Portugal
"Nem morto trabalharia com Pinto da Costa", diz Manuel José
2021-04-09 10:50:00
Em entrevista ao jornal A Bola, Manuel José fala de dois cargos que nunca assumiu: treinador do FC Porto e selecionador

Manuel José é um dos mais prestigiados treinadores portugueses e, aos 75 anos, diz que procura estar afastado para, à distância, acompanhar o desenrolar da atividade que lhe deu fama. Frontal, direto e por vezes polémico, Manuel José nunca negou que ao longo da sua carreira nunca cultivou uma amizade com Pinto da Costa e admite que nunca treinaria os dragões com o atual dirigente. 

"A minha matriz é esta: verde é verde, não é verde-esmeralda. Continuo a dizer o que penso e o que sinto, mas sei o que digo. Expresso o meu pensamento através de palavras que me parecem mais apropriadas assumindo a responsabilidade por aquilo que digo. Só tenho uma cara e uma palavra", assegurou Manuel José, em entrevista ao jornal A Bola, publicada na edição desta sexta-feira.

O técnico garante que nunca treinou o FC Porto porque não quis. "Se disser que não treinei porque não quis vão dizer que sou mentiroso. Mas é verdade. Eu disse que não. Nunca treinaria o FC Porto com aquele presidente. Com ele nunca na vida", assume.

"Não posso esticar mais a corda ou ela parte-se. Nunca trabalharia com uma pessoa como aquela. Nem morto trabalharia com ele", afirmou Manuel José, que também poderia ter orientado a Seleção Nacional no Euro2004 mas acabou por ser afastado, mesmo tendo um acordo com Gilberto Madaíl, como o ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol admitiu, recentemente ("Manuel José foi o selecionador mais caro que eu tive, sem dúvida nenhuma, porque nunca exerceu").

O algarvio conta agora a sua versão do que sucedeu em 2004. "Fui posto fora da Seleção pelo poder corrupto que exista em Portugal e que mandava no presidente da Federação. Tinha acertado com ele, três meses e meio antes, contrato para ser o treinador do Euro2004. Ofereceu-me depois o dobro do dinheiro para ser adjunto do Luiz Felipe Scolari! Eu disse, ‘meu amigo, não tenho interesse. Está a tentar comprar-me Saúde e adeus’", recordou Manuel José, confirmando que a Federação Portuguesa de Futebol teve de lhe pagar o que estava acordado.

Mas Manuel José entende que o mais importante é andar de 'cabeça levantada' e com 'as costas direitas' nesta vida. "Ter a independência moral num mundo de corruptos tem o seu preço, portanto eu paguei esse preço e nem sequer foi a primeira vez que isso aconteceu. Não fui selecionador por causa do poder maléfico e corrupto que havia no futebol português, poder esse que mandava em tudo", destacou, nesta entrevista ao jornal A Bola, realçando que tentaram seduzí-lo.

"Tentaram comprar-me várias vezes e nunca o conseguiram. ‘Entras no jogo ou estás tramado’, diziam. Tramei-me, mas hoje olho-