Battaglia é reforço do Sporting e, em exclusivo ao Bancada, Facundo Quiroga coloca-o na rota da seleção argentina
Transição: (latim transitio, -onis) subst. fem. Ato ou efeito de transitar. Passagem de um lugar, assunto, tom ou estado para outro.
A carreira de Rodrigo Battaglia, reforço do Sporting, tem sido marcada pelas constantes transições de clube para clube. Falou-se em transições? Falou-se em Battaglia? Diz, quem o conhece bem, que, em campo, a grande virtude do médio argentino é a capacidade de se destacar na transição ofensiva.
Aos 25 anos, Battaglia conta com uma considerável bagagem profissional e, sobretudo, com uma grande variedade de experiências. Apenas no Huracán, no início da carreira, conseguiu fazer mais de dois anos seguidos no mesmo clube, algo que ilustra a fama de homem muito dado a… transições.
Exigir e não ter: o conflito que o fez descer
Até aqui, o percurso de Battaglia teve mais confusões do que glória. Mais insucessos do que sucessos. Mais baixos do que altos.
Em 2011, o então jovem dos arredores de Buenos Aires despontou no Huracán e deu nas vistas no Mundial sub-20, competição em que a Argentina foi eliminada por Portugal, no desempate por pontapés de penálti. No meio campo dessa equipa albiceleste – onde jogavam ainda Alan Ruiz, que agora será companheiro de Battaglia, no Sporting, bem como Juan Iturbe, ex-FC Porto, e Eric Lamela, craque do Tottenham – destacava-se o jovem Battaglia, que começou a abrir os olhos a algumas equipas europeias.
Fez-se o “clique” na cabeça do jogador e começaram as exigências: queria sair para a Europa ou, caso não fosse possível, pretendia um aumento salarial condizente com o estatuto que começava a ganhar. O Huracán não cedeu às exigências e Battaglia acabou por ser “encostado”, até terminar contrato. O Racing Club surgiu na jogada e capturou o médio, mas a aventura em Avellaneda não durou muito. O jogador nunca voltou ao nível apresentado nos primeiros tempos de Huracán e, segundo Victor Blanco, presidente do clube, “disse que não se sentia motivado e solicitou a rescisão”.
Pausa na história. Mas quem é este rapaz, dentro de campo?
Um “Renato” no lugar de Adrien?
“Battaglia é uma espécie de Renato Sanches, menos explosivo, mas de passada mais larga e alta”. As palavras são de um antigo treinador de Battaglia, que assumiu, ao BANCADA, ter recebido uma chamada de Jorge Jesus a perguntar pelo jogador.
Opinião semelhante tem Facundo Quiroga, ex-defesa do Sporting (campeão em 99/00 e 01/02) e ex-companheiro de Battaglia, no Huracán. “O Rodrigo [Battaglia] tem muita chegada à área adversária”, explicou, em declarações exclusivas ao Bancada.
João Sousa, defesa do Moreirense e ex-companheiro do argentino, destaca a principal virtude do jogador: “A transição ofensiva, sem dúvida. Tem uma excelente capacidade de transportar a bola com qualidade”.
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No entanto, nem tudo é um mar de rosas e, quem o elogia, também identifica algumas lacunas. Se Battaglia pode ser o “backup” de Adrien, no Sporting, o perfil físico (Battaglia mede 1,87m, Adrien mede 1,75m), aliado ao estilo algo lento, pode negá-lo. O ex-treinador de Battaglia distingue os dois jogadores: “É muito diferente do Adrien. Não dá à equipa a intensidade defensiva e os equilíbrios que lhe dá o Adrien”.
Mas isto será mesmo assim? Para Facundo Quiroga, não. “Quando joguei com ele ele era um jogador mais ofensivo, mas, com os anos, foi aprendendo a defender”, atirou o ex-defesa.
João Sousa tem opinião semelhante à de Quiroga: “já a tinha mostrado [agressividade e intensidade defensivas] no Moreirense e tem evoluído ainda mais nesse aspeto”.
Questionado sobre se Battaglia pode ser um bom substituto para Adrien, Facundo Quiroga, ex-defesa, jogou… à defesa: “depende do que precisar o treinador. Talvez o Rodrigo [Battaglia] possa dar coisas que o Adrien não dá, tal como o Adrien faz coisas que o Rodrigo não pode fazer”.
Da Argentina para o Minho, do Minho para a Argentina
Lembra-se onde ficámos há pouco? Depois de sair do Huracán, a mal, Battaglia desiludiu no Racing.
Momento Trívia: O que é uma jovem promessa com dificuldades em regressar a um nível elevado? Exato, é isso mesmo: uma excelente oportunidade de negócio. O SC Braga estava atento e “caçou” Rodrigo Battaglia, que chegou ao Minho, em 2014, sob a tutela de Jesualdo Ferreira, primeiro, e Jorge Paixão (que substituiu o anterior técnico), depois.
