Portugal
"Vão subir os afilhados?". O "filme" que aí vem se Xistra e Jorge Sousa saírem
2020-03-31 14:20:00
Ex-árbitro Jorge Ferreira teme que tentem um "ano zero" na arbitragem para 'agradar' aos "meninos bonitos"

Antigo árbitro que recentemente acusou o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) de alegadas práticas de corrupção, Jorge Ferreira sustenta que as queixas que apresentou junto das instâncias de justiça portuguesa são para manter e antecipa um "filme" por causa das classificações caso os campeonatos principais não terminem no relvado.

Na longa conversa na 'Quarentena da Bola', Jorge Ferreira falou sobre o impacto que a Covid-19 poderá ter ao nível das promoções e descidas de divisão de árbitros.

"Já estamos a perceber o que vai acontecer com isto. Não vão querer classificações. Querem um ano zero", comentou.

E prosseguiu: "Há aí uns meninos bonitos que não estão muito bem classificados e já estamos a ver o filme que vai acontecer".

Jorge Ferreira crê que "vão usar a tal desculpa do coronavírus para não fazerem as classificações".

"Mas será que não se tem de ter a obrigação de se classificar? É que temos ouvido que querem terminar o campeonato em Portugal. Se terminar o campeonato, têm de fazer as classificações. E arrisco-me aqui a dizer que vamos ter mais problemas nas classificações".

O antigo árbitro, que tem sido um dos rostos mais críticos do atual Conselho de Arbitragem, diz que o estado de emergência "não anula as leis".

"Se fizerem um ano zero e Carlos Xistra e Jorge Sousa saírem, quem subirá? Quem é que subirá agora? Serão os afilhados?", questiona, dizendo que "têm de convocar Tiago Antunes, o árbitro que quiseram aniquilar há uns anos atrás".

"Vão ter de gramar com ele e ele está aí a cantar de assobio", destacou Jorge Ferreira.

Deixando críticas também à forma como o rendimento dos árbitros é avaliado e para dar 'corpo' às queixas que tem apresentado, Jorge Ferreira diz ter tido acesso a uma ata que prova que gente ligada à arbitragem, por exemplo, esteve num mesmo dia em reunião em Oeiras "e ao mesmo tempo" em "Tomar".

"Isto não pode ter acontecido. Aconteceu aqui, em Portugal. Existe um favorecimento pessoal ou quiçá uma falsificação de documentos. Porque eu não posso assinar uma ata em Oeiras e em Tomar no mesmo dia e à mesma hora", afirmou o ex-árbitro, em declarações no seu habitual espaço de comentário sobre o mundo da arbitragem portuguesa na 'Quarentena da Bola'.

O antigo árbitro minhoto salienta ainda que não quer "colocar em causa o bom nome da Federação Portuguesa de Futebol (FPF)" mas lembra que se tratam de alegadas práticas de um órgão que faz parte da FPF.

"Não tenho nada contra a FPF mas a Federação tem de abrir os olhos relativamente a este tipo de situações que estão a acontecer. A única semana em que não cometeram qualquer ilegalidade foi esta porque está tudo em quarentena. E mesmo assim tenho as minhas dúvidas", analisou Jorge Ferreira.

Na conversa com o moderador Rémulo Marques, o antigo árbitro da primeira divisão diz que "alguém tem de fazer alguma coisa e não pode ser só assobiar para o lado".

Insistindo no rendimento dos árbitros, Jorge Ferreira critica o facto de árbitros profissionais receberem um extra por causa de apitarem jogos durante a semana, num valor calculado por perda salarial e criticou a forma como é levada a cabo a formação de árbitros em Portugal, lembrando que a academia de arbitragem "absorve 700 mil euros por época".

"As folhas de papel andam muito caras, por isso é que muita gente anda ao biqueiro ao papel higiénico. Poucos percebem onde estão [700 mil euros]. Por isso fazem testes no Luso e em Tomar e não na academia".

Reiterando que até ao momento não obteve desmentidos pelas queixas que apresentou nas autoridades judiciais e pelas denúncias que tem vindo a fazer, Jorge Ferreira diz que "quem cala consente, já diz o velho ditado".