Portugal
Ter pezinhos não chega, Portugal. Na Bósnia, é preciso ir à guerra
2017-10-10 17:00:00
Seleção sub-21 perdeu com a Bósnia, por 3-1

Foi na Bósnia que começou a Primeira Guerra Mundial e foi na Bósnia que, nesta terça-feira, os portugueses perceberam que para ganhar uma guerra não basta ter atiradores especiais. A seleção portuguesa sub-21 perdeu com a Bósnia, por 3-1, mostrando falta de futebol, limitações em algumas posições-chave e, sobretudo, incapacidade de igualar os níveis de agressividade do adversário. Foram 15 minutos a sério e 75 a dormir e, com isso, aconteceu o improvável: há seis anos que Portugal não perdia em fases de qualificação, neste escalão.

Em 1914, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, em Sarajevo, espoletou o início da Primeira Guerra Mundial. Hoje, em Zenica, o "soninho" de Portugal espoletou numa guerra desigual. Tinha um pelotão de atiradores especiais, mas sonolentos. Do outro lado, havia soldados sem armas de precisão, mas com métodos rústicos e eficazes. E nem vontade e agressividade lhes faltaram.

Rui Jorge apresentou uma equipa focada na mobilidade, sem nenhum avançado puro, algo que, até aqui, tem funcionado nesta equipa. Diogo Jota e Gil Dias jogaram como avançados, num 4x4x2 losango muito híbrido pelas movimentações de Xadas e João Carvalho.

A Bósnia começou a partida a pressionar alto e a tentar condicionar a saída de bola portuguesa, dando a Diogo Jota e Gil Dias o espaço de que precisavam para desequilibrar e decidir com calma. Portugal começou a circular a bola rapidamente, com passes tensos (o relvado nem sempre facilitou as receções), pondo os bósnios a correr. Foi assim que chegou o golo, aos dez minutos, com João Carvalho a poder aproveitar o espaço que teve para rematar colocado, de fora da área.

Jogar mais atrás não significa jogar menos

A partir daqui, tudo mudou. A Bósnia baixou as linhas e provou que jogar mais atrás não significa atacar menos. Percebeu que, frente a uma equipa que apostava na mobilidade e no espaço nas costas da defesa, teria de baixar as linhas, impedindo os “artistas” de explorarem o espaço em zonas ofensivas e de terem tempo para decidir com qualidade. Defendendo mais atrás, os bósnios tiraram os criativos portugueses do jogo. Com menos ideias – o envolvimento ofensivo de Portugal passou demasiado pelos laterais Yuri Ribeiro e Fernando Fonseca, ambos muito limitados tecnicamente –, Portugal deixou de conseguir circular a bola e a Bósnia ia crescendo na agressividade e crescendo no jogo.

Com algumas faltas duras, encostos e pequenos “cheirinhos”, os bósnios foram à guerra e, com bola, começaram a crescer. Depois de um golo anulado, aos 14 minutos, e de um outro lance de perigo, logo a seguir, a Bósnia marcou aos 22 minutos, por Serbecic, num canto.

A partir daqui, tudo “morninho”. Trocas de bola sem verticalização e sem ideias ofensivas, faltando a Portugal um avançado que viesse buscar a bola em apoio frontal, segurando e distribuindo (Gonçalo Paciência poderia ter sido útil neste jogo, mas já não pode jogar pelos sub-21).

Na segunda parte, só deu Bósnia. Jota continuou engolido entre os centrais e Portugal, sempre a tentar atacar pelas alas, abusou dos cruzamentos inúteis. Aos 76 minutos, Yuri Ribeiro ficou a dormir, mostrando que também defensivamente tem limitações preocupantes. Demirovic aproveitou o espaço dado pelo lateral e, num contra-ataque rápido, surgiu a finalizar na cara de Joel Pereira.

As oportunidades de golo da Bósnia não terminaram e, já em tempo de descontos, Menalo aproveitou outra desconcentração de Yuri Ribeiro, bem como a passividade de quase todos os jogadores, para concluir uma jogada confusa na área portuguesa.

Em suma, uma derrota justa, que castiga uma equipa pouco interessada na “guerra” e muito interessada num "soninho bom" e na troca de bola inútil.

Bósnia: Trkulja; Todorovic, Serbecic, Radeljic, Civic; Cavar, Loncar, Gojak; Peco, Jukic e Demirovic.

Portugal: Joel Pereira; Fernando Fonseca, Rúben Dias, Ferro, Yuri Ribeiro; Rúben Neves, Gamboa, João Carvalho; Xadas, Gil Dias e Diogo Jota.