Mais do que a primeira mão dos 16-avos-de-final da Liga Europa, a visita do Sporting a Astana representa uma exigente tarefa a nível físico. Jogar num piso sintético é um dos maiores desafios e até levou Jorge Jesus a deixar Mathieu ficar em Lisboa para não arriscar qualquer lesão, mas há mais: a longa viagem, a rondar as oito horas entre Lisboa e Astana (e outra quantia igual no regresso), e o fuso horário também estão em boa posição para deixar a equipa incomodada.
Comecemos pelo piso sintético. Não é a primeira vez que o Sporting joga neste tipo de relva em 2017/18. Já o fez em Oleiros, para a Taça de Portugal, mas a exigência do adversário era outra. Agora, a competição é a Liga Europa e o oponente tem, em teoria, mais qualidade que a ARC Oleiros. Quem percebe de preparação física reconhece que a diferença entre sintético e relva natural é muita e notória.
"Eu treino uma equipa que joga, em casa, num relvado e, fora, apanha muitos sintéticos. Mas, só tendo um campo relvado disponível, treinamos muitas vezes em sintético para o poupar. O que eu vejo é que é muito mais desgastante jogar na relva do que no sintético. Em termos físicos é uma diferença abismal. Os sintéticos são muito mais violentos para o organismo é a nível muscular, de articulações, de lesões. O risco de lesão é muito mais elevado no sintético", começou por assegurar ao Bancada Fernando Viana, preparador físico do SC Vianense.
Mas, afinal, porque é que os sintéticos aumentam a probabilidade de lesão em comparação com a relva natural? Tudo tem a ver com a maior agressividade com que se joga num sintético porque o piso é mais duro e, em consequência, mais propício a lesões em várias partes do corpo. "O piso é muito mais duro que o do relvado natural, o que obriga a adaptações fisiológicas naturais do controlo postural e obriga a que haja, nos diversos lances de travagens e mudanças de direção, uma maior agressividade de impacto a nível do sintético em relação ao relvado. Isto origina que haja, a nível de articulações do joelho, de tibiotársica e de coluna, impactos muito agressivos que podem levar a que algum problema de lesão surja muito mais rapidamente do que se for num relvado natural", explicou Vítor Pimenta, fisioterapeuta e recuperador físico do CD Aves, ao Bancada.
Também André Gomes, preparador físico do 1º de Dezembro, considera que a dureza do piso de um sintético é muito superior à de um relvado natural. Ao Bancada, o especialista frisou o mais importante a reter. "Há inúmeras adaptações necessárias. A preocupação com a probabilidade de lesões, tornozelos, joelhos e coluna, devido ao piso ser mais duro e os impactos no solo serem mais agressivos do que no relvado natural. As travagens, mudanças de direção e recepções ao solo após salto são situações em que há sempre a preocupação dos jogadores e onde podemos ter alguns cuidados. A nível técnico, a velocidade da bola é diferente e pode saltar mais, por exemplo. Tudo dependerá também do sintético em que se joga, porque ha sintéticos com qualidade superior e muito próximos do relvado natural." Tanto Vítor Pimenta como André Gomes destacaram o tipo de calçado específico como a medida mais importante para preparar os jogadores para o sintético.
Sobre a alegada decisão de Jorge Jesus e da restante equipa técnica em não adaptar os jogadores ao fuso horário de Astana (mais seis horas que em Portugal continental) para que a troca de sonos não exista "Concordo plenamente porque é uma coisa muito curta, não é como um Mundial ou um Europeu em que uma pessoa está lá duas, três, quatro semanas e a equipa tem de se adaptar. Numa coisa mais curta, o objetivo é tentar minimizar o risco do organismo, ou seja, nem sequer mexer em nada em relação às refeições, ao descanso e manter tudo na mesma. É um espaço de 36, 48 horas. Não passa disso."
O pior é mesmo a viagem de avião. São cerca de oito horas já realizadas pela equipa leonina e que serão repetidas após a partida. Não só são oito horas 'perdidas' em que o conjunto verde e branco poderia estar a preparar a visita ao CD Tondela, já na próxima segunda-feira, como deixam mazelas no corpo dos atletas. "A nível fisiológico há logo uma alteração ao estar oito horas fechado num avião em que a posição é quase sempre a mesma. A alimentação vai ser diferente porque se está num país diferente, embora levem o próprio cozinheiro. Temos ainda o frio existente lá, embora o jogo seja realizado num recinto fechado. (...) São coisas de que não se pode fugir mas que, se se prevenir, a diferença não vai ser tão acentuada na hora do jogo", realçou Vítor Pimenta.
E depois do jogo? Os adeptos do Sporting não precisam de se preocupar, pois, de acordo com o fisioterapeuta e recuperador físico do CD Aves, os profissionais do clube de Alvalade responsáveis por colocar os jogadores prontos para mais uma batalha estão "ao nível dos melhores do mundo".
"O Sporting está muito bem servido por um fantástico departamento médico e por um excelente departamento de recuperação. A recuperação vai visar todas as vertentes, quer de nutrição, quer de descanso e quer de treino de recuperação ativa. Mais importante do que treinar, nos próximos dias vai ser importante recuperar para que o Sporting, na segunda-feira, esteja mais bem preparado para o jogo com o CD Tondela. Mas o Sporting está servido por um grandioso departamento médico e um departamento de recuperação ao nível dos melhores do mundo, pelo que não terá grandes problemas nessa recuperação", assegurou.