Nas extensões do futebol há campos, cidades, vilas e aldeias, umas com mais habitantes que outras, por onde a bola percorre os seus caminhos. Há prédios a fazer de bancada, árvores que adornam recintos desportivos e casas, umas mais dispersas que outras. Nas extensões do futebol há campos, cidades, vilas e aldeias e depois há Rabo de Peixe, nos Açores, bem juntinho ao mar, onde, por mais dificuldades que apareçam, não afunda a paixão do futebol.

Com o indicador no sujeito, o mindinho no verbo e o adágio sempre na mente, na vila piscatória nem tudo aquilo que vem à rede é peixe e, ao largo dos Açores, o Bancada encontrou um médio preso às redes do golo. Aos 27 anos, Rafa Benevides faz dos campos de futebol um extenso mar à mesa para saciar a fome de golos dos adeptos do Clube Desportivo Rabo de Peixe, um dos emblemas sensação da Série D do Campeonato de Portugal. 

"Eu acabei a época com 12 golos já que nos tivemos a nossa taça de cá também, nos Açores, mas são coisas fáceis de explicar, para mim", começou por nos revelar Rafa Benevides, ele que foi uma das figuras do Campeonato de Portugal e, naturalmente, do Rabo de Peixe, o quarto classificado da Série D da prova da Federação Portuguesa de Futebol.

"O maior desafio é estar de 15 em 15 dias a viajar"

Num campeonato carregado de equipas com muita ambição, a 'frota' é alargada e todos os 'barcos' procuram atracar no 'cais' do sucesso na outra margem do mar.

Por isso, os golos de Rafa Benevides têm sido verdadeiras âncoras de vitória, não só dele, mas do grupo, afinal, na pesca como no futebol a rede não engana e revela o trabalho de todos.

"Isto tem muito trabalho individual, como é lógico, mas acima de tudo baseia-se ao grande trabalho da equipa", explica Rafa, acrescentando nas palavras que disputar uma prova nacional é um desafio quase quotidiano para o plantel do Rabo de Peixe, em São Miguel, nos Açores.

"O maior desafio é estar de 15 em 15 dias a viajar, já que nós estamos numa ilha", confessou Rafa Benevides, deixando claro que isso não retira a ambição ao plantel que quer sempre navegar pelas águas da glória.

"O Simão sempre me inspirou. Jogo com a camisola 20"

Para quem já esteve no centro de talentos do Sporting, jogar futebol é algo natural e com Rafa Benevides esse tempo em tons de verde e branco foi de grande aprendizagem para aquilo que faz hoje pelos relvados de futebol nacionais.

"A minha passagem pelo Sporting foi uma experiência muito boa e que me trouxe uma grande bagagem para o futuro", reconheceu o médio, assegurando ainda que foi um jogador formado no clube de Alvalade, mas que brilhou com a camisola do outro rival da Segunda Circular, que desde menino lhe fez brilhar os olhos.

"O jogador que sempre me inspirou, e até jogo com o número dele, é o Simão Sabrosa", reconheceu o camisola 20 do Rabo de Peixe que, em criança, sempre quis o 20 nas costas da camisola.

"Quando era criança admirava muito a forma como ele jogava", justificou o 'armador' de jogo do clube ribeiragrandense, que nunca perdeu os Açores do horizonte.

Formado no Santa Clara, Rafa Benevides passou pelo Operário Lagoa, Clube Atlético e Cultural da Pontinha, Lusitano VRSA, Lusitano Vildemoinhos, SC Ideal e Oriental até chegar ao Rabo de Peixe, onde é um dos capitães.

Ciente de que o futebol é um mar agitado onde é preciso sempre foco para levar o barco a bom porto, o atleta micaelense confessa que a bola tem dado grandes alegrias juntamente com os companheiros de balneário.

"As alegrias que posso tirar do futebol são as ligações que nós criamos com todos dentro do balneário", resumiu o jogador do emblema rabo-peixense, que não projeta grandes metas, preferindo viver o futebol e a vida a cada dia que vai passando.

"O meu sonho no futebol hoje em dia é viver um dia de cada vez", comentou com o Bancada o jogador do Rabo de Peixe, ciente de que há dificuldades para alguém que não vive só do futebol.

Os dias de Rafa Benevides têm todas as horas, minutos e segundos bem contados para conseguir conciliar o amor ao futebol com a profissão na AJM Cordeiro.

"Sempre que estou cá na ilha tento trabalhar, visto que os treinos são à noite e dá para conciliar", explicou, admitindo que há sempre tempo para o Simba, o seu fiel amigo de quatro patas.

Rabo de Peixe, a série que causa burburinho

Falar de Rabo de Peixe é falar de uma vila piscatória que, há vários anos, tem no clube de futebol um orgulho, até porque tem levado para lá das fronteiras insulares a bandeira dos Açores.

Mas falar de Rabo de Peixe aos dias de hoje é falar de uma terra que anda nas bocas do povo por conta de um guião de cinema. A série "Rabo de Peixe", de Augusto Fraga e Patrícia Sequeira, é já muito popular e tem causado muito burburinho e Rafa Benevides não escondeu que sente "orgulho" por ver associado o nome da sua terra a tal guião cinematográfico que, com os seus sete episódios, em poucos dias, entrou no top 10 mundial do serviço de streaming da Netflix.

"Claro que isso me agrada. Tanto a mim como a qualquer açoriano é bom ver o nome de Rabo de Peixe ser falado no mundo inteiro. É muito bom tanto para nós, os açorianos, como para a vila de Rabo de Peixe e os seus habitantes que são pessoas muito humildes e trabalhadoras", rematou Rafa Benevides, para quem haverá sempre uma outra margem do mar.