Técnico português está perto de se tornar o novo técnico do FC Porto, semanas após ter renovado com o Nantes
O Nantes era um clube enterrado na classificação da Ligue 1 quando Sérgio Conceição chegou ao clube. Embarcado na pior sequência de resultados da temporada, o Nantes seguia numa série de sete jogos sem vencer, cinco deles derrotas, resultados que deixavam o clube bem dentro da luta pela manutenção e com a despromoção à Ligue 2 bem presente. À 15ª jornada, quando René Girard abandona o clube francês após uma humilhação de seis zero perante Lyon, em casa, o Nantes era já 16º lugar. Pior ficou na jornada seguinte. Ainda antes de Sérgio Conceição tomar conta da direção técnica do clube, o Nantes perde em casa do Guingamp por 2-0 e é com a equipa estabelecida na 19ª e penúltima posição do campeonato francês que Sérgio Conceição entra em cena. Em poucas semanas, porém, Conceição tira o Nantes do fundo da tabela e coloca o clube a sonhar com a Liga Europa.
Se até Janeiro de 2017 o Nantes apenas vencera apenas três jogos e empatara outros quatro, as primeiras semanas de Sérgio Conceição por la Beaujoire ditariam um rumo totalmente diferente para os canários. Conceição consegue resultados imediatos e inicia a sua carreira ao serviço do Nantes com quatro vitórias consecutivas. Mais, lá está, que aquelas que o Nantes conseguira em meia temporada. Vitórias que permitiam ao Nantes trepar a tabela classificativa e estabelecer-se desde logo na 12ª posição. A primeira derrota de Conceição surge ao quinto jogo mas poucos esperariam que o Nantes conseguisse melhor. Afinal, o adversário era o poderoso PSG. O Nantes iniciava, porém, a primeira contrariedade de Conceição por França e os canários só voltariam a vencer quatro jogos depois.
Conceição havia estabilizado a equipa, ainda assim. As derrotas do Nantes já não eram regulares e aconteciam em situações pontuais. Por duas vezes, o técnico português lidera a equipa em séries de quatro jogos sem perder, arrancando resultados interessantes como uma vitória frente ao Marselha ou empates perante Nice ou Saint-Ètienne, clubes mais bem classificados que os canários. Este seria, porém, o calcanhar de Aquiles de Conceição em Nantes: após escalar posições na tabela, levando de vencida equipas de nível similar ou inferior, perante conjuntos de qualidade ligeiramente ou significativamente superior, a equipa não se excedeu. Coesa, sólida, competente, sim, mas não excedente. Derrotas com PSG, Mónaco, Bordéus, Lyon e Lille (ainda que pior classificados que os canários), bem como empates com Rennes e, lá está, Nice e Saint-Ètienne, são disso exemplo.
“Os jogadores têm de aceitar a exigência, é normal, são profissionais”. Sérgio Conceição chegava a Nantes apelando à concentração e à necessidade dos seus jogadores respeitarem a história e o palmarés do clube. Jogar no Nantes, entendia, pedia mais do que aquilo que os jogadores vinham mostrando. Conseguiu-o e o seu sucesso não passou despercebido, sequer, ao selecionador francês. Dizia, em Abril, Didier Deschamps, que Sérgio Conceição era, como treinador, uma imagem fiel da que deixara enquanto jogador: “Era um jogador que deixava a sua personalidade e qualidades em campo”, acrescentando: “continua assim enquanto treinador e os resultados dão-lhe razão. Sabe o que faz e não vou ser eu a discuti-las. A partir do momento em que os resultados estão lá e que o ambiente no estádio voltou a ser o que era, creio que as coisas estão bem”.
De França chegam relatos que o impacto de Conceição em Nantes não foi somente desportivo. O técnico português instituiu, por exemplo, a regra de que, no clube, os jogadores tomariam o pequeno almoço juntos, obrigando-os a chegar mais cedo aos treinos de forma a unir a equipa e estabelecer uma mentalidade coletiva que acabaria a fazer a diferença dentro de campo. Certo, é que não só Conceição agarrou a equipa, como se estabeleceu como um treinador acarinhado e respeitado, terminando a temporada aos ombros dos seus próprios atletas. “Na primeira conversa que tive com o Sérgio senti que ele não tinha medo de ninguém”, Conceição conquistava até o ambicioso presidente do Nantes que, nos vários meses e anos ao comando do Nantes, contratou e despediu diversos treinadores.
