Portugal
"Se Vieira não pode ir aos jogos e está preocupado com o BES tem de abdicar"
2021-05-08 14:45:00
Adão e Silva critica política desportiva do Benfica baseada "em oportunidades e ideias de negócio"

Pedro Adão e Silva, que nas últimas eleições do Benfica foi candidato à vice-presidência, na lista de Noronha Lopes, desferiu um violento ataque contra Luís Filipe Vieira, endurecendo o discurso da “falta de liderança” que tem vindo a defender recentemente. A propósito da ausência de Vieira no clássico com o FC Porto, na quinta-feira, para a 31.ª jornada da I Liga, o professor de ciência política lembrou que o dirigente desportivo vai ser ouvido no Parlamento na segunda-feira, no âmbito do inquérito ao caso BES, para exigir que Vieira se demita.

Em alguma imprensa, surgiram notícias de que Vieira faltou ao clássico com o FC Porto para se ‘preparar’ para essa audição. “A questão da liderança merece reflexão. Não consigo compreender como é que o presidente do Benfica não está, mais uma vez, no jogo [com o FC Porto]. É faltar ao respeito aos benfiquistas. Essa questão da liderança sente-se, perpassa pelo clube de cima a baixo. Se está preocupado com a ida à comissão parlamentar de inquérito na segunda-feira sobre a resolução do Banco Espírito Santo e do Novo Banco... ”, começou por afirmar Adão e Silva.

“Como benfiquista, estou preocupadíssimo com isso, porque o Benfica tem de ser protegido. O Benfica não pode ser envolvido nesta vergonha e neste caso de corrupção moral que é o processo de resolução do BES, o Benfica não merece isto. Se Luís Filipe Vieira não pode ir aos jogos e está preocupado com a comissão parlamentar de inquérito do BES tem uma solução, que é abdicar. Se não pode liderar, tem de abdicar. Porque a ausência de liderança no Benfica começa a ser gritante e sente-se de cima a baixo”, insistiu, num comentário para a Sport TV, ainda no rescaldo do recente clássico da 31.ª jornada.

"Segunda-feira, os benfiquistas vão passar um enxovalho. O Benfica não devia estar envolvido nesta pouca vergonha das ligações do presidente à dívida do BES", prosseguiu: "Dever dinheiro e as coisas correrem mal não envergonha ninguém, o problema está na confusão e nos negócios misturados e trocados que ainda para mais contaminam o Benfica. Basta recordar o tema da OPA, que tresanda a BES".

Mesmo que o Benfica vença a Taça de Portugal, a época de 2020/21 será “o maior fracasso desportivo de que há memória em Portugal”, segundo o conhecido adepto das águias. “Tendo em conta o que foi o investimento, 100 milhões de euros em contraciclo, quando os clubes estão todos em recuo, com a aposta num treinador que é certamente dos mais caros do mundo, pelo que custa em massa salarial e pelo que significou, essa aposta desportiva fracassou”, sustentou.

Na memória dos adeptos está o recente empate com o FC Porto, que manteve o Benfica com quatro pontos de atraso para o rival e a ver esfumar-se o objetivo do acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas Adão e Silva não quer que se esqueça os insucessos da época, para que não se repitam: “O Benfica foi eliminado na pré-eliminatória da Champions pelo PAOK (pelo PAOK...), faz uma campanha medíocre na Liga Europa (se tivesse feito uma fase de grupos melhor não se tinha cruzado com o Arsenal), perde a Taça da Liga, perde a Supertaça para o FC Porto e vai ficar no terceiro lugar”.

O ex-candidato à vice-presidência salientou que, a nível desportivo, os adeptos não sabem a quem exigir responsabilidades, pois não se sabe “quem é o responsável pelo futebol do Benfica”, mesmo em “coisas simples”. E exemplificou: “Quem é representa o Benfica nas reuniões da Liga? O Tiago Pinto acho que já não é, porque está em Roma. Julgo que o Paulo Gonçalves também não é. Quem é? É o Rui Costa que vai às reuniões? Acho que não. É o Luís Filipe Vieira que vai às reuniões ou é o Jorge Jesus? Ou é o Luisão? Quem é o líder, quem é o responsável pela gestão desportiva do Benfica? Não sei”.

Insistindo que “esta ausência de liderança sente-se em campo”, Adão e Silva juntou à “ausência de liderança desportiva” a falta de uma estratégia desportiva, acusando a direção de Vieira de estar mais preocupada com os negócios do que em lutar por títulos. “A raiz do problema é a relação entre a política de contratações e uma ideia de jogo”, explicou: “Parece que o Benfica contrata, e contratou muito outra vez esta época, com base em oportunidades e ideias de negócio e não para corresponder à ideia de jogo que quer ter em campo”.

Citando alguns históricos do Benfica, como Bento, Humberto Coelho, Shéu, Nené, Diamantino, Vítor Paneira, Carlos Manuel “e até o Luisão, mais recentemente”, Adão e Silva carregou novamente nas repetidas ausências de Vieira nos jogos da equipa encarnada. “Quando olhava para esses jogadores, via que viviam o jogo como eu, quando perdiam ou empatavam tinham dificuldade em dormir. Agora sinto que não há ali ninguém com muita vontade de ganhar. Se o presidente não está lá, como é que se pode querer que os jogadores tenham vontade de ganhar? Falta ali Benfica, de cima a baixo”, reforçou

Para fechar o comentário, Pedro Adão e Silva considerou que as críticas do Benfica à arbitragem de Artur Soares Dias no recente clássico serviram apenas para desresponsabilizar a direção de Vieira do insucesso no campeonato.  “Se olharmos para esta questão como sendo fruto do acaso, do jogo [com o FC Porto] ou da covid-19 estamos a cometer um enorme erro. É meio caminho andado para virmos a repetir o problema. E vejo isso com muita preocupação. É fundamental que isto não se repita. Podemos agora dizer que foi o Artur Soares Dias que não expulsou o Pepe... Continuem por aí que para o ano estaremos na mesma situação”, finalizou.