Portugal
"Se o 25 de Abril tem sido dois anos mais tarde, o Sporting disparava"
2020-05-28 16:40:00
Ex-dirigente verde e branco entende que é preciso pensar o modelo de gestão do Sporting

Dias Ferreira não tem dúvidas de que nas décadas passadas, o Sporting teve dirigentes com visão pioneira, dando o exemplo de João Rocha na forma como queria gerir o futebol verde branco.

De resto, o ex-presidente da Mesa da Assembleia-Geral verde e branca entende que "se o 25 de Abril tem sido dois anos mais tarde, o Sporting disparava e ninguém o agarrava".

Comentando a forma como os clubes se gerem atualmente com recurso a sociedades anónimas desportivas, e numa altura em que Frederico Varandas é questionado e a sua gestão, Dias Ferreira explica a evolução deste modelo ao longo dos anos.

"Houve sempre um medo e uma falta de evolução e mentalidade para evoluir. Percebo que os sócios tenham algum direito mas o futebol não é dos sócios. É por isso que Inglaterra tem o peso que tem. Ser adepto é uma coisa emocional. O sócio é uma relação jurídica".

O ex-dirigente do Sporting diz que, no caso leonino, não se pode estar a trabalhar com um mercado vasto, de cerca de três milhões de adeptos, "e serem os sócios, alguns dos quais que só fazem barulho, a comandar a SAD."

Em declarações na Tertúlia dos Fenómenos da Bola, no Facebook, o ex-dirigente aponta para a forma como clubes como o Real Madrid e o Barcelona têm as suas assembleias nas quais os seus sócios "nem querem saber disso".

Dias Ferreira espera que o Sporting pense o que quer rapidamente porque qualquer dia "qualquer chinês que tenha lojas em Lisboa pode tomar conta daquilo".

"Há chineses sérios e outros que não são como há portugueses. Há chineses com covid e outros sem covid", referiu, deixando claro com esta frase que os associados do leão não podem temer a entrada de capital estrangeiro na SAD.

"Pensar não faz mal. Finalmente estamos a discutir o clube", diz, apelando a que se mude a "mentalidade".

Aconselhando a Federação Portuguesa de Futebol a criar cursos para os dirigentes "saberem o que se está a passar", Dias Ferreira explicou como em países como Itália os clubes têm comités de controlo dentro dos emblemas que funcionam como empresas.

Sobre a organização das estruturas do futebol, Dias Ferreira referiu ainda que não consegue compreender como é que alguns órgãos do futebol funcionam e deu o exemplo do setor da arbitragem onde "é sempre a rolar" entre Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) e Conselho de Arbitragem (CA).

"Portugal tem no Conselho de Arbitragem uma coisa que é absolutamente inédita e inacreditável", afirmou, em declarações na Tertúlia dos Fenómenos da Bola, no Facebook, lamentando que quem faça parte do CA seja a associação de classe.

"Como é que uma associação de classe controla? O que é presidente da associação de seguida vai para presidente da arbitragem. E depois o presidente sai e vai para a assembleia ou para outra coisa qualquer. É sempre a rolar. A APAF é que indica isto. Em lado nenhum do mundo se vê isto".

Dias Ferreira criticou ainda que os contratos coletivos assinados pela Liga dizendo que lhe causa "cócegas" e são "ilegais".

"A Liga não é uma associação de empregadores", explicou o jurista, dizendo que depois isto é "um sistema desorganizado", lamentando que "é difícil modificar os interesses instalados".