Prolongamento
António Costa "não pediu desculpas, o que dói mais", lamenta médico do São João
2020-06-24 16:10:00
Médico dos Cuidados Intensivos do São João lamenta declaração de António Costa sobre Champions

Roberto Roncon será, porventura, um dos médicos em Portugal que mais doentes com covid-19 tratou até hoje e, numa longa entrevista ao Expresso, detalha como ele e a sua equipa na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João foram trilhando o caminho desde que a pandemia chegou ao país, algo que "não foi fácil no meio de tantos pavões e autoridades de saúde".

Trabalhou durante três meses mas em breve vai ter um curto tempo para a família e para o ténis, sem nunca esquecer o trabalho que fica na ala de cuidados intensivos do hospital portuense, onde é grande a curiosidade com os mais recentes desenvolvimentos científicos que vão chegando a respeito do medicamento dexametasona.

O médico intensivista do Hospital de São João comentou ainda a forma como Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Ferro Rodrigues se manifestaram com a nomeação por parte da UEFA para Portugal acolher a fase final a oito da Champions.

"As três grandes figuras do Estado português reuniram-se para celebrar a vinda de uma competição desportiva para Portugal e o primeiro-ministro disse que era um prémio para os profissionais de saúde. Não foi dito com má fé, mas é de uma infelicidade total. E não pediu desculpas, o que dói mais", lamentou, em entrevista ao Expresso.

Roberto Roncon lembra as altas figuras do Estado que lá por fora, na Alemana e França, por exemplo, os médicos viram premiado o esforço durante a pandemia com recompensas financeiras e na carreira. 

O médico admite que não trabalha no Sistema Nacional de Saúde (SNS) para receber medalhas, mas destaca que o carinho às vezes faz falta.

"O que fiz não foi para ganhar uma medalha, ter mais dinheiro ou para ter um prémio, mas as pessoas também precisam de coisas simbólicas".

Criticando as conferências diárias das autoridades de saúde, o médico do São João aponta ainda críticas a António Costa pela declaração de que a chegada a Portugal da Champions era "um prémio" para o SNS.

"Aquelas conferências de imprensa diárias são calamitosas. E o primeiro-ministro perdeu uma boa oportunidade para estar calado."