Portugal
“Partiram-me o pé duas vezes e joguei até ao fim”. Carraça e os gritos de dor
2021-02-12 12:40:00
Jorge Jesus levantou o tema, António Carraça concorda: os jogadores simulam dor para ludibriar os árbitros

Durante a conferência de imprensa, após o jogo com o Estoril, Jorge Jesus levantou o tema: há gritos de dor fingida, que as repetições televisivas denunciam, mas que não passam despercebidos aos adeptos e que levam os árbitros, por vezes, a marcar faltas inexistentes. “Hoje, no futebol português, por qualquer coisinha, um jogador toca na pestana do outro e parece que lhe arrancaram um olho. Gritam para o árbitro sancionar. Os jogadores em Portugal estão nesta treta”, criticou o técnico do Benfica, que garante que luta contra este tipo de comportamentos.  

Jesus defendeu que os treinadores reúnam, para que se acabe com o antijogo – desde as faltas simuladas, ao tempo perdido por estratégia, às lesões dos guarda-redes quando a sua equipa está em vantagem. “E não falo de arbitragem, falo dos jogadores de todas as equipas. Aos meus jogadores digo exatamente a mesma coisa”, referiu o técnico do Benfica. Leia aqui a declaração completa de Jorge Jesus.

O assunto esteve em debate no canal 11 e António Carraça, comentador daquela estação, concorda, na generalidade, com as palavras do treinador encarnado. Antigo futebolista, António Carraça lembra a sua experiência. “Não sou muito saudosista. Devemos aprender com o passado, viver o presente e construir o futuro. Mas, no meu tempo, esta questão não se colocava. Batiam-nos e tínhamos de nos levantar rapidamente”, conta. 

“Posso dizer que me partiram duas vezes um pé, joguei até ao fim e os meus agressores nem um cartão amarelo levaram. Mas isso fazia parte do jogo, naquele tempo. Agora, os jogos são transmitidos pela televisão e alguns jogadores gostam de ter tempo de antena”, critica ainda.  

Para António Carraça, este comportamento que Jorge Jesus defende deve ser adotado pelos jogadores. “É uma postura de coerência, de inteligência, coerência e profissionalismo que tem de estar presente em todos os jogos. Até porque ganhar com batota não dá prazer. O prazer de ganhar é sermos superiores ao adversário, com trabalho, com sacrifício, com talento, com qualidade, com intensidade. Penso que era isso que Jorge Jesus queria dizer”, salientou. 

“Há que incutir uma nova mentalidade e postura, no sentido de credibilizar o jogo. A verdade é das coisas mais importantes neste jogo”, concluiu António Carraça. 

José Taira, antigo futebolista e também comentador no canal 11, concorda com a ideia e alarga a sua visão ao papel dos árbitros do VAR. “Quando o jogador sabe que os estádios não têm público, que não há pressão externa, a pressão é interna – do próprio, ou do treinador que passa a mensagem, ou do corpo diretivo – e, por outro lado, ainda há a possibilidade de se reverterem lances, com o VAR, há muitos jogadores que estão a aproveitar-se de uma situação muito usual. Nos jogos internacionais não há tanto tempo perdido no VAR”, lamenta. 

O prejudicado é o adepto, como consumidor do futebol, e o próprio desporto-rei. “Isso está a matar o espetáculo. Quando o público voltar ao estádio, vai ter pouca paciência para isto. Perder tanto tempo em cada lance? É demasiado, para um espetáculo que tem de ser mais fluído e que tem de ter carga emocional”, avisou. 

Este assunto surge numa altura em que as arbitragens são escalpelizadas ao detalhe, até porque o VAR surgiu com a ‘promessa’ de acabar com erros crassos. O silêncio dos estádios, provocado pela ausência do público, mostrou também uma nova realidade do futebol. As simulações fazem parte da história do desporto-rei, mas com o advento do VAR, surgem novas formas de pressionar a arbitragem, com recurso ao ‘áudio’ que as bancadas vazias denunciam.