Portugal
No avião à prova de turbulência, o chá serve-se morno
2018-04-08 22:55:00
O Sporting venceu o FC Paços de Ferreira, por 2-0.

A turbulência em torno do Sporting era (e é) grande, a necessidade de vencer era ainda maior e, frente ao FC Paços de Ferreira, os leões deram a resposta que tinham de dar – não só pelo contexto como pelo empate do SC Braga – e conseguiram vencer por 2-0, num jogo em que participaram 22 homens que parecem ter bebido chá morninho. Muito morninho.

Entre minutos de tédio, minutos de maior velocidade e algumas oportunidades de golo, a fotografia geral deste jogo é fácil de traçar: a vitória do Sporting é mais do que justa, num jogo em que a equipa de Jesus não teve de pedalar muito. Bastou um bocadinho e as coisas aconteceram.

Este jogo teve poucas variantes táticas e poucas cambiantes que expliquem este triunfo. O Paços foi mole e descoordenado na pressão, deixando o jogo partir. O Sporting conseguiu, a espaços, imprimir velocidade e, com facilidade, resolveu o jogo. Mais eficácia tivesse e mais golos teria marcado.

Devagar foram ao longe

O Sporting subiu ao relvado com Wendel no meio-campo (já lá vamos ao brasileiro) e a partida até começou com um Paços atrevido, que não só estava a sair confortavelmente desde trás, como estava a conseguir circular em zonas de criação e inventar, até, algumas situações de finalização.

Com nenhuma das equipas particularmente agressiva na pressão à primeira fase de construção adversária, o jogo começou logo morno. Calmamente, sem sufocar, o Sporting foi tomando conta do jogo, com uma posse segura, e, a partir dos 20 minutos, começou a aproveitar a anarquia na pressão do Paços – jogadores ingenuamente só de olhos na bola e a pressionar individualmente – e um jogo, por isso, mais partido. Sem precisarem de muitas oportunidades, pumba: Dost, de cabeça, ao segundo poste, depois de Bruno Fernandes pentear o cruzamento de Bryan Ruiz.

Neste jogo, ficou sempre a sensação de que, perante a lentidão na circulação do Sporting, um Paços com “menos respeito”, mais ambicioso e, sobretudo, mais agressivo poderia ter trazido problemas ao Sporting. Tal não aconteceu e as boas saídas do Paços foram parcas. A propósito: esta equipa parece muito dependente de Mabil, um belo craque que, hoje, esteve, também ele, como o jogo, muito morninho. Foi o chá.

O chá morninho virou café

O intervalo fez bem ao Sporting, que deve ter trocado o tal chá morno pelo café. A equipa regressou com uma circulação mais rápida, mais vertical e mais criativa, trazendo Gelson para o jogo, com o português a insistir em movimentos pela zona central, chamando Ristovski para o corredor e combinado várias vezes com Bruno Fernandes. Também Wendel foi mostrando alguns bons pormenores técnicos, sobretudo dando fluidez na zona central, quer no passe quer em condução.

O Sporting, fruto desse dinamismo e maior predisposição para recuperar a bola, apertou um pouco mais o Paços e, mesmo sem precisar de pedalar muito, o erro aconteceu. Gelson sacou uma “bolacha” perto da área do Paços, pediu a Bruno Fernandes um toque de calcanhar e, depois de conduzir, pediu a Bryan Ruiz que finalizasse aquilo. E ele fê-lo com calma e classe.

A partir daqui, um jogo que já era morno – ainda que com estes breves minutos de cafeína – tornou-se morto. Pouco mais se passou entre um Sporting preocupado em deixar passar o tempo e um Paços sem capacidade de sair em transição, sem capacidade de criar coisas boas (Luiz Phellype bem se mostrou, mas nunca foi servido em apoio frontal) e sem capacidade de roubar bolas. Chegámos a ver Xavier e, sobretudo, Rúben Micael a recuperarem a passo.

Posto isto, manter o 2-0 era uma inevitabilidade. Nota para a lesão de Mário Felgueiras, aos 81 minutos, que obrigou o Paços, sem substituições, a pedir um favorzinho a Rui Correia: o central foi para a baliza.

O Sporting foi um avião imune à turbulência e, bebendo chá morno, chegou ao que, hoje, era imperativo chegar.