Quinito optou por novas aventuras, mas sempre ligado ao futebol.
Por essa altura, dedicou às suas escolinhas de formação e lançou o programa ‘Magia da Bola’ na Rádio Voz de Setúbal.
O carinho de Quinito pelo clube do Sado era indesmentível. Além de jogador e técnico, Quinas foi também diretor desportivo do clube e administrador da SAD do Vitória de Setúbal.
Em 2008, Quinito aceitou um convite do amigo José Couceiro e foi adjunto deste no Gaziantepspor, da Turquia. Porém, a aventura foi interrompida, no final do ano seguinte, devido a uma tragédia familiar.
O que é feito do treinador Quinito?
Em 11 de novembro de 2009, o filho de Quinito morre num acidente de viação, no Brasil, onde se encontrava a tratar de assuntos familiares.
A dor foi tanta que Joaquim Lucas Duro de Jesus nunca mais voltou aos relvados. O treinador Quinito culpou-se pelo tempo que não dedicou ao filho. E só anos mais tarde, quando foi homenageado no Fórum de Treinadores de Futebol de 2016, é que conseguiu partilhar publicamente essa dor.
“O futebol saiu-me caro. Estava sempre ocupado, sempre fora de casa. Não conheci verdadeiramente o meu filho. Não ouvi a primeira vez que falou, não vi a primeira vez que andou de bicicleta. Não o abraçava todos os dias, passavam-se meses que não o abraçava e ele agora não está cá. A culpa é do futebol, há um certo divórcio. Sinto uma culpa muito grande em mim”.
O auditório do Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, calou-se num silêncio tão respeitoso quanto ensurdecedor para ouvir o treinador Quinito. No palco, outros treinadores com nome firmado no futebol português – Jaime Pacheco, Henrique Calisto, professor Neca, Domingos Paciência... – procuravam esconder ou disfarçar as lágrimas.
A homenagem a Quinito, em 2016, representou a última despedida de um treinador inimitável. Quinito, o treinador de fato branco no Jamor. Quinito, o treinador que fazia a equipa com “Gomes e mais dez”. Quinito, o treinador que desesperava com o “croissant” Pedro Barbosa sem nunca abdicar dele. Quinito, o treinador que metia “a carne toda no assador”.
Quinito, o treinador que deixou um legado único e irrepetível no futebol português.