De fora, para dentro, com o objetivo de unir o Leão. Fernando Tavares Pereira apresentou ontem oficialmente a candidatura à presidência do Sporting, tornando-se no segundo homem a tornar oficial a intenção de se tornar o sucessor de Bruno de Carvalho na presidência do clube de Alvalade depois de Frederico Varandas, anterior diretor clínico do Sporting. Ao contrário do adversário já conhecido, Fernando Tavares Pereira nunca teve qualquer cargo dentro do Sporting. Mas quem é, afinal, Fernando Tavares Pereira, o que defende e quem o apoia?
“Unidos venceremos”, é o lema da candidatura de Fernando Tavares Pereira à presidência do Sporting. A segunda a ser apresentada, depois de Frederico Varandas e antes ainda de Pedro Madeira Rodrigues que só hoje apresentou a sua candidatura. Ao contrário do que sucede com Frederico Varandas, nunca Fernando Tavares Pereira esteve por dentro do Sporting e até hoje, nunca quis concorrer às eleições do clube, apesar de ser conotado com a indicação de Jaime Marta Soares para a Assembleia Geral do clube de Alvalade. O momento atual, diz, assim o exigiu. É hora de unir o leão.
“A candidatura tem o nome de Unidos Venceremos porque o Sporting precisa de muita estabilidade, apoio e tranquilidade. A ideia surgiu de uma conversa de amigos, em Lisboa, com Carlos Teixeira, Rui Barreiro, Fernando Fernandes e Marco Chagas. O Sporting precisa de gente nova, de dinamismo. É um clube grande de mais para estar assim. Trata-se de uma candidatura séria, honesta e limpa. Temos de respeitar o passado do Sporting, tal como todos os presidentes do clube. Não vamos estar a atacar as antigas direções nem a atual comissão de gestão. Temos de estar solidários com o trabalho que está a ser feito em prol do Sporting. Esta é uma candidatura limpa que visa devolver ao Sporting tudo aquilo que ele merece. Estarei disponível 24 horas para o clube. Já trabalho em Lisboa por conta própria há 44 anos. Quase que já vivo lá e isso não é problema para mim. Faço 20 mil quilómetros por mês e tenho tempo livre e disponível. Os meus filhos saberão tratar das minhas empresas”, afirmou Tavares Pereira durante a apresentação da candidatura.
Fernando Tavares Pereira, empresário, 62 anos, natural de Touriz, concelho de Tábua. Fernando Tavares Pereira subiu a pulso na vida. Orgulha-se de ter apenas a quarta classe, mas é hoje dono de um império com negócios na metalomecânica, construção civil, inspeção automóvel, agricultura, saúde, turismo e hotelaria que emprega mais de 700 empregados dispersos por 5 países. Para Fernando Tavares Pereira tudo começou aos cinco anos e desde aí nunca mais parou. Um de oito filhos - é o terceiro mais velho -, aos cinco anos já ia com os pais para feiras da região de Tábua vender laranjada, pirolitos - gasosa - e cerveja. “Cada irmão tinha de trabalhar para comer. Com cinco anos eu já ia para a fazenda com os meus pais e os meus irmãos mais velhos, fazíamos a sementeira das batatas, do feijão…”, contou em entrevista ao jornal i. Aos 10 anos, altura em que concluiu a escolaridade primária já trabalhava numa serralharia, dividindo o trabalho na oficina com venda de seguros até que aos 17 anos abriu o primeiro negócio: uma serralharia por conta própria.
