O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, rejeitou que o caso Apito Dourado, do qual foi ilibado, seja uma 'mancha negra' no percurso de 38 anos como líder dos dragões.
"Estou-me a rir da mancha negra. O que é a mancha negra? As suspeitas? Hoje em Portugal suspeita-se de tudo e todos", começou por reagir, na entrevista à TVI, esta noite.
"Nunca levei isso muito a sério. Aquilo era tão visto, um processo que começou no Minho e acabou em Leiria... Percebeu-se logo a geografia. Quando ouvi as acusações, fiquei totalmente descontraído", complementou.
Pinto da Costa adiantou que o processo Apito Dourado só se arrastou no tempo devido a uma alegada 'perseguição' por parte do Ministério Público (MP).
"Fui várias vezes a tribunal porque o MP recorria e eu era ilibado. Chegou-se ao ridículo de um procurador dizer que era pela minha absolvição, mas que tinha de recorrer porque o MP mandava. Fui ilibado em todos os recursos do MP", argumentou.
O presidente do FC Porto lembrou que, logo no início do processo, recebeu as manifestações de solidariedade de um presidente do Benfica, Fernando Martins, e de um Presidente da República, Ramalho Eanes.
"Passados uns 10, 12 dias [do início do processo], houve aqui [nas Antas] a apresentação de um livro. Cheguei aqui e dei de caras com duas pessoas à minha espera que eu não tinha convidado. Não eram juízes, nem o Presidente Eanes se meteu a influenciar juízes", afirmou o decano dirigente portista, aproveitando para deixar uma crítica velada ao Benfica, à qual posteriormente daria seguimento.
"Acho estranho, no outro dia li que num camarote estavam 22 juizes. As pessoas estranhas que nós temos nos camarotes são patrocinadores, não estou a ver o Ministério da Justiça a patrocinar o Benfica", atirou.
Com a mira apontada ao rival da Luz, Pinto da Costa não desperdiçou a oportunidade de visar também António Costa, devido à polémica integração e posterior afastamento da comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica.
"Não é o cidadão António Costa, é o primeiro-ministro. Não é possível dissociar porque se o cidadão António Costa não fosse primeiro-ministro nenhum jornal ia referir que estava na comissão de honra. Ele tem direito a ser sócio e acionista do Benfica, o que me chocou foi o primeiro-ministro estar a apoiar um indivíduo que (nem vou falar dos processoes, não foram julgados) é reconhecido por dever milhões ao banco [Novo Banco] que está a ir aos bolsos de todos os portugueses", afirmou.
O líder dos dragões fez questão de esclarecer que tem uma relação "cordial" com António Costa, mas que "discorda totalmente" do primeiro-ministro no que concerne à política para o futebol.
"O FC Porto pagou, desde que começou a pandemia, 19 milhões de euros em impostos. Em Itália, baixaram os impostos em 30 e tal por cento por causa da pandemia. Sabe quantos funcionários o FC Porto tem diretamente? 572. Quinhentas e setenta duas pessoas que vivem do salário que ganham no FC Porto. Indiretamente, são mais 400 e tal", reforçou.
Ainda a propósito da política para o futebol, o presidente portista retomou a polémica do público, autorizado em vários espectáculos e proibido nos estádios.
"É incompreensível. Temos camarotes que são de famílias, a família pode ir ao cinema ou ao restaurante toda junta, mas não pode vir aqui", exemplificou.
Sobre Luís Filipe Vieira, Pinto da Costa explicou que mantém relações institucionais, quando é preciso 'tratar' de futebol, dando os exemplos das reuniões dos presidentes dos três grandes com o Governo.
"Nas reuniões de presidentes [da Liga], trato dos assuntos [com Vieira] como trato com o presidente do Sporting, do Belenenses ou do SC Braga. Não confundam é com Pinto da Costa e Vieira, esses dois não se dão, é um assunto fechado", esclareceu o presidente portista.
As eleições no Benfica também foram abordadas nesta entrevista, com o dirigente do FC Porto a ironizar que "parece que foi Luís Filipe Vieira que escolheu os candidatos".
"Qualquer indivíduo que queira ser presidente do Benfica mete na cabeça que a primeira coisa que tem de dizer é mal de mim. Apareceu agora o sujeito dos hambúrgueres [Noronha Lopes], parece que se meteu comigo... Alguma vez os benfiquistas vão votar num indivíduo que aparece agora com meia dúzia de frases feitas? Só se forem ao McDonalds, podem pensar que vão ter desconto", ironizou.
O processo eleitoral no Benfica "foi bom para mostrar que os tais comentadores independentes são tão independentes que vários estão nas listas", referiu ainda o dirigente portista.
Olhando para dentro, Pinto da Costa garantiu que o FC Porto vai sair do 'aperto' do fair-play financeiro no próximo exercício económico, uma vez que as contas fechadas a 30 de junho não incluiram as vendas de jogadores, uma vez que a pandemia ditou alterações no mercado de transferências.
"Estamos em falência técnica por causa dos parâmetros. No balanço, o nosso plantel vale 76 milhões [de euros], neste mês de transações fizemos 126 milhões. Estou completamente convencido que em breve sairemos do fair-play financeiro, bastava que a época de transferências tievsse sido incluído nas contas do ano passado", sustentou.
A finalizar, o presidente do FC Porto adiantou que "dá jeito a alguns" que não haja adeptos no estádio.
"Se tivesse adeptos que vinham cá para me insultar preferia o estádio vazio. Mas eu não tenho medo de adeptos que vão para o estádio insultar, é um cenário hipotético", finalizou.