FC Porto, Benfica e Sporting com resultados diferentes quando utilizam duplas de defesas-centrais mais e menos rodadas
Maldini, Puyol, Carragher ou John Terry. É comum ver defesas-centrais ficarem muitos e longos anos ao serviço do mesmo clube, consolidando o seu estatuto ao mesmo que evoluem tática e tecnicamente. Os exemplos de sucesso em grandes equipas são muitos, pelo que o Bancada quis saber que importância tem tido a longevidade das duplas de centrais nos três grandes nas mais recentes dez edições da Liga.
As conclusões são bastante diferentes para FC Porto, Benfica e Sporting, o que sugere que cada clube e os respetivos treinadores ao longo da última década tem o seu estilo e forma de colocar em prática a experiência dos mais velhos e a irreverência dos mais novos, assim como a vontade – ou não – de manter no clube jogadores durante um longo período de tempo.
FC Porto dá-se bem com centrais recém-chegados
Nas últimas dez temporadas, foram apenas duas as vezes em que o FC Porto foi campeão nacional tendo a dupla de centrais com mais anos de casa entre os três grandes. Aconteceu em 2007/08, quando Bruno Alves e Pedro Emanuel somavam nove épocas ao serviço dos dragões, e em 2012/13, com Mangala e Otamendi com tantos anos de FC Porto (cinco) como Garay e Jardel, os dois mais utilizados pelo Benfica no eixo da defesa nesse ano.
Das outras três vezes em que venceu o título, o clube portuense tinha, até, a dupla de centrais com menos experiência no próprio clube quando em comparação com Benfica e Sporting. Em 2010/11, Rolando e Maicon (que tinham, em conjunto, cinco épocas de FC Porto) ‘perdiam’ para Luisão e David Luiz, com 12 temporadas de encarnado, assim como para Daniel Carriço e Anderson Polga, que contavam com 11 anos no Sporting, mas a verdade é que André Villas Boas conduziu a equipa para a vitória na Liga, Liga Europa, Taça de Portugal e Supertaça.
Assim sendo, a longevidade da dupla de centrais portista não é preponderante para a conquista de títulos, ao contrário do que aconteceu noutros tempos.
Longevidade essencial no Benfica
No Benfica, tudo muda. Nos últimos dez anos, sempre que o Benfica foi campeão contou com a dupla de centrais mais ‘rodada’ entre os grandes. Vejamos: em 2009/10, David Luiz e Luisão somavam dez temporadas de Benfica, contra as sete das duplas de FC Porto e Sporting. Em 2013/14, 14 anos para Luisão e Garay, em contraste com os três de Maurício e Marcos Rojo (Sporting) e os oito de Mangala e Maicon (FC Porto). Na época seguinte, Luisão e Jardel contavam com 17 anos no Benfica, enquanto Maicon e Martins Indi tinham sete de FC Porto e Paulo Oliveira e Maurício apenas três em Alvalade. A tendência por pouco não mudou em 2015/16, quando o Sporting esteve perto de ser campeão com a dupla mais utilizada a contar com apenas três anos de casa (Paulo Oliveira e Naldo), mas o Benfica revalidou o título com os nove anos de Jardel e Lindelöf ao seu serviço.
A maior diferença aconteceu mesmo na época que recentemente terminou. Os centrais mais utilizados por Rui Vitória, Luisão e Lindelöf, têm um total de 18 temporadas pelo Benfica, 14 do brasileiro e quatro do sueco. Nos rivais, a história é bem diferente. Tanto a dupla de FC Porto (Marcano e Felipe) como de Sporting (Coates e Rúben Semedo) soma apenas quatro épocas ao serviço dos respetivos clubes, menos dez do que Luisão sozinho.
Ao contrário do FC Porto, o Benfica apresenta mais resultados quando utiliza centrais com mais ‘bagagem’ encarnada. Luisão, indiscutivelmente, tem sido muito importante nesse papel.
Sporting sem um padrão definido
Em Alvalade, os resultados parecem não estar diretamente relacionados com a longevidade dos defesas-centrais. No sétimo lugar de 2012/13, a pior classificação de sempre do clube, Rojo e Xandão tinham três épocas de Sporting e eram a dupla menos experiente entre os três grandes. No entanto, a temporada de 2015/16 (a melhor e a que colocou o clube mais perto do título nos últimos dez anos) contou com uma dupla igualmente ‘rodada’ de verde e branco: Paulo Oliveira e Naldo. Ewerton, Rúben Semedo e Coates, outros dos jogadores utilizados por Jorge Jesus nessa posição em 2015/16, também tinham chegado à equipa principal do clube há pouco tempo.
Por outro lado, duplas que joguem no Sporting há muitos anos não têm sido, também, de boa memória para os adeptos sportinguistas. Em 2010/11 e 2011/12, anos em que os centrais leoninos tinham mais épocas de leão ao peito – 11 e 13, respetivamente -, as classificações não foram as melhores: um terceiro lugar, em 2010/11, e um quarto, em 2011/12.
Campeões das melhores ligas europeias preferem duplas duradouras
Nos dez melhores campeonatos do velho continente, excluindo o português, os vencedores costumam utilizar defesas-centrais conhecedores da sua realidade, ainda que existam algumas exeções.
O Real Madrid, campeão espanhol e europeu, viu a preferência de Zidane recair sobre Sergio Ramos, há 12 anos no Bernabéu, e Varane, há seis. O mesmo se passa em Turim, com a Juventus. Num sistema de três centrais, os detentores do ‘Scudetto’ utilizam Bonnuci e Barzagli, ambos na ‘vecchia signora’ há sete anos, na companhia de Chiellini, jogador da Juventus desde 2005. O Chelsea acompanha os espanhóis e os italianos e, também numa tática com três na defesa, Cahill, Azpilicueta e David Luiz – este último em duas passagens – somam um total de 16 anos no clube londrino.
A maior supresa é o AS Monaco. A equipa de Leonardo Jardim, vencedora da Liga Francesa, utilizou como centrais de forma regular o brasileiro Jemerson e o polaco Glik, com o primeiro a jogar nos monegascos há duas temporadas e o segundo há apenas uma. Em comparação com a dupla do Paris Saint-Germain, o maior concorrente na luta pelo título, os centrais do AS Monaco somam três anos de clube contra os nove de Thiago Silva e Marquinhos juntos.
Outros exemplos de longevidade em campeões nacionais são as duplas de Shakhtar Donetsk (11 anos) e Spartak Moscovo (9 anos), contrastando os centrais de Anderlecht (6 anos) ou Beşiktaş (3 anos). O Bayern Munique, com Mats Hummels (dois anos) e Javi Martínez (cinco) a somarem sete temporadas, está a seguir o mesmo caminho que outros os ‘tubarões’,