“Saíamos de casa às três e meia ou quatro da manhã para abrirmos o açude e havia lá ratos e toupeiras que às vezes nos saíam debaixo dos pés. Éramos pequeninos e tínhamos medo. A água demorava uma hora e meia ou duas horas a chegar ao nosso terreno. Quando saíamos da escola tínhamos de ir trabalhar novamente. O meu pai vendia nas feiras comidas e bebidas e eu com cinco anos no verão também andava a vender laranjadas e pirolitos. Tinha de se trabalhar para comer. Os estudos fazem falta, é óbvio, mas acho que as pessoas deviam ter um bocadinho mais desta aprendizagem do que é a vida familiar, a vida do campo. E tem de se estudar aquilo que se quer fazer e de acordo com a aptidão de cada um. O que temos no país é muita pessoa formada, mas com pouco trabalho, porque a formação não foi escolhida de acordo com as necessidades do país. Antigamente nós tínhamos de ir fazendo aquilo que havia para fazer”, contou na mesma entrevista, garantindo que apesar das dificuldades em que viveu, nunca passou fome. Uma estoicidade que quer agora levar para Alvalade.
“Estabeleci-me como serralheiro em 1974. Eu e o meu irmão fizemos uma pequena empresa familiar, e andámos assim até 1980. Mas em 1975 já vinha para Lisboa trabalhar, fazer obras. Isto é como tudo: terra pequena não faz homem grande, e então nós nunca fomos pessoas de estar na nossa terra só, fomos para todo o país e depois para o estrangeiro. E então em 1975 dediquei-me à metalomecânica, depois em 1980 estabeleci-me sozinho numa empresa de serralharia. A partir daí começámos a fazer outras atividades, desde construção civil, agricultura, vinhos, inspeções de automóveis, turismo…”
“Também fazia as manhãs no restaurante do meu pai, com seis anos, quase todos os dias. No inverno, com frio, faltava a luz e tínhamos de encher os camiões à manivela. Eram vidas difíceis e continuam a ser”, contou Fernando Tavares Pereira.
Uma coisa é certa, Fernando Tavares Pereira não tem medo de meter as mãos na massa: “Quando me casei, passado um tempinho, eu e a minha mulher íamos vender à praça, à Tábua. Vendíamos hortaliça, vendíamos fruta, vendíamos um bocadinho de tudo. Isto em 1980, mais ou menos. Tudo o que se produzia, a gente vendia. Quem tem vergonha anda magro, nós nunca tivemos vergonha e eu sou forte. As pessoas às vezes têm medo de sujar as mãos, não há mecânicos, pedreiros, serralheiros, carpinteiros, ainda que sejam profissões mais bem pagas hoje do que qualquer pessoa que tirou um curso”, afirmou ao jornal i.
Empresário de sucesso - com aspirações políticas à Câmara Municipal de Tábua -, seja Fernando Tavares Pereira confirmado como novo presidente do Sporting nas eleições de dia 8 de setembro, então não será a primeira vez que o empresário assume a presidência de um clube de futebol. Sob a liderança de Tavares Pereira, o Tourizense chegou a saltar das distritais de Coimbra até aos campeonatos nacionais - onde também esteve até à queda na temporada 2016/17. Em 2017/18, o Tourizense regressou à primeira divisão do futebol conimbricense, competição que terminou na sexta posição -, apesar de já não estar ligado ao clube desde 1994.
No Sporting, porém, Tavares Pereira aponta ao título nacional. “Comigo a presidente o Sporting voltará a ser campeão nacional”, garante, admitindo que teria sido mais fácil concorrer às eleições do clube em 2011 e 2013, algo que apesar dos rumores nunca se concretizou. O empresário de Tábua assegurou ainda não estar preocupado com o estado financeiro do Sporting. “Com a auditoria vamos confirmar tudo o que se passa com as contas. Mas eu nunca fugi às minhas responsabilidades e estou pronto para ir à luta”, assegurou. Sobre José Peseiro? “Acredito em que está, depois logo se vê”.
“Esta candidatura vai ser dura, forte, e irá trabalhar para que o Sporting volte aos seus tempos áureos”
Tavares Pereira apresentou a candidatura em Coimbra, perante cem pessoas, um evento que teve tanto de descentralização, como de simbólico. “É o centro de Portugal e é aqui que vamos unir os sportinguistas, dizendo-lhes que o clube está vivo, não só no nosso país, como também em todo o Mundo”, afirmou. Tavares Pereira não quer um Sporting lisboeta, mas, sim, nacional. E, mesmo que os negócios estejam em Tábua, assegura que tudo mudará caso vença as eleições. Entrega as empresas aos filhos e viverá o Sporting 24 horas por dia.
