Portugal
Prepara-te, Reboleira! O histórico adormecido despertou e ambiciona a elite
2018-08-22 15:30:00
A Reboleira volta ao mapa, com o CD Estrela a apostar em seniores. O Bancada falou com o presidente e o técnico do clube

Acordou o histórico da Amadora que estava adormecido num sono que parecia profundo. É verdade. O Clube Desportivo Estrela, fundado em 2011 após a extinção do antigo Estrela da Amadora, anunciou que vai competir em futebol sénior nesta época, em mais um passo da refundação do clube que em tempos fazia parte da elite do futebol português. Dá-se, assim, o retorno do desporto rei a nível sénior a um dos palcos nacionais ‘míticos’, mais precisamente o Estádio José Gomes, conhecido por todos como a Reboleira. Os primeiros passos serão dados por baixo, ou seja, na última divisão dos campeonatos distritais da Associação de Futebol de Lisboa, mas o que se pretende a longo prazo é recolocar o Estrela entre os grandes.

A longa e tão ansiosa espera das gentes da Amadora pelo regresso do futebol à Reboleira está prestes a terminar. Quem viveu de perto o desaparecimento do mapa do Estrela da Amadora e o nascimento do novo Estrela descreve este retorno a casa como “especial”. Rui Silva, presidente do clube, esteve à conversa com o Bancada e explicou como está a decorrer todo o processo. “É especial. Eu e os meus colegas dos órgãos sociais fomos todos sócios do Clube de Futebol Estrela da Amadora e tendo esse como o nosso único clube custou-nos muito o processo de insolvência, a extinção do clube, tudo isso custou muito… Como não queríamos viver só das saudades - que é bom ter dos tempos gloriosos do Estrela -, quisemos fazer algo mais e queremos voltar a viver tudo de bom que houve no Estrela do ponto de vista desportivo”, começou por referir.

Pois bem, um dos pontos logo assentes era a utilização da Reboleira como palco para a nova vida do Estrela, ainda que com condicionantes que resultam de todo o processo de insolvência no qual do recinto também faz parte. “Isso passava também pelo regresso a casa, ao Estádio José Gomes. Isto tem uma série de condicionantes, porque o estádio faz parte de um processo de insolvência que está numa fase de liquidação e nós estamos ali, mas o estádio não é nosso, digamos assim. Nós estamos ali porque estamos autorizados, neste momento é isso”, confidenciou o presidente Rui Silva.

O treinador que está encarregue de tomar o leme dos destinos da equipa sénior do Estrela é Ricardo Monsanto, técnico com o nível 4 UEFA Pro. O timoneiro do emblema da Amadora demonstrou fé em ver a Reboleira ao rubro e com poucas cadeiras vazias nesta temporada. “Penso que vai ser fantástico e que vai puxar muito aqueles adeptos da Amadora que já suspiravam pelo Estrela há pelo menos oito anos. Acredito que vão haver jogos, não só frente ao Belenenses [clube] mas também outros, em que vamos levar muita gente ao estádio. Sabemos que temos um estádio de 15 mil lugares e é muito difícil na divisão onde estamos pensar em encher o estádio, mas acredito que vamos ter casas muito bem compostas em momentos decisivos do campeonato”, salientou o treinador ao Bancada.

Ambição, paciência e o confronto entre dois históricos

É nesta época de 2018/19 que se dá a aposta do Estrela no futebol sénior, depois da refundação em 2011. Muitos podem questionar-se acerca dos motivos que levaram a este espaço de tempo entre um momento e o outro e foi precisamente essa a questão respondida pelo presidente. “Quando iniciámos todo este processo de refundação do clube, antes de 2011, queríamos crescer sustentadamente, por isso começámos pelos escalões mais baixos, como os benjamins, infantis, iniciados. Por outro lado, os seniores importavam também uma sustentação financeira que era desejada por nós, mas que até agora não tínhamos. Ao final de sete anos, tivemos a oportunidade de poder avançar desde já com a equipa sénior e ao longo de 2018 fomos preparando as coisas que se tornaram agora efetivas”, esclareceu Rui Silva.

O símbolo do CD Estrela. Crédito: CDE - Clube Desportivo Estrela / Facebook.

Agora, quais são as reais metas traçadas pela estrutura do Estrela em torno deste regresso? A ambição está largamente presente, como seria expectável, mas é necessário haver paciência, pois o caminho faz-se passo a passo. “O nosso objetivo é ambicioso e leva anos, que é recolocar o Estrela onde esteve, ou seja, ir subindo as divisões”, começou por destacar o presidente do clube. “Agora, se conseguimos subir já este ano de divisão ou não isso é outra coisa, porque depende também de fatores externos, como a prestação desportiva dos atletas e também das outras equipas em prova, até porque o nosso próprio plantel ainda se está a compor. Competir, ter a melhor prestação possível neste ano de entrada. Se pudermos subir, mais contentes ficamos. Mas, desde já, o objetivo é começar a competir em seniores, algo que ambicionávamos muito e vamos fazê-lo já este ano.”

