Portugal
"Sporting teve plano para destruir o FC Porto, para levar o coração da equipa"
2021-06-16 22:20:00
Pinto da Costa recorda como "ficou maluco" com Paulo Futre

Pinto da Costa recuou até ao período em que o FC Porto se começou a impor no plano europeu e afirmou que "o Sporting teve um plano para destruir" a equipa que tinha chegado à final da Taça das Taças, em 1984, revelando o papel que Paulo Futre acabou por desempenhar nessa altura conturbada.

No terceiro episódio da série documental 'Ironias do Destino', o presidente dos dragões lembrou que o FC Porto tinha chegado a essa final de Basileia, perdida com a Juventus, porque o meio-campo "era muito forte", com Frasco, Pacheco e Sousa. E surgiu então a referência ao rival de Alvalade.

"O Sporting teve um plano para tentar destruir o FC Porto, que passava por levar os três jogadores do meio-campo, o coração da equipa. Conseguiram levar o Pacheco e o Sousa, porque na altura existia uma lei muito engraçada, o jogador não precisava de acabar contrato, nem havia cláusula de rescisão. Um jogador que invocasse problemas psicológicos podia deixar o clube. Foi assim que fizeram. Conseguiram levar o Pacheco e o Sousa. Só não conseguiram o Frasco, que não aceitou e era uma proposta maior do que a dos outros", recordou Pinto da Costa.

Os sócios do FC Porto pressionaram o presidente a reagir, mas Pinto da Costa recusou ir buscar "jogadores que não precisávamos". Foi então que o líder azul e branco ficou "maluco" com um júnior do Sporting, precisamente numa partida contra os dragões.

"Na segunda parte, entrou um miúdo na equipa do Sporting, que era o Futre, mas eu não sabia quem era, que partiu tudo. Fiquei maluco. Perguntei para mim quem era aquele miúdo e como não jogava. Disseram-me que era o Futre, um rapaz do Montijo, e eu disse que ele ia ser um génio", contou.

De imediato, Pinto da Costa inteirou-se da situação de Futre com o Sporting. "Estava para ser emprestado, a dúvida era se ia para a Académica ou Casa Pia. Então, psicologicamente, não tinha condições para estar no Sporting. Ainda era mais fácil, estava para ser emprestado ao Casa Pia, não tinha condições psicológicas... Assim foi, falámos com ele, foi o Domingos Pereira que foi esperá-lo à porta 10, meteu-o num carro e às 2h00 estava nas Antas a assinar pelo FC Porto", afirmou.

Com a camisola azul e branca, Futre teve um papel determinante na conquista da Taça dos Campeões Europeus em 1987. "Foi um dos maiores génios do futebol português. Hoje, estaria a ser disputado pelos clubes mais poderosos do mundo", elogiou Pinto da Costa.

Três anos antes da final de Viena, que valeu o primeiro troféu internacional do FC Porto, a equipa azul e branca estreou-se em finais europeias ao enfrentar a Juventus em Basileia, em 1984, na Taça das Taças. Uma campanha "inesperada" para muitos, mas que constava já do programa da candidatura de Pinto da Costa à presidência do clube, em 1982.

"A nossa presença foi completamente inesperada, mas no programa que apresentei em 82 tinha um ponto que era chegar a uma final europeia. Eu confiava no treinador e no plantel que estávamos a formar. Ninguém acreditava em nós, era uma grande vantagem. Tinha fé que podíamos ir longe", salientou.

Nessa final, o FC Porto teve o maior contratempo dessa temporada: por motivos de doença, o treinador não esteve presente. "Se Pedroto estivesse lá, tínhamos ganho à Juventus, que era uma equipa muito poderosa", garantiu o presidente dos dragões: "Perdemos apenas por 2-1. Foi aí que a Europa do futebol começou a olhar para o FC Porto com respeito e admiração. A final de 84 foi muito importante".

Sem esconder a saudade e a admiração, Pinto da Costa falou de Pedroto e de como este ajudou a escolher Artur Jorge, o treinador que levaria o FC Porto a sagrar-se campeão europeu em 1987, na final de Viena.

"O Pedroto adoeceu em finais de 83. Pouca gente sabia. A seguir ao jogo com o Penafiel, ele iria a Londres fazer exames médicos, mas nós já sabíamos pelo exame de cá que a doença era muito má. O jogo com o Penafiel foi o último e ele não sabia. O jogo estava difícil e ele meteu o Bobó, que era médio, a ponta de lança. O Bobó marcou e ganhámos 1-0. No final, senti que era o último jogo que fazíamos lado a lado. Dei-lhe um abraço e ele disse-me que parecia que tínhamos ganho o Campeonato do Mundo. Ele não percebeu o que eu estava a sentir", salientou.

Em conversa com Pedroto, já então consciente da gravidade da doença, surgiu o nome de Artur Jorge, que tinha registado uma época infeliz no Portimonense, que desceu de divisão. Pinto da Costa foi almoçar com Artur Jorge em Lisboa, convidando-o a orientar o FC Porto.

"Ele ficou admirado, perguntou-me se estava a falar a sério. Eu disse que o Pedroto avalizou a minha escolha e ele respondeu que eu era um pico de coragem, por levar um treinador que tinha descido de divisão. Eu levei-o pela capacidade que tinha para o futuro", finalizou Pinto da Costa.