Portugal
Onze do Vitória SC sem portugueses causa “preocupação” nos históricos do clube
2017-09-15 17:30:00
Armando Evangelista e Quim Berto defendem que o DNA do Vitória SC é a aposta na formação e nos jogadores portugueses

O Vitória de Guimarães não apresentou nenhum jogador português no onze frente ao RB Salzburgo e esse facto fez despertar o alarme no universo vimaranense entre os históricos do clube. Até porque o problema é mais vasto. Desde 2012/13, época em que o Vitória SC conquistou a Taça de Portugal que o número de jogadores portugueses no plantel vitoriano tem vindo a diminuir. Armando Evangelista e Quim Berto, ex-técnico e ex-jogador do clube, defendem que o DNA do clube é a posta na formação e nos jogadores portugueses.

Nessa época de sucesso que culminou com a conquista da Taça de Portugal, 54,2 por cento do grupo às ordens de Rui Vitória era constituído por atletas portugueses (26 no total). Em 2013/14, 55 por cento (22 jogadores) do plantel ainda era português, mas em 2014/15 iniciou-se a tendência para a diminuição de atletas portugueses no plantel, com 52,2% (24). Em 2015/16, o número baixou para 50% (21) e em 2016/17, já com Pedro Martins, era de 46,5% (20). Finalmente, esta temporada o plantel comandado por Pedro Martins tem 41,9 por cento (13) de jogadores portugueses num grupo com sete nacionalidades: Brasil (6), Costa do Marfim (2), Gana (2), Colômbia (2), Cabo Verde (1), Uruguai (1) e Perú (1). 

Armando Evangelista e Quim Berto com ligações históricas ao clube da Cidade Berço estão em sintonia. É preocupante que um clube que nos últimos anos tem tido como bandeira a aposta na formação, e que recuperou de uma grave crise financeira graças a essa aposta consolidada com resultados desportivos, tenha jogado esta quinta-feira com um onze sem portugueses na Liga Europa, apenas apostando em Kiko aos 57 minutos para o lugar do peruano Hurtado. Mais: o Vitória SC jogou de início sem jogadores europeus, o que aconteceu pela primeira vez com uma equipa portuguesa.

Joaquim Evangelista, ex-treinador do Vitória de Guimarães na época 2015/16, e que passou por todos os escalões da formação do clube, é muito crítico em relação a esta situação que qualifica de preocupante. “Não me agrada de todo. É fruto da entrada de mais dinheiro no clube, mas um clube que se diz formador, que apostou na sua formação, apresentar um onze sem nenhum jogador português deixa-me triste”.

“O Vitória SC é um clube que têm um enorme potencial na sua formação”, reforça Evangelista que recorde nomes como Paulo Oliveira, Ricardo Pereira, Tiago Rodrigues, Josué, Cafú como valores seguros que emergiram da formação. “Os jogadores portugueses do Vitória de Guimarães já deram provas que têm valor”.

Quim Berto, antigo jogador do Vitória SC, e formado no clube, diz também que gostaria de ver mais jogadores portugueses no onze vimaranense. “Como ex-jogador do Vitória SC não gosto de ver um onze só com jogadores estrangeiros, mas isto é um problema de quem está à frente do futebol que não deveria permitir. Devia haver um limite de estrangeiros a jogar em Portugal. Os jogadores portugueses são vistos lá fora como jogadores de qualidade”, defende o antigo lateral vimaranense.

Não deixando de referir que a situação ocorrida com o RB Salzburgo pode ter sido uma “coincidência”, até porque Miguel Silva, Kiko e Hélder Ferreira já jogaram para o campeonato, Quim Berto volta a reforçar a ideia de que o Vitória devia apostar mais na formação, afinal o DNA do clube que permitiu a recuperação financeira e desportiva nos últimos anos. “Quando o clube caíu da forma que caíu, esta direção conseguiu reerguer o Vitória SC e fazê-lo chegar a um patamar que está à vista de todos.

Quim Berto reconhece, no entanto, que o contexto é agora diferente, que o clube talvez tenha deixado de lado a opção da aposta da formação “Quando o dinheiro não abundava, o clube caiu da forma que caiu, e esta direção conseguiu levar o Vitória a um patamar superior que está à vista de todos graças à aposta na formação. Se calhar, agora, a aposta é outra”, refere. Armando Evangelista corrobora: “Se calhar, o Vitória SC está a caminhar para um futuro diferente. Só os seus dirigentes é que sabem se é o melhor caminho ou não…”.