Prolongamento
António Costa, sócio mas não primeiro-ministro, apoia recandidatura de Vieira
2020-09-12 17:25:00
Governo garante que o apoio é a título pessoal, mas as críticas surgem de todos os quadrantes

O primeiro-ministro, António Costa, deixou momentaneamente as funções para integrar a comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica.

Também Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa (e também do PS), integra a comissão de honra.

Após o Expresso ter avançado com a notícia, o gabinete do primeiro-ministro emitiu uma nota a realçar que o apoio de António Costa a Vieira é a título de sócio do Benfica e não como governante.

De acordo com a TSF, o gabinete de Medina fez o mesmo, garantindo que o apoio não é enquanto autarca, mas como sócio.

As críticas não tardaram a surgir e de todos os quadrantes, incluindo do próprio PS, com várias figuras de peso no partido a lembrar que os socialistas ainda não declararam apoio a Ana Gomes nas eleições presidenciais.

"Há 15 dias, António Costa recomendava que os membros do Governo não se pronunciassem sobre as presidenciais. Hoje, ficou conhecido o seu apoio a Luís Filipe Vieira nas eleições do Benfica. Uma contradição, uma promiscuidade desnecessária e prova de que os políticos não aprendem", sentenciou Pedro Adão e Silva, ex-dirigente nacional do PS e assumido adepto do Benfica.

O embaixador Seixas da Costa referiu que "não havia necessidade" de Costa e Medina se envolverem em polémica.

"Insensatez é a expressão que o grande respeito e consideração que tenho por António Costa e Fernando Medina me leva a utilizar para qualificar a sua decisão de integrarem a comissão de honra de uma polémica lista clubista", comentou.

À direita, o presidente do PSD, Rui Rio, não demorou a lembrar que, enquanto autarca no Porto, sempre procurou distanciar-se do futebol, mesmo sendo conhecida a preferência pelo Boavista.

"Sempre achei mal a mistura entre a política e o futebol profissional. No passado combati isso e afastei-me. Hoje até há problemas de ordem judicial metidos nisso. Nada disto faz sentido. O ideal é quando estamos em cargos políticos no Governo devemo-nos abster" de tomar uma posição, reagiu.

Mais contundente, Miguel Poiares Maduro, ex-dirigente da FIFA e antigo ministro num Governo do PSD, acusou António Costa de agir com "impunidade".

"Lembram-se de um primeiro-ministro que dizia que os ministros se deviam recordar da sua condição mesmo à mesa de um café? Pelos vistos, isso não se aplica em presença de uma bola de futebol... O primeiro-ministro já se acha Dono Disto Tudo para agir com tal impunidade", comentou, no Twitter.

No entanto, Poiares Maduro foi bem mais contundente no Facebook.

"O primeiro-ministro é adepto em on ou em off? Os detentores de cargos públicos devem ter um dever de reserva em relação a aceitar qualquer convite que possa suscitar dúvidas futuras sobre a sua isenção em relação a matérias sobre que possam ter qualquer intervenção, direta ou indireta. Essa reserva é ainda mais indispensável quando se trata de alguém que está com vários processos de investigação criminal em curso", escreveu o ex-dirigente da FIFA e conhecido adepto do Sporting.

Miguel Poiares Maduro defendeu mesmo que o apoio de António Costa a Luís Filipe Vieira pode ser interpretado publicamente como um "condicionamento da justiça" nos casos em que o presidente do Benfica se encontra implicado.

"Mesmo que não seja o seu objetivo, o apoio público e formal do primeiro-ministor pode ser entendido como uma tentativa de condicionamento da justiça. Basta a simples suspeita disso poder ser lido dessa forma para tornar inaceitável a decisão do primeiro-ministro. Isto é tão claro que só se explica por o primeiro-ministro achar que já não é responsável perante ninguém no país. E o país aceita isso?", questionou.

João Paulo Batalha, presidente da Associação Cívica Integridade e Transparência, também foi duro com a manifestação de apoio de António Costa a Vieira.

"Uma 'comissão de honra' vive do estatuto dos seus membros. Luís Filipe Vieira, um bandideco que transpira corrupção por todos os poros, pediu emprestada a honra do Governo e da CML. Costa e Medina ofereceram-lha. A 'honra' de Vieira é a desonra de Portugal", comentou o ativista.