Portugal
"Eanes era Presidente, não andava às selfies e a fazer as vontades ao Governo"
2021-06-14 22:20:00
Pinto da Costa deixa 'farpa' a Marcelo Rebelo de Sousa no primeiro episódio da série 'Ironias do Destino'

O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, deixou uma crítica velada a Marcelo Rebelo de Sousa por "fazer as vontades" ao Governo, aproveitando um momento em que falava da amizade com Ramalho Eanes, durante o primeiro episódio da série 'Ironias do Destino'.

"Ramalho Eanes era realmente o Presidente de todos os portugueses e a voz forte que era o garante da democracia em Portugal, não era de andar a tirar selfies, a dar beijinhos e a fazer as vontades do Governo. Tinha perfil de estadista, foi 'o' Presidente. Tenho por ele muita amizade, respeito e admiração. É o português número um desde o 25 de Abril. É pena que não tenha maior atividade, porque está perfeitamente lúcido e com toda a pujança com que o conheci", disse Pinto da Costa, durante o programa emitido pelo Porto Canal.

Recorde-se que, nos últimos meses, o dirigente dos dragões tem criticado duramente o Governo de António Costa pela forma como tem gerido a proibição de adeptos nos recintos desportivos, no âmbito das medidas de combate à pandemia de covid-19. Com esta alusão velada a Marcelo, Pinto da Costa deu a entender que responsabiliza o atual Presidente da República por ser conivente com essa e outras decisões do Governo.

Ficou, também, uma crítica aos bancos, depois de várias ocasiões em que o FC Porto se queixou de dificuldades de financiamento na banca nacional. Ao explicar como o clube angariou os "20 mil contos" para o regresso de Fernando Gomes, uma das promessas eleitorais, Pinto da Costa referiu como um amigo, "administrador do Banco Português do Atlântico", garantiu a verba mediante "uma livrança [garantia] assinada pelo Manuel Couto", 

"Nessa altura, os bancos financiavam com segurança quem precisava. Não é como agora, que somos nós que financiamos os bancos, com os subsídios que o Governo dá. Nessa altura, os bancos estavam ao serviço do povo", comentou o líder portista.

Fernando Gomes tinha assinado pelo Gijón em 1980, assim que Pinto da Costa deixou o clube, numa altura de "muita contestação" interna. "Tínhamos duas promessas de regresso na campanha [eleitoral de 1982], o Pedroto, que estava garantido porque tinha um acordo com ele, e o Fernando Gomes. Mal eu saí de diretor venderam o Fernando Gomes, não tive voto na matéria", recordou. Em julho de 1982, já com Pinto da Costa na presidência dos dragões, o goleador regressou ao FC Porto.

As declarações foram feitas no primeiro episódio de 'Ironias do Destino', programa cujo título foi inspirado na mãe de Pinto da Costa, numa conversa que ocorreu antes do dirigente avançar com a primeira candidatura à liderança do FC Porto, em 1982, num almoço realizado a um sábado.

"Antes de eu falar no assunto, ela perguntou-me se eu ia para a Direção do FC Porto. Tinha lido no Comércio do Porto e ouvido na Bola Branca [da Rádio Renascença]. Quando eu pensava que ela me ia dizer para não ser maluco, respondeu-me que eu devia ir, que era o meu destino, porque eu gostava muito do FC Porto. Eu até lhe disse, ‘Ó mãe, isso é uma ironia do destino’. A pessoa que eu pensava que ia ser decisiva para não ir foi decisiva para eu ir", contou Pinto da Costa.