Portugal
"O Benfica está sempre pronto para cometer mais uma ilegalidade"
2021-03-14 14:55:00
Francisco J. Marques atento à presença de Paulo Gonçalves no jogo das águias com o Boavista

A presença de Paulo Gonçalves, arguido no processo E-Toupeira, no Estádio da Luz, a assistir ao jogo entre Benfica e Boavista, ontem, para a 23.ª jornada da I Liga, não passou despercebida ao diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques.

O advogado esteve ligado aos dois clubes. Entre 2000 e 2006, foi diretor geral do Boavista. Em 2007, iniciou uma ligação à SAD do Benfica, como assessor jurídico, cargo que desempenhou até 2018, quando saiu depois de ser constituído arguido no processo E-Toupeira.

O caso E-toupeira começou a ser denunciado, em 2017, por Francisco J. Marques, com a divulgação de alegados emails do Benfica, nos quais Paulo Gonçalves era citado. Agora, o mesmo Francisco J. Marques não deixou passar despercebida a presença do advogado no Estádio da Luz.

“O Benfica está sempre pronto para cometer mais uma ilegalidade”, acusou o dirigente portista, partilhando a imagem de uma notícia sobre a presença de Paulo Gonçalves no Estádio da Luz.

Considerando que a presença do ex-assessor jurídico da SAD do Benfica violou o protocolo sanitário, o diretor de comunicação dos dragões afirmou estar à espera de ver se o ato tem consequências.

“Os adeptos não podem ir ao estádio, a DGS só permite oito pessoas dos órgãos sociais dos dois clubes nos camarotes, mas Paulo Gonçalves tem um salvo conduto pela porta do cavalo. Vamos ver o que fazem as autoridades”, complementou Francisco J. Marques.

Paulo Gonçalves foi acusado pelo Ministério Público de 79 crimes, por comportamentos suscetíveis de afetar a verdade, a lealdade e a correção da competição e do seu resultado na atividade desportiva.

O Ministério Público acredita que, enquanto assessor jurídica da SAD do Benfica e no interesse desta, Paulo Gonçalves solicitou informações sobre inquéritos a funcionários judiciais, oferecendo como contrapartida bilhetes, convites e merchandising.

O advogado vai responder em tribunal pelos crimes de corrupção, violação do segredo de justiça, violação do segredo de sigílio e acesso indevido, enquanto as acusações de favorecimento pessoal, falsidade informática e oferta ou recebimento indevido de vantagem caíram por falta de provas.

Na fase de instrução, a juíza Ana Peres ilibou a SAD do Benfica dos 30 crimes de que estava acusada, sustentando que “os factos atribuídos a Paulo Gonçalves não podem ser imputados diretamente” à sociedade encarnada, dado que o advogado “não faz parte dos órgãos sociais da pessoa coletiva, nem representa a pessoa coletiva”, sendo apenas um “subalterno”.

“O afastamento do Paulo Gonçalves [do Benfica] só se dá depois da acusação. Quando se sabe que Paulo Gonçalves é detido para ser ouvido pelo juíz, que lhe fixou como medida de coação termo de identidade e residência, o Benfica fez um grande elogio, reafirmando a confiança que tinha. O que foi público foi que o Paulo Gonçalves pediu muito para sair porque o Benfica confiou sempre muito nele. Se lhe faz aqueles elogios todos, aparentemente até sabia. Embora a senhora juíza Ana Peres não tenha achado isso”, comentou Francisco J. Marques, depois de conhecida a decisão da juíza.