Em 2017/18, o Caldas viveu um sonho na Taça de Portugal. Já dizia o famoso ditado: “quem tem sorte ao jogo, tem azar ao amor”. Da parte da FPF, o Caldas não parece receber grande amor. É que, depois do grande desempenho na Taça, o Caldas tem, agora, o seu estádio interditado durante dois jogos e terá ainda um outro à porta fechada. Tudo por causa de uma suposta sobrelotação do estádio e do uso de estruturas não verificadas a tempo pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para a meia-final frente ao Aves. Agora, resta esperar pelo Tribunal Arbitral do Desporto (TAD). Mas já lá vamos.
O castiço Campo da Mata recebeu, em abril, as meias-finais da Taça de Portugal. O Aves visitou as Caldas da Rainha numa quarta-feira. E este pormenor, verá, vai ter importância. Com um jogo em dia útil, muita gente chegou atrasada ao jogo. Para não incomodar, foram-se instalando nos corredores das bancadas. Este facto levou o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol a considerar, portanto, que havia sobrelotação no Campo da Mata, por haver tanta gente fora das cadeiras e a bloquear os corredores.
Falámos com Jorge Reis, presidente do Caldas, e fizemos a pergunta de um milhão de euros: “Se as pessoas que chegaram mais tarde tivessem ido para os seus lugares, todas teriam sítio para se sentar?”. A resposta, ao Bancada, foi clara: “Sim, perfeitamente. Tenho isso fotografado e a própria transmissão televisiva comprova-o. Tenho provas disso”.
A imagens da transmissão televisiva provam que, de facto, tal como diz a FPF, havia pouco espaço para circular nos corredores. No entanto, provam também que, tal como diz o Caldas, havia algum espaço por ocupar, sobretudo nas pontas das bancadas.
A outra questão foi a montagem de uma estrutura para a Comunicação Social que, segundo a FPF, não estava autorizada. O presidente do clube garante que tudo estava certificado. “A estrutura estava certificada, apenas não estava quando foi feita a verificação da FPF”.
O que quisemos saber foi, então, se teria havido espaço para os jornalistas caso essa estrutura não tivesse sido adicionada. E não, não haveria. “Não teriam tido sítio para trabalhar. Criámos uma estrutura para os jornalistas, até com catering, para tratar bem as pessoas que cá vêm”, garante, antes de apontar o dedo à Federação: “Estive num workshop da FPP em que disseram que os clubes têm de melhorar as condições para a Comunicação Social. Então nós arranjámos e agora é assim?”.
Caros clubes, “não queiram apanhar os grandes”
Jorge Reis explicou-nos que o Caldas, para essa eliminatória com o Aves, gastou cerca de 100 mil euros em melhoramentos do Campo da Mata. Ao Bancada, deixa um aviso aos clubes que, porventura, sonhem receber, em sua casa, um dos principais clubes. “Vou dizer-lhe uma coisa: qualquer clube do Campeonato de Portugal e alguns da II liga, como o Cova da Piedade, se estão desejosos de que lhes calhe um clube dos grandes em casa, esqueçam isso: ou gastam uma pipa de massa ou não jogam lá”.
A talhe de foice, quisemos ainda saber se as modificações feitas permitem que, numa eventual nova campanha de sucesso na Taça, o Campo da Mata, em 2018/19, já estará nos conformes. Jorge Reis diz que algumas coisas sim, outras não: “Algumas permitiram melhorar, sim. Mas na iluminação, por exemplo, gastámos 40 e tal mil euros e era provisória”.
E esta questão da iluminação leva-nos ao agendamento dos jogos. Segundo o Caldas, marcar jogos para a noite, nestes campos, é uma desconsideração. “Durante os outros jogos não se importaram que jogássemos à tarde. Com o Aves, meteram o jogo às 18h e obrigaram-nos a ter iluminação. Mais: a FPF não ajudou nada nos custos. Somos não profissionais. Colocar jogos à quarta-feira à noite, para proteger os clubes profissionais, não é zelar pela festa do futebol”.
E agora, como vai ser o Caldas-Peniche?
No próximo domingo, vai haver Caldas-Peniche, para o Campeonato de Portugal. Pergunta o leitor: “então e onde é vão jogar?”. Vão jogar no Campo da Mata – isso é certo –, mas, possivelmente, não estarão por lá adeptos. “O Caldas recorreu para o TAD. Se tiver efeito suspensivo, tudo bem. Se não tiver ou a resposta não vier a tempo, teremos de jogar à porta fechada”.
Por falar em TAD. A solução arranjada pelo Caldas foi ir a instâncias superiores dado que, do Conselho de Justiça (CJ), houve um virar de costas. “Quem nos castigou foi a FPF, mas o CJ diz que não pode aceitar recurso porque não é uma questão do foro desportivo. Lamentavelmente, fecham as portas a que os clubes mais pobres financeiramente possam recorrer, dado que ir a outros órgãos superiores é muito caro para as realidades destes clubes”.
Jorge Reis considera que o castigo ao Caldas é “completamente desproporcionado” e lembra: “Quem esteve presente nas eliminatórias sabe que os adeptos tiveram um comportamento exemplar. Não houve uma briga, uma zanga… foi a verdadeira festa. Mas a FPF não deve querer isso”.
“O que se pretende não é que seja uma festa, é que haja violência. Como já houve cargas policiais em crianças e jogos à porta fechada, nesses casos, zero. Já houve jogos em pavilhões – sob a organização da FPF – que tiveram petardos e fumos. Jogos à porta fechada, zero”, lamenta.
Com ou sem fumos, com ou sem sobrelotação, com ou sem injustiça, o facto é que o Caldas está dependente da celeridade do TAD na resposta ao recurso. Caso a resposta demore, o Campo da Mata, apontado por adversários como um ambiente que muito ajuda a equipa da casa, estará vazio no próximo domingo, às 17h.