Taarabt com três perdas de bola consecutivas até ao lance da expulsão de Helton Leite
Convidado do programa Cultura Tática, da Sport TV, apresentado por António Simões, há duas semanas, Shéu Han revelou um código que existia no balneário do Benfica, nas décadas em que o clube da Luz, com jogadores que ficaram eternizados, conquistava títulos de forma repetida e construía, nas competições europeias, uma reputação de equipa temível, entretanto perdida.
“Uma das ilações que tirávamos na altura, era que, para se ser jogador à Benfica, não podíamos falhar três passes. Tínhamos um código. Se falhássemos três passes seguidos algo não estava bem. Muitas vezes escondíamos do jogo, repensávamos, para voltar ao jogo como deve ser. Era a exigência da equipa”, lembrou a antiga glória encarnada, numa viagem no tempo à mística do clube da Luz.
Mas por que razão a história contada por Shéu ganha atualidade, um dia depois do Benfica perder a Taça de Portugal, caindo aos pés do SC Braga? E qual a ligação a Taarabt, chamado de “mágico” nos comentários dos jogos do clube da Luz e considerado um génio que se perdeu para a equipa B e que foi recuperado por Bruno Lage?
Coloquemos de lado a análise à arbitragem do jogo de ontem. E façamo-lo porque o exercício proposto está a montante de qualquer decisão do juiz. Propomos ao leitor que, através da box do operador televisivo, reveja uma pequena parte do jogo de ontem, entre Benfica e SC Braga, a partir dos 14 minutos e até aos 16 minutos. Um curto, mas esclarecedor exercício, capaz de denunciar as limitações de um elemento que cumpre um papel crucial: o número 8.
Taarabt perde a bola aos 14 minutos, numa tentativa de lançar Pizzi na direita – a bola perde-se pela linha lateral. Do lançamento, o SC Braga cria a primeira grande grande oportunidade, com Abel Ruiz a cruzar, perante a defensiva encarnada desprotegida.
A bola é reposta por Helton Leite, num pontapé de baliza. Aos 15 minutos de jogo, Taarabt perde a bola pela segunda vez, em dois minutos, num passe para Weigl. Duas intervenções, duas perdas. Grimaldo corrige o erro do marroquino, faz a recuperação e endossa a bola de novo para Taarabt, que a volta a perder, desta vez para Al Musrati.
E estava lançada a semente para a jogada que marca o jogo. Após três perdidas de bola de Taarabt em 120 segundos, e em três intervenções consecutivas do marroquino, o SC Braga criou dois lances de perigo, sendo que um deles provoca a expulsão de Helton Leite – lance contestado pelos encarnados, que não compreendem a decisão do árbitro.
E regressemos às palavras de Shéu. Ontem, em dois minutos, Taarabt pisou essa linha vermelha. Perdeu três bolas de forma consecutiva e transformou três lances de potencial perigo da equipa encarnada em oportunidades do adversário – uma delas com efeitos que, porventura, terão determinado a derrota da equipa de Jorge Jesus.
O médio-ofensivo marroquino é extremamente voluntarioso e consegue registos interessantes, em recuperações de bola e ocupação de espaços, mas demonstra grande dificuldade no capítulo do passe de rutura, o que custa inúmeros calafrios à defesa do Benfica. E decide quase sempre mal.
Os registos de Taarabt em termos ofensivos são igualmente confrangedores. Nas últimas três épocas, na I Liga, apontou um golo e fez quatro assistências, nos 3450 minutos em que esteve em campo, segundo dados do Transfermarkt. Números modestos para um jogador que atua naquela posição.
O jogador que foi resgatado por Bruno Lage e integrado no plantel principal continua a dividir os benfiquistas e até os analistas. Há quem aplauda as suas exibições e há também quem considere que não é a solução para um meio-campo que apresenta problemas, desde o início da época.
A estatística dá razão a esta segunda corrente de opinião. E a prestação frente ao SC Braga, ontem, reforça essa corrente, numa noite em que Taarabt saiu pela porta pequena, com um cartão vermelho, após um ato impensado que mostra a falta de lucidez que carateriza o seu futebol.