Em Braga, Battaglia começou por ser aposta de recurso de Jesualdo e, com a chegada de Paixão, também não houve paixão à primeira vista. Apenas na reta final do campeonato o treinador do Braga chamou o jogador à equipa titular.
À vitória (2-0) frente ao Olhanense, com Battaglia no onze, seguiu-se a derrota (1-3) frente ao FC Porto, também com Battaglia na equipa inicial. Na semana seguinte, o jogador argentino sairia do onze. Sairia da ficha de jogo. Sairia dos convocados. Sairia da equipa principal. Após a derrota com o FC Porto, no Municipal de Braga, Battaglia foi jogar para a equipa B dos minhotos e só voltaria à equipa principal para jogar nos últimos minutos das duas jornadas finais.
Facundo Quiroga defende que “o Rodrigo sempre teve uma adaptação muito rápida aos plantéis”, mas o percurso em Braga é a exceção à regra apresentada pelo ex-defesa leonino.
O mau início de percurso de Battaglia, em Braga, levou-o numa curta viagem até Moreira de Cónegos, para ser emprestado. No Moreirense, sob o comando de Miguel Leal, assumiu-se como pedra-chave da equipa nortenha, fazendo 32 jogos em 2014/15. O sucesso do empréstimo levou ao prolongar da aliança minhota e o jogador ficou em Moreira até meio da temporada seguinte. Depois de uma curta – e pouco positiva, mais uma vez – passagem pelo campeonato argentino, Battaglia voltou a ser cedido, desta vez ao Chaves.
Aqui sim, Battaglia catapultou-se e fez jus ao elogio de Quiroga. Não só acompanhou o nível mostrado no Moreirense, como o superou, tornando-se uma das figuras do Chaves de Jorge Simão. Com a ida do técnico para Braga, a meio da temporada, Battaglia regressou ao Minho, assumindo-se como um dos “cativos” do meio campo bracarense. Meio campo a três, umas vezes, e a dois, outras.
Battaglia + 1, como gosta Jesus, ou Battaglia + 2, como gostavam Simão e Leal?
A melhor fase de Battaglia, em Portugal, coincidiu com os momentos em que foi utilizado num meio campo a três. Como jogador mais criativo do triângulo – como aconteceu no Moreirense, quando não havia Vítor Gomes – ou como segundo médio, mas com chegada à área, Battaglia tem feito grande parte do seu percurso como um dos homens de um trio de meio campo. Foi assim no Moreirense, com Miguel Leal, e em Chaves, com Jorge Simão. Só em Braga acabou por ser opção num meio campo a dois, com Assis (que já era o seu “guarda” em Chaves) ou Vukcevic nas suas costas.
No Sporting, caso Jorge Jesus mantenha a aposta no 4x4x2, com dois médios no meio, o jogador argentino deverá ser aposta na posição 8, geralmente ocupada por Adrien. Se não tem a intensidade defensiva que Jesus pede ao jogador dessa posição, tal como disse o ex-treinador de Battaglia, pode ser difícil a adaptação do jogador a uma tarefa de constante vaivém e que pede uma boa interpretação dos momentos e dos locais exatos para pressionar o adversário.
Na linha do que refere Facundo Quiroga – “é um jogador completo, que cumpre defensivamente, mas que pode dar muitas coisas ofensivas” –, João Sousa diz que o argentino “é um jogador completo, que se adapta a qualquer sistema”, embora reconheça que “tem mais liberdade para situações ofensivas” num meio campo a três.
Sporting é montra para Sampaoli ver
Questionado sobre a incapacidade de Battaglia em continuar o percurso conseguido na seleção sub-20, Quiroga explica que vê o Sporting como uma fonte de mudança: “Um dos benefícios do Sporting é ser um clube grande e isso posiciona-te num lugar em que olham muito para ti”.
“A mudança de treinador, com a chegada do Sampaoli [novo selecionador da albiceleste], também pode ser boa”, começou por dizer Quiroga, antes de detalhar: “A seleção está num processo de mudança, a ver jogadores novos (…) há uma camada nova com rapazes que me parece que estão capacitados para jogar na seleção. Entre eles está o Rodrigo”.
“É uma boa oportunidade para ele de ter um bom desempenho e ter uma chance na seleção” concluiu.
Com chantagens e ultimatos, não. Com futebol, sim
Em 2013, Battaglia queria um desafio profissional mais aliciante do que aquele que o Huracán lhe oferecia. Fez “birra”, que não resultou, e acabou por ser posto de lado.
Passados cinco anos, com a transferência para o Sporting, Battaglia conseguiu o tal desafio profissional aliciante. Sem birras, sem ultimatos, com futebol.