Portugal
"O Benfica poderia ter beneficiado, mas a UEFA não dá nada a ninguém"
2021-05-31 18:35:00
Vítor Manuel alerta para a "benesse" da UEFA à Turquia após perder final da Champions

As decisões do Governo e das autoridades de saúde, que mantêm a proibição de público nos estádios e pavilhões desportivos, mas autorizaram 12 mil adeptos a assistir no Estádio do Dragão à final da Liga dos Campeões, continuam a merecer críticas de vários quadrantes. Vítor Manuel, um dos mais experientes técnicos portugueses, juntou-se a esta onda de repúdio, fazendo ainda um alerta.

O treinador considerou a decisão de realizar a final da Champions em Portugal acabou por prejudicar uma equipa portuguesa. Terceiro classificado no último campeonato, o Benfica vai disputar dois jogos para a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões 2021/22 e, em caso de vitória, um play-off. Se a final tivesse sido em Istambul (Turquia), como inicialmente previsto, o Benfica entraria diretamente no play-off, afirmou Vítor Manuel.

“Houve aqui interesses. Se repararmos bem nos interesses desportivos que isto tem, o Benfica poderia ter beneficiado de poder só jogar a partida do play-off, mas parece que a equipa turca vai ser beneficiada e entrar diretamente na Liga dos Campeões, devido à final não ter sido na Turquia. Já houve aqui uma benesse da UEFA, afinal a UEFA não dá nada a ninguém, normalmente tira contrapartidas daquilo que são os seus objetivos e pretensões”, explicou.

Este alerta de Vítor Manuel surgiu quando o experiente treinador comentava as declarações de Pinto da Costa. O presidente do FC Porto exigiu a demissão do primeiro-ministro e de outros governantes com a tutela do Desporto devido à incoerência nas regras sobre público, que pode ir a concertos, mas não a eventos desportivos, ainda que ambos sejam realizados no mesmo pavilhão.

“Fomos um bocado cobaias. Subscrevo inteiramente o que o presidente do FC Porto disse, isto tem que ter consequências, não vale a pena andar a tapar o sol com a peneira, isto tem limites. Dentro do estádio a organização foi perfeita, cá fora era impossível controlar esta gente. Tirámos alguns benefícios financeiros? Tirámos, mas falta ver a fatura, espero que não venhamos a pagar um preço muito grande”, afirmou o técnico, em declarações na A Bola TV.

Tal como Pinto da Costa, Vítor Manuel espera consequências políticas. E lembrou o exemplo de Jorge Coelho, o ministro que se demitiu logo a seguir à queda da Ponte de Entre-Os-Rios. “E não tinha nada que ver com aquilo”, continuou: “Isto é que é ser político e assumir responsabilidades. Agora, quem é que vai ser demitido, é o ministro da Educação? É o secretário de Estado do Desporto? É o ministro da Administração Interna? Isto agora fica tudo em águas de bacalhau...”.

Para o treinador, o Governo e as autoridades de saúde estão a discriminar os adeptos portugueses: “Nós assobiamos para o lado e empurramos as coisas com a barriga... Tem que haver consequências, não podemos ser um país do terceiro mundo. Nós, portugueses, estamos a ser tratados como cidadãos de segunda classe dentro do nosso próprio país”.

Vítor Manuel defendeu ainda que “era humanamente impossível” garantir que os adeptos permanecessem numa bolha de segurança durante menos de 24 horas, saindo diretamente do aeroporto para o Estádio do Dragão e regressando de imediato ao Francisco Sá Carneiro para regressarem aos países de origem, como tinha sido anunciado pelo Governo.

“Não nos queiram enganar e dizer que era possível meter os ingleses todos numa bolha, virem todos no mesmo dia, metê-los no autocarro para o estádio e findo o jogo metê-los no autocarro para seguirem viagem. Isso era impossível, ainda ficaram cá alguns a gastar dinheiro. Eu percebo o problema económico, mas só há economia se houver pessoas”, acrescentou.

“A partir de agora, não vejo condições objetivas para que o Governo e a Direção-Geral de Saúde tenham força moral para impedir que espectadores possam entrar nos estádios e nos pavilhões, porque abriu-se a exceção”, finalizou Vítor Manuel.