O treinador Ricardo Monsanto, por seu turno, colocou a fasquia da equipa técnica nas duas subidas de divisão consecutivas, um trajeto que considera complicado, mas no qual atesta que o Estrela tem uma palavra a dizer. “O nosso objetivo é subir duas divisões consecutivamente. Sabemos que o campeonato não vai ser fácil e que vai haver um ‘gigante’ que é o Belenenses [clube] que vai entrar com outro tipo de investimento bastante superior ao nosso”, referiu. De facto, é conhecido que o Belenenses vai ter uma equipa na última divisão das distritais de Lisboa, fruto do fim do entendimento entre clube e SAD dos azuis do Restelo.

Ricardo Monsanto é o treinador que vai dirigir os seniores do CD Estrela. Crédito: Ricardo Monsanto/Facebook.

Assim, esperam-se dois confrontos entre históricos não só lisboetas, mas também do futebol português, a terem lugar na Reboleira e no Restelo. “Sabemos que temos uma palavra a dizer e vamos tentar subir de divisão, há de haver espaço para todos. O futebol são onze contra onze e ganha quem está melhor naquele momento, independentemente dos orçamentos”, considerou Ricardo Monsanto, antes de dar conta de que pretende estar presente nessas duas subidas propostas pela equipa técnica. “Em relação a mim próprio, tinha todo o gosto em fazer parte dessas duas subidas de divisão, como se acontecer algo durante esse percurso, desde que seja bom para o Estrela e para mim, tenha que agradar a todas as partes.”

No que diz respeito ao plantel, a fase de construção ainda está a decorrer, até com treinos de captação neste momento, mas a espinha dorsal já está encontrada. Quem o revelou foi o próprio timoneiro do Estrela. “A espinha dorsal do plantel já está constituída, com jogadores que já tínhamos referenciados. Como vamos disputar uma divisão mais baixa do que aquela a que estamos habituados, estamos a dar a oportunidade de aparecerem jogadores já federados e com experiência destas divisões que venham treinar connosco e que nos possam ajudar a completar o plantel”, referiu Ricardo Monsanto, que deu conta do espaço que existe igualmente para a aposta em jovens da formação. “Guardámos um espaço para jogadores que vêm da formação do Estrela, pois o clube já tinha avançado com os juniores nas últimas duas épocas e temos um espaço para aqueles que foram os jogadores que mais se destacaram lá.”

Um ‘buzz’ que tem tanto de mediático como de esperado

Saiu ontem a público a aposta do Estrela no futebol sénior e o consequente regresso do desporto rei ao palco da Reboleira e a reação gerada nas redes sociais teve tanto de mediatismo como de expectável. Ainda assim, o ‘buzz’ criado junto dos adeptos, das gentes da Amadora e dos amantes do futebol, superou o que era esperado.

As gentes da Amadora vão poder voltar a vibrar com o futebol sénior no Estádio José Gomes. Crédito: LUSA. 

“Eu e todos os meus colegas esperávamos que o anúncio da equipa sénior iria provocar toda esta resposta, que foi bastante positiva. Estava à espera de resposta positiva da parte das pessoas, mas ela tem sido extraordinária, porque parece que despertámos - a expressão até pode ser um bocado forte - um ‘monstro’ que estava meio adormecido na cidade. O Estrela diz muito às pessoas da Amadora, pois sempre foi uma imagem da Amadora para fora, do ponto de vista desportivo. As pessoas não esquecem isso, nem as mais velhas que viveram os tempos gloriosos do Estrela, nem as mais novas”, referiu Rui Silva ao Bancada.

Da parte do treinador, Ricardo Monsanto, o feedback sentido foi igualmente de bastante positivo. “Senti uma grande euforia assim que saiu o comunicado oficial. A mensagem tem sido muito positiva, toda a gente aguardava há muito tempo por este regresso e faz uma grande expetativa à volta dele. A nós, equipa técnica, enche-nos de alegria, orgulho e ambição. Já tive a experiência de disputar esta divisão, com a equipa B do Torreense, e a felicidade de ser campeão, e sei que esse momento é capaz de ser potenciado no tempo e penso que as pessoas da Amadora nos vão dar essa confiança.”

Regressa, assim, o futebol a um sítio onde já foi muito feliz e dá-se com o despertar de um histórico adormecido, que renasceu sob as cinzas de uma extinção que muitas lágrimas fez correr no povo da Amadora.