Portugal
“Ninguém pode somar conclusões à sétima jornada”, diz Rui Almeida
2021-01-24 12:25:00
Técnico deixou o Gil Vicente à sétima ronda, mas lembra que sempre que ficou até ao fim da época cumpriu os objetivos

O treinador de futebol Rui Almeida, de 51 anos, defende que é preciso "tempo" para avaliar o desempenho de uma equipa técnica, após ter saído do Gil Vicente com sete jornadas cumpridas na presente edição da I Liga.

Depois de trabalhar, sobretudo, como treinador dos escalões de formação e como treinador adjunto entre 1995 e 2015, Rui Almeida consolidou-se como técnico principal em França, ao serviço do Red Star, da II Liga francesa, na época 2015/16, do Bastia, primodivisionário em 2016/17, do ‘secundário' Troyes, em 2018/19, e do Caen, também na II Liga, em 2019/20.

À 'aventura' em França entre 2015 e 2020, seguiu-se o comando técnico gilista no início da presente época e apresentou uma equipa que "queria dominar o jogo e criar muitas dificuldades" aos adversários, mas uma série de quatro derrotas seguidas atirou os barcelenses para o 17.º lugar, com cinco pontos, e precipitou a sua saída, oficializada em 11 de novembro.

"No futebol, é importante dar um pouquinho de tempo. Não são precisos sete anos para fazer resultados, mas ninguém pode somar conclusões à sétima jornada. Como treinador principal, sempre que terminei épocas, ultrapassei largamente os objetivos dos clubes em que estive", assinala.

Rui Almeida salienta, aliás, que o Farense, treinado por Sérgio Vieira desde o início da temporada, foi último após várias jornadas - da segunda à sexta, bem como à oitava e à 12.ª -, antes de subir ao 16.º lugar que hoje ocupa, e reitera que a contratação de um técnico deve ser olhada como uma aposta a "médio prazo".

No período em que esteve em Barcelos, o Gil Vicente foi uma equipa com um "ADN" bem definido e reconhecido pela "opinião pública", que se traduzia na vontade de ter bola, para criar "mais oportunidades de golo" e "hipoteticamente marcar mais golos", acrescentou o treinador natural de Lisboa.

Os ‘galos' tentaram exibir essa vocação ofensiva nos sete jogos sob o seu comando, apesar do surto do novo coronavírus ter dificultado a preparação da época, ao infetar 10 jogadores gilistas e cinco elementos da equipa técnica e da estrutura do futebol, incluindo Rui Almeida, lembrou.

"Quase não tínhamos qualquer tipo de relação com os jogadores, porque estávamos em sítios diferentes. Há uma quebra de relações na equipa que são essenciais, relativamente ao dia a dia de uma equipa principal", descreveu, ao recordar a situação que forçou o plantel a isolar-se e a treinar à distância.

O treinador vincou que outras equipas têm, desde então, experimentado a "dificuldade de gerir surtos", dando o exemplo do Benfica, que, na quarta-feira, para a meia-final da Taça da Liga, defrontou o Sporting de Braga (triunfo bracarense por 2-1), a meio de um surto que infetou 19 pessoas, sete delas futebolistas.

Grato pelos três meses que passou no Gil Vicente, clube que o "recebeu muito bem", abrindo-lhe as ‘portas' da I Liga como técnico principal, Rui Almeida salientou que o futebol luso se distingue pela "capacidade tática e de leitura de jogo dos treinadores", ao passo que no francês, onde trabalhou entre 2015 e 2020, sobressaem a "força e a velocidade" dos jogadores.

"Estamos a falar das ligas do país campeão mundial em título [França] e do campeão europeu em título [Portugal], com enorme qualidade e particularidades diferentes, que advêm das características dos seus jogadores e dos seus treinadores", disse o treinador que, em França, orientou Bastia, na I Liga, e Red Star, Troyes e Caen, na II Liga.

O treinador quer prosseguir a carreira num projeto onde possa "maximizar jovens talentos", sem preferência por Portugal ou pelo estrangeiro.

"Estou aberto a um projeto com as minhas características, que requeira um treinador ambicioso, rigoroso, com experiência nacional e internacional, capaz de maximizar jovens talentos. Foi isso que me trouxe a Portugal. Estou aberto a ficar no país, como a sair", afirmou.

No seu percurso, o treinador considera ter potenciado atletas como Allan Saint-Maximin, avançado francês de 23 anos que orientou no Bastia e está hoje no Newcastle, da I Liga inglesa, Bryan Mbeumo, extremo francês de 21 que encontrou no Troyes e rumou ao Brentford, da II Liga inglesa, e Martins Pereira, médio luxemburguês de 23 que se mudou do Troyes para os suíços do Young Boys.

"Deu-me prazer ajudar jovens talentos a crescerem, mas em nenhum momento o treinador é o único a influenciar o percurso do jogador", realça.

Rui Almeida considera ainda que deixou trabalho feito nesse sentido nos três meses que esteve em Barcelos, até uma série de quatro derrotas seguidas ditar a saída, em novembro, e destaca um dos futebolistas do plantel gilista: Samuel Lino, avançado de 21 anos, que, até agora, marcou cinco golos em 16 jogos oficiais.

"Deu-me um gozo enorme ajudar o Samuel Lino a crescer. Impôs-se pela qualidade dele e certamente vai ter uma grande carreira", vaticina.

Quando olha para a carreira, Rui Almeida atribui o seu "crescimento" ao conhecimento que obteve junto dos treinadores principais com quem colaborou, nomeadamente Jesualdo Ferreira, atual treinador do Boavista.

Após trabalhar com o "professor Jesualdo" nos gregos do Panathinaikos e no Sporting, na época 2012/13, no SC Braga, em 2013/14, e no Zamalek, que se sagrou campeão egípcio em 2014/15, Rui Almeida entende que as experiências em "quatro clubes grandes", cuja "probabilidade de ganhar cada jogo é alta", ajudaram-no a ser um treinador que incentiva as equipas a terem bola e a criarem oportunidades.

"Às vezes, há o chavão de que jogamos para ganhar, mas as minhas equipas têm entrado mesmo para ganhar, porque a quantidade de oportunidades criadas em cada jogo tem mostrado isso. O trabalho em clubes grandes marcou-me como treinador. Independentemente de trabalharmos num clube maior ou mais pequeno, podemos ter uma equipa grande", observa.