Pippo Russo, sociólogo, professor universitário, autor e jornalista, que se dedica a investigar o fenómeno da economia paralela no futebol, concedeu uma entrevista à Rádio Estádio, onde levanta algumas questões pertinentes sobre o futebol português – o poder de Jorge Mendes, os fundos de investimentos, o projeto do Famalicão, a crise do Sporting, a falta de “talento” de Luís Filipe Vieira e os efeitos negativos para o FC Porto da relação estreita entre Pinto da Costa e a Doyen.
Essa entrevista será emitida no sábado, mas alguns excertos já foram divulgados. “Portugal transformou-se numa economia gerida pelos grandes atores: fundos de investimentos, banqueiros e figuras do mundo da alta finança”, aponta, dando como exemplo o caso do Famalicão, um clube que vive numa realidade “artificial”.
E entre esses atores está Jorge Mendes, a “primeira representação” de um futebol português transformado e nas mãos de agentes que “oferecem serviços” ao mundo financeiro, “mas que, pouco a pouco, têm vindo a transformar-se no centro dessa economia”.
Ora, a ligação privilegiada o superempresário com o Benfica será um efeito da capacidade (ou falta dela) de Luís Filipe Vieira dirigir um clube.
“Não tem grande talento como dirigente desportivo, a governar um clube, tomar decisões estratégicas… O Benfica está, neste momento, muito ligado a Jorge Mendes, como nunca fora o FC Porto enquanto esteve ligado a Jorge Mendes”, compara Pippo Russo.
Por culpa desta ligação com o empresário, “o Benfica não tem a autonomia estratégica e de decisão sobre Jorge Mendes”, ao contrário do que sucedia com “o FC Porto nos seus momentos áureos”.
“Luís Filipe Vieira não é comparável a Pinto da Costa. Mesmo com todos os seus defeitos, Pinto da Costa está a um nível superior”, aponta.
“Pinto da Costa é uma grande personagem do futebol português e do futebol europeu, que projetou verdadeiramente o FC Porto de uma dimensão nacional para global e esse é um mérito que ninguém pode negar a Pinto da Costa (…). Mas aquilo que se pode recriminar é a sua relação com os fundos, não somente com Jorge Mendes. Houve um período em que o FC Porto tinha uma relação estreita com a Doyen, que foi ruinosa para o FC Porto”, sustenta o jornalista italiano.
Pippo Russo, que acompanha o futebol português há décadas e tem-se dedicado ao estudo do fenómeno da economia paralela no futebol global, considera que em virtude da grandeza dos maiores clubes portugueses, "não havia necessidade de se relacionarem com os fundos, superagentes ou terceiros".
Ou de se Recentemente, numa crónica publicada no Bancada, considerou que “o império de Jorge Mendes está a entrar em declínio”.
O autor do livro ‘A Orgia do Poder: A História Nunca Contada de Jorge Mendes’ justificou essa teoria: “Foram as revelações do Football Leaks, agora a questão que se coloca aos jogadores agenciados por ele relativamente a evasão fiscal… Tudo isto são sinais de um momento atual em que Jorge Mendes já não é o agente todo poderoso”.
Ao longo de mais de 400 páginas daquele livro, Pippo Russo narra a vida, os negócios e as estratégias do superagente, disseca o percurso de Mendes desde os tempos em que foi gerente de uma discoteca em Caminha até à atualidade.
Jorge Mendes é considerado o maior agente do mundo – tem entre os seus cerca de 80 clientes nomes como os de Cristiano Ronaldo, José Mourinho, James Rodríguez, Di Maria, Diego Costa e Radamel Falcao –, exerce influência nos três grandes em Portugal (e em emblemas como Rio Ave, SC Braga e Vitória de Guimarães) e tem no Manchester United, AS Mónaco e Atlético de Madrid clubes cruciais para o funcionamento do seu sistema.