Acima de tudo, Tavares Pereira promete união e tranquilidade de volta ao Sporting. “Para quê dizer mal dos nossos colegas? Para quê falsas promessas? Estamos em guerra? Somos ou não uma família? Vamos ganhar as eleições sem dizer mal de quem quer que seja, mas estamos abertos a receber todos os candidatos. Se tiverem ideias melhores do que as nossas, o que será difícil, vamos aproveitá-las”, confirmou. O homem que defende uma candidatura sem comissão de honra, “porque todos os sócios do Sporting fazem parte dela”.
Tavares Pereira não tem comissão de honra, mas também não concorre às eleições do Sporting isolado ou desapoiado. Entre os apoiantes do empresário de 62 anos estão nomes ligados à política e ao desporto, em particular, Marco Chagas, antigo ciclista, mas também o antigo campeão mundial de kickboxing, Fernando Fernandes, um dos atletas mais consagrados da história das modalidades do Sporting e que serve o clube de Alvalade há cerca de três décadas. “Conheço-o há muitos anos. É honesto e vencedor. Identifico-me com a sua personalidade, tem características parecidas com as minhas tais como a humildade e a serenidade. Vive o Sporting intensamente e gosta de ver o clube vencer. Esta candidatura pode ganhar porque temos mais vontade e determinação. Podemos dar alegrias a todos os sportinguistas com esforço e dedicação. Estou há quase 26 anos no Sporting, nada tenho a provar. Queremos dignificar todos os atletas e dirigentes que ao longo dos ano fizeram história no Sporting”, afirmou o lutador.
Ideias corroboradas por Marco Chagas, também ele uma figura incontornável da história do Sporting. “É um homem que sabe da necessidade que o Sporting tem de tomar novos caminhos, de deixar para trás um passado que não tem sido ao nível do que nos habituámos. É uma pessoa que sempre esteve também ligado a outras modalidades e espero que o Sporting continue a ser, como sempre foi, o clube português mais eclético. Estarei sempre disponível para ajudar o Sporting, mas não faz parte dos meus projetos futuros ter um papel determinante no clube. O Sporting precisa ganhar esta corrida em favor da união”, explicou-se o antigo ciclista.
Mas nem só nomes ligados ao desporto fazem parte dos apoiantes de Tavares Pereira. Também Carlos Teixeira, ex presidente da Câmara Municipal de Loures ou Rui Barreiro, antigo secretário de Estado da Agricultura, fazem parte da lista candidata encabeçada por Fernando Tavares Pereira. Rui Barreiro, que se mostrou um dos mais acérrimos críticos da gestão de Bruno de Carvalho nos últimos tempos. “Esta candidatura vai ser dura, forte, e irá trabalhar para que o Sporting volte aos seus tempos áureos”, garantiu o Tavares Pereira.
Consciente da importância dos núcleos sportinguistas espalhados de Norte a Sul do país, também a eles Fernando Tavares Pereira deixou palavras de relevo, prometendo mudanças na influência dos mesmos no clube caso venha a ser eleito presidente do Sporting. O empresário pretende dar voz aos núcleos por todo o país e estrangeiro, admitindo que o objetivo é que alguns membros dos núcleos possam fazer parte do Conselho Leonino. “O Sporting é de todos. Dos ricos, dos pobres, sejam eles pastores de ovelhas, doutores ou engenheiros”, atirou.
Fernando Tavares Pereira candidata-se à presidência do Sporting por considerar que o Sporting precisa dele, mesmo que isso signifique um forte investimento e sacrifício pessoal e profissional. Fá-lo por amor ao clube e por considerar que é o homem mais capaz para endireitar o Sporting. Por nunca ter estado dentro do clube, diz, tem outra capacidade para colaborar com todos. “A nossa candidatura vai de fora para dentro e não de dentro para fora”. Não há melhor resumo para uma candidatura encabeçada por um homem que disse, um dia, que com a sua pequenez, é maior do que muitos.
