Portugal
Sporting, "franceses", criatividade e “velhotes” para o Mundial 2018
2018-05-18 16:00:00
Sabia que o Fofó, o Salgueiros, o Vasco da Gama ou o Ponte Frielas têm influência nesta seleção?

O Sporting é a equipa que mais contribuiu para a seleção nacional. Portugal tem setores envelhecidos, mas, no geral, a renovação tem sido bem feita. Os jogadores nascidos fora de Portugal, juntos, representam uma fatia maior do que qualquer outro distrito do país. São estas as grandes conclusões da análise que fizemos às origens dos 23 convocados de Portugal para o Mundial 2018.

Vamos, primeiro, às origens geográficas dos 23 craques que vão à Rússia.

Os homens dos Alpes e os homens da praia

Como demonstra este mapa, Portugal leva uma grande fatia de jogadores nascidos fora do território nacional. Nada que incomode ou sequer espante particularmente um país de descobrimentos, por um lado, e de emigrantes, por outro. Gelson, William e Pepe são fruto das bravas navegações nacionais, enquanto Anthony Lopes, Guerreiro, Cédric e Adrien são filhos da emigração.

Na zona este de França, lá bem pertinho dos Alpes, nasceu Anthony Lopes. Antes disso e praticamente na mesma latitude – mas do lado oposto do país –, já tinha nascido Adrien Silva. Ambos já respiravam ar puro e comiam papa quando nasceu Raphaël Guerreiro, um rapaz que não nasceu longe da Torre Eiffel. No sul da Alemanha, lá mesmo no sul, perto da Suíça, nasceu Cedric Soares. A sorte é que nasceu em agosto. Em dezembro não seria tão confortável.

Esta gente não nasceu em terras propriamente quentes, ao contrário do angolano William, filho de Luanda, do cabo-verdiano Gelson, um homem da Praia, e do alagoano Pepe, surgido ali a meio caminho entre o Recife e Salvador, bem junto à costa leste brasileira.

Por cá, as metrópoles Lisboa e Porto forneceram boa parte dos jogadores da seleção, mas Mário Rui e Moutinho não deixam que o sul passe em claro: um rapaz de Sines - setubalense, mas quase alentejano - a descer pelo corredor esquerdo e um algarvio a organizar as tropas no meio.

A estrela, todos sabemos, nem sequer vem do continente. É da Madeira que vem uma percentagem elevada das possibilidades de Portugal nesta Mundial.

Uma seleção mais criativa

Comparando esta seleção com a equipa que foi campeã da Europa, em 2016, fica claro que não existiu uma revolução. Existe, sim, uma continuidade evidente e uma tentativa de manter um núcleo-base mais ou menos constante. A maior diferença, dizemos nós, estará na criatividade de alguns jogadores da zona média. 

Despachemos já a baliza e a defesa: Beto entrou por Eduardo e Rúben Dias por Ricardo Carvalho, enquanto, nas laterais, Mário Rui entrou por Eliseu e Ricardo por Vieirinha. Jogadores, talvez, até mais ofensivos e criativos dos que os que foram a França. 

Na frente, consideremos que André Silva substitui Éder (o jogador do AC Milan é mais participativo no jogo, quer em apoio frontal quer a dar soluções em largura e em profundidade), Gelson substitui Rafa e Guedes substitui Nani. Tanto Gelson como Guedes, apesar de fazerem movimentos diferentes de Rafa e Nani, terão, nesta seleção, funções semelhantes. Um a partir da direita e o outro como solução para jogar solto nas costas de Ronaldo, quando se justificar.

As grandes alterações são no meio. É difícil definir quem substitui quem, pelo que olhemos para o conjunto: os Fernandes - Bruno e Manuel - e um dos Silvas - o Bernardo - substituem Danilo, André Gomes e Renato Sanches. É difícil dizer que Fernando Santos, nestas trocas, não ganha criatividade e versatilidade. Manuel Fernandes e Renato até são jogadores semelhantes, mas Bruno Fernandes e Bernardo nada têm que ver com André Gomes e muito menos com Danilo. Isto equivale a dizer que, para o Mundial 2018, Fernando Santos leva apenas um médio defensivo puro, confiando na capacidade de Adrien e até Moutinho poderem, se for o caso, ser backup de William, podendo, até, jogar juntos no duo central.

Velhos são os trapos, mas…

Sim, o setor defensivo de Portugal está envelhecido e carece de uma renovação urgente. Ainda assim, olhando para toda a seleção, é justo dizer que a renovação, nos últimos anos, tem sido bem feita. Pelo menos é o que diz a análise à média de idades. Neste século, Portugal andou sempre entre os 27 e os 28 anos de média e, nas últimas competições, até tem conseguido baixar (ainda que muito ligeiramente) esse valor.

Faça-se justiça: a defesa, no entanto, pode vir a dar problemas. Numa comparação entre setores, fica claro que é a zona defensiva da seleção que impede a média de idades de ser mais baixa.

Sporting é quem mais fornece

O Sporting é, de longe, a equipa que mais contribuiu para formar jogadores para a seleção nacional. É, também, a equipa que, atualmente, mais contribui para fornecer Fernando Santos (quatro jogadores). O caso mais complicado de catalogar é o de Mário Rui, que foi contabilizado no Sporting, apesar de ter feito o final da formação no Benfica. A título de curiosidade, importa deixar referência a outros clubes que colaboraram para formar estes 23. A saber:

O castiço Fofó ajudou com Ricardo e Gelson, enquanto, na Madeira, Nacional e Andorinha ainda chegaram a beneficiar de um jovem Ronaldo. Vasco da Gama de Sines recebeu os primeiros passos de Mário Rui e o Ponte Frielas os de Beto. Sacavenense e Penafiel ajudaram com José Fonte. Estrela da Amadora com Rúben Dias, enquanto o FC Porto deu uma ajudinha com Bruno Alves e João Mário. Infesta e Pasteleira chegaram a albergar Bruno Fernandes, enquanto Salgueiros e Boavista fizeram-no com André Silva. Em Algueirão e Mira-Sintra chegou a haver um pequeno William, enquanto Quaresma fez truques no Domingos Sávio. Adrien fez uma perninha no ARC Paçô e no Bordéus.