Portugal
O grito que separava o FC Porto do "penta" chegou quando a pressão sufocava
2018-05-03 22:20:00
O FC Porto pode sagrar-se campeão antes de entrar no relvado para defrontar o Feirense e o Bancada falou com quem sabe

“Havia um silêncio estranho no balneário antes do jogo. Quem nos visse pensava que tínhamos acabado de perder o campeonato”, mas curiosamente o que estava prestes a acontecer era precisamente o contrário. O FC Porto estava a um grito - um grito, sim. Já vai perceber porquê - de distância de festejar o pentacampeonato em pleno balneário do antigo Estádio de Alvalade.

Os jogadores do FC Porto podem subir ao relvado, para o jogo com o Feirense, já como campeões nacionais. Para que isso aconteça basta que o dérbi de Lisboa, entre Sporting e Benfica, termine empatado. O Bancada quis perceber como lidam os jogadores com este cenário, afinal de contas, “o que importa é ser campeão”, revelou-nos João Manuel Pinto, quatro vezes campeão nacional pelos azuis e brancos.

Em 1998/99 o FC Porto sagrou-se campeão dentro do balneário do antigo Estádio de Alvalade. Os dragões estavam em compita com o Boavista pelo primeiro lugar e a duas jornadas do fim, o FC Porto deslocou-se a Lisboa para defrontar o Sporting. Mais a sul, o Boavista defrontava, duas horas antes, o Farense e qualquer resultado que não a vitória dos axadrezados fazia dos portistas pentacampeões.

João Manuel Pinto em cima, o quarto a contar da esquerda. Foto: João Abreu de Miranda/Lusa

Mas a cabeça dos jogadores do FC Porto estava naquilo que tinham de fazer diante de um adversário de respeito. Quem recorda os momentos que antecederam o jogo com os leões é Chaínho: “Tínhamos o jogo bem preparado. Além disso estávamos já formatados para ganhar os jogos, e depois tínhamos presente que íamos defrontar um Sporting que estava bem na altura.”

Os momentos que antecederam o clássico foram de grande tensão, como nos revelou João Manuel Pinto: “O trabalho de uma época inteira dependia do nosso resultado naquela tarde.” Enquanto os jogadores do FC Porto se preparavam para o jogo do título (ou não) o Boavista ia vencendo o Farense por 2-0, à entrada dos últimos cinco minutos, no Estádio São Luís, em Faro.

“Lembro-me muito bem desse dia. Curiosamente havia um silêncio estranho no nosso balneário”, começou por recordar o antigo defesa central. “Só se ouvia o massagista a massajar as pernas dos jogadores”, disse o jogador que já contava, por aqueles dias, com três campeonatos ganhos ao serviço do FC Porto. “Quem entrasse no nosso balneário, antes do jogo com o Sporting, ia pensar que tínhamos acabado de perder o campeonato. Sentimos uma pressão nesse jogo, como não havíamos sentido durante a época.”

E depois surgiu o grito. O tal grito que separava o FC Porto do pentacampeonato. “‘Campeões! Campeões!’, ouvimos nós estes gritos vindos do corredor”, lembrou João Manuel Pinto. “Era o nosso diretor a dizer que o Boavista tinha empatado e que já éramos campeões. Nos últimos cinco minutos da partida, o Farense marcou dois golos e empatou o jogo com o Boavista. O FC Porto subiu ao relvado, para fazer o aquecimento, campeão.

Chaínho em ação ao serviço do FC Porto. Foto: Eduardo Costa/Lusa

Chaínho recorda os escassos minutos de euforia: “Houve ali cinco minutos, depois de termos recebido a notícia, em que celebrámos. Demos uns gritos de campeões até que veio o mister Fernando Santos dizer para nos focarmos no jogo. Mas a pressão tinha ido, sentimos um grande alívio”. Mas havia um jogo para jogar e milhares de adeptos que haviam viajado do Porto a não desapontar.

“Quando fomos para o aquecimento atravessámos o relvado e fomos todos em direção aos adeptos para festejar com eles, mesmo antes do aquecimento”, recordou Chaínho que se sagrava, naquela tarde, campeão nacional pela primeira e única vez na sua carreira. O jogo acabaria por terminar empatado a um golo. Pedro Barbosa marcou para o Sporting, aos 46 minutos, e Zahovic empatou para o FC Porto a cinco minutos dos 90.