Portugal
O milagre da multiplicação por Dyego Sousa
2018-12-14 23:40:00
O avançado do SC Braga esteve em evidência com três golos, voltando a fazer muito com pouco.

Dyego Sousa é um fenómeno. Um demónio. Um tormento. Um vendaval de golos um pouco por onde passa. No mesmo dia em que Jackson Martínez regressou aos bis na carreira, algo que não sucedia desde 2015 para o avançado colombiano, não deixa de ser irónico que aquele avançado que talvez mais se assemelhe a Jackson dos períodos áureos tenha sido a figura do dia. Com três golos, Dyego Sousa quase sozinho atropelou o Feirense e reforçou o seu estatuto de líder dos melhores marcadores da Liga Portuguesa. Wilson Eduardo fez o outro e o SC Braga venceu tranquilamento o Feirense por 4-0 num jogo de sentido único.

Jogar com Dyego Sousa é quase batota. Frente ao Feirense, o avançado do SC Braga voltou a mostrar que faz muito com pouco, marcando dois golos ainda na primeira parte - mais um de grande penalidade já na segunda antes de dar o lugar a Ryller - quando o mais normal seria não os fazer. Mas Dyego Sousa é isto. Os grandes goleadores são assim. Marcam golos quando menos se espera e tal tem sido uma constante para Dyego Sousa esta temporada. Agora com dez golos marcados na Liga Portuguesa, Dyego Sousa mais do que duplica o seu índice de golos esperados cifrado nuns arredondados 4 xG. Isto é dizer que dadas as oportunidades à disposição de Dyego Sousa, o mais certo era que o avançado brasileiro tivesse por esta altura apenas quatro golos no campeonato. Sinal claro de um jogador que transforma uma oportunidade complicada num lance de golo.

Frente ao Feirense, Dyego Sousa voltou a ser esse homem. Com três golos em quatro remates endereçados à baliza do Feirense, não foi preciso muito para que Dyego Sousa resolvesse cedo o encontro entre SC Braga e Feirense. Ainda para mais, num jogo de sentido único em que o Feirense demonstrou uma grande incapacidade em ter bola e construir jogo de forma organizada, com o SC Braga, apesar da inferioridade numérica sobre o corredor central, a fazer do posicionamento e da ocupação de espaços através de Palhinha e Fransérgio uma força, obrigando o Feirense a tentar desequilibrar individualmente, de forma sistemática, pelos corredores onde é mais fácil anular o adversário. No final da primeira parte, por exemplo, o Feirense tinha mais do dobro das tentativas do SC Braga em investidas individuais e dribles tentados.

Foi só de bola parada que o Feirense conseguiu criar algum perigo, já bem perto do intervalo do encontro, com o conjunto de Nuno Manta Santos a ter no toque de cabeça de Briseño um dos raros que conseguiu durante toda a primeira parte no último terço ofensivo. À meia hora de jogo, aliás, o Feirense ainda não tinha qualquer toque na bola dado no último terço do campo. Briseño que acabou por ser a figura de destaque dos fogaceiros ainda que, curiosamente, se tenha visto relacionado diretamente nos lances dos dois primeiros golos do SC Braga. O primeiro, após lançamento longo de Bruno Viana que percorreu todo o campo até encontrar Dyego Sousa na área com o avançado brasileiro numa jogada individual extraordinária a trabalhar sobre Briseño para abrir o marcador. Se no primeiro lance de golo Briseño nada pôde fazer perante a excelência de Dyego Sousa, no segundo foi uma rara abordagem falhada e erro no tempo de ataque à bola no domínio aéreo, sua especialidade, que acabou por ser uma mancha no melhor pano do Feirense.

Na cabeça de Briseño estiveram, aliás, as melhores oportunidades do Feirense durante grande parte do encontro. Já na segunda parte, após um início prometedor do conjunto de Manta Santos, nova bola parada lateral encontrou o mexicano na área e novamente o desvio saiu ao lado. O Feirense até entrou promissor para a segunda parte após uma primeira de sentido único, mas mesmo perante a cedência do controlo do jogo por parte do SC Braga e o conforto sentido pelos arsenalistas dado o resultado, acabou por ser a equipa de Abel a matar o jogo. Cortesia de uma investida aventureira de Raul Silva que terminou com Diga a derrubar o central já dentro da área. Dyego Sousa fez o hat trick e enterrou o jogo.

O Feirense nunca se fechou, nem nunca quis acabar o encontro a jogar para perder por poucos. A tentativa de chegar pelo menos a um golo que concedesse ao resultado outra honra, acabou por descompensar a equipa em vários momentos. Já antes do 3-0, Fransérgio aproveitara uma cratera no corredor central para disparar ao lado da baliza do Feirense e foi em nova situação de descompensação que Wilson Eduardo selou o resultado final ao castigar com golo uma falta de Brígido - terrível noite para se estrear pelo Feirense - que derrubou Paulinho no interior da área depois deste lhe ter surgido isolado em profundidade. Pouco depois, Raúl Silva, à entrada da área, atirou ao poste.

Acabou por ser já em cima e após os 90 minutos que o Feirense mais perto ficou do golo. Foram precisos, aliás, 90 minutos, para que o Feirense construísse a sua primeira jogada digna de futebol organizado, sobre o corredor esquerdo, e que terminou com um desvio à boca da baliza para defesa a dois tempos de Tiago Sá. Já para lá dos 90 minutos, foi Tavares, totalmente sozinho à boca da baliza, quem atirou fraco, de cabeça, para defesa de Tiago Sá. Honra seja feita ao Feirense e à equipa de Manta Santos.

Após uma primeira parte desoladora, o Feirense foi à luta na segunda metade e um jogo que roçava até então os 70% de posse bola para o SC Braga, acabou quase igual neste aspeto. A diferença esteve no aproveitamento da mesma. Enquanto o SC Braga terminou o jogo com 16 remates e quatro deles certeiros, o Feirense acabou apenas com um remate à baliza do SC Braga e dois para fora. Salvou-se Briseño, como tantas outras vezes. Dois dos remates do Feirense pertenceram-lhe, perdendo apenas um dos sete duelos aéreos que tentou, aos quais lhes juntou 12 alívios de bola. Um pronto socorro raramente bem acompanhado. Os outros, assistiram ao milagre da multiplicação de Dyego Sousa.