Um respeito tão grande que Waldemar Kita ofereceu mesmo a renovação ao técnico português já em Abril deste ano. Conceição elogiara a ambição do clube e aceitara-a, deixando agora Kita e a massa adepta do clube em desespero pela sua iminente saída. O técnico mais importante do clube nos últimos anos – que não têm sido saudáveis para o Nantes -, está de saída e o anúncio como novo técnico do FC Porto parece estar por horas. Uma atitude que não passou despercebida, sequer, ao antigo internacional francês Christophe Dugarry: “Ele acabou de renovar. Acho que isto não é correto. Não será estranho, agora, que os jogadores entrem no mesmo tipo de chantagem. Passa uma mensagem errada aos jogadores, não é uma forma correta de comportar-se. Isto pode estragar a próxima época”, vincou, acrescentando que o Nantes não terá, ainda assim, alternativa a deixar sair o técnico: “Não dá para manter alguém contra a sua vontade. Mas deve exigir uma boa indemnização, porque deixa muita coisa em questão”
O fim do 4-3-3 histórico e o “olá” definitivo ao 4-4-2
A chegada de Soares ao FC Porto, em Janeiro deste ano, colocou um ponto e vírgula no histórico percurso da equipa azul e branca jogando em 4-3-3. O sistema sempre pareceu fazer parte do ADN portista mas a chegada do avançado brasileiro, face à afirmação de André Silva na principal equipa do Porto, obrigou Nuno Espírito Santo a substituir o 4-3-3 pelo 4-4-2, sistema que parece agora vir a fazer, cada vez mais, parte do futuro da equipa do Dragão. Tal não preocupa Moutinho, porém. O antigo capitão do FC Porto é perentório. Após o encontro da seleção nacional perante o Chipre, Moutinho abordou a possível contratação de Conceição e vaticinou sucesso ao ainda técnico do Nantes: “Fez um excelente trabalho no Nantes. Conseguiu recuperar a equipa, a praticar um bom futebol. Caso se venha a confirmar, é uma excelente aposta”
Acima de tudo, Conceição privilegia a mentalidade face ao sistema. Ao Ouest France, este ano, confessou: “Gosto muito do futebol realista, pragmático, onde procuramos rapidamente a baliza adversária. O momento mais difícil no futebol é quando temos a bola e estamos a atacar. Insisto sempre neste ponto com as equipas com quem trabalho. Não é apenas o confronto entre o jogo de posse de bola e o de transição. O importante é saber o que fazer quando perdemos a bola”, fazendo o paralelismo com o estilo de futebol praticado pelo Mónaco de Leonardo Jardim: “O Leonardo Jardim acredita que é melhor ganhar por 4-3, já eu prefiro ganhar por 1-0. Estou completamente convencido disso. Se sofreres três golos e não marcares quatro, é uma porcaria. O único resultado que assegura pontos é não sofrer golos”, algo que, explica, deriva do facto de até hoje ter treinado equipas de menor qualidade individual, bem como equipas que oferecem poucas alternativas para que enverede por um modelo mais complexo e ofensivo. “Digo isto talvez porque treinei equipas pequenas. Já ele, no Mónaco, tem mais opções”, desabafou.
No FC Porto, porém, Sérgio Conceição deverá ter essas opções. Pela primeira vez, Sérgio Conceição treinará uma equipa verdadeiramente grande e uma equipa de topo na sua competição, ainda que possa vir a tomar conta de um FC Porto a atravessar uma crise desportiva e financeira que obrigará o clube a executar mais de 100 milhões de euros em vendas durante o defeso de forma a cumprir com as exigências do Fair Play financeiro da UEFA. Ao longo da carreira Conceição habituou os adeptos dos clubes que liderou a conseguir resultados com poucas opções e mesmo no Porto poderá não as ter. No final da época, caso se efetive a contratação do antigo extremo do clube se perceberá: o que é mais importante afinal? O sistema, a tática, a profundidade de opções ou, isto do futebol, é afinal um jogo de mentalidade e motivação.