Portugal
Vários foram os que tentaram, mas só Luís Castro o conseguiu
2018-12-23 22:30:00
Exibição praticamente perfeita do Vitória SC resultou na primeira derrota da Era Keizer em Alvalade.

Vários foram os que tentaram, mas só Luís Castro o conseguiu. Ao oitavo jogo de Sporting com Marcel Keizer ao comando do exército leonino, foi às portas do castelo de Guimarães que o Keizerball esbarrou. Depois de vários jogos sempre a marcar e a marcar muitos, diga-se, frente ao Vitória, nem um e dificilmente podia ter sido de outra forma. O Vitória SC fechou espaços, limitou o Sporting a remates de baixa probabilidade de sucesso e aproveitou um golo de Tozé, aos 26 minutos, para impor a primeira derrota ao Sporting de Keizer. Para o Vitória, são agora onze jogos consecutivos sem qualquer derrota.

Com Mattheus Oliveira suspenso, foi a jogo Pêpê e o Vitória ganhou uma dinâmica que fez a diferença para que o conjunto de Luís Castro conseguisse derrotar Keizer pela primeira vez desde que o holandês chegou ao Sporting. Com o médio emprestado pelo Benfica ao Vitória, o conjunto vimaranense ganhou maior mobilidade e amplitude na cobertura do terreno em fase defensiva e que em conjunto com Davidson, Tozé e Guedes importunaram a primeira fase de construção do Sporting de tal forma que o conjunto de Keizer raramente conseguiu construir de forma organizada ou iniciar com eficácia os seus momentos de transição ofensiva.

Com maior mobilidade na frente, o Vitória anulou os pontos mais fortes do Sporting. E, mesmo quando estes aconteciam, a cobertura dada por Wakaso e André André à sua linha defensiva retirou espaço no último terço ofensivo do Sporting, o tal espaço que tão bem o conjunto leonino tem explorado desde a chegada de Marcel Keizer. Mesmo que o Sporting até conseguisse ter tido mais bola, de início a fim do jogo, a posse do Sporting acabou por ser inofensiva e quase sempre longe do último terço ofensivo. Aos quinze minutos de jogo, por exemplo, o Sporting ainda não tinha conseguido tocar qualquer bola na área do Vitória e à meia hora de jogo apenas 16% desse tempo foi disputado no terço ofensivo do Sporting, enquanto mais do dobro foi disputado no terço defensivo leonino.

Não só porque o Sporting não conseguia levar a bola a terrenos mais adiantados do terreno, mas porque grande parte da posse de bola do Vitória acontecia em terrenos avançados, com o conjunto de Luís Castro a dar uma lição de circulação de bola dentro do bloco adversário. Para isso, muito contribuíram as dez perdas de bola por parte do Sporting no seu meio campo defensivo e ainda que Jovane não tenha contribuído diretamente para isso, quando o extremo do Sporting saiu ao intervalo, somava mais perdas de bola do que toda a restante equipa do Sporting em conjunto. Para que sirva de comparação, e se perceba a influência da pressão feita pelo Vitória em terrenos avançados do jogo, o conjunto de Luís Castro apenas perdeu quatro bolas no seu meio campo em todo o jogo.

Se é sabido que Luís Castro não é um treinador de estratégia, mas um treinador de processo, o Vitória mostrou hoje como se aplica a estratégia ao modelo. Mantendo sempre a identidade e a personalidade que caracterizam a equipa do Vitória de Luís Castro, os vimaranenses estudaram e anularam os pontos fortes do Sporting, acabando por permitir aos leões apenas dois remates enquadrados com a baliza de Douglas e nenhum deles na primeira parte. O Sporting acabou por melhorar na segunda, é certo, mas só o remate de Raphinha aos 48 minutos, saiu na direção da baliza para levar real perigo já que o outro, por Bas Dost, saiu confortavelmente na direção de Douglas.

Tantas vezes elogiados por aquilo que criam com bola, foi sem bola que o Vitória mais se destacou hoje. Ainda assim, não fosse Renan, e o resultado podia bem ter sido mais desnivelado a favor dos vimaranenses. Ao todo, o Vitória acabou por obrigar Renan a seis defesas e muitas delas decisivas e de alto grau de dificuldade. O Vitória rematou mais do que o Sporting, rematou melhor e a capacidade para jogar dentro do bloco adversário, sempre com uma circulação rápida e dinâmica, explorando os três corredores do jogo, permitiu à equipa de Luís Castro terminar o encontro com mais remates dentro da área adversária. As seis defesas de Renan, diga-se, foram mesmo um máximo em toda a jornada da Liga este fim de semana.

Vários foram os que tentaram, mas só Luís Castro o conseguiu. À oitava foi de vez e o Sporting de Keizer foi derrotado. Uma lição para o futuro. Resta saber se para quem quer, ou somente para quem pode. Competentes em todos os setores, uma exibição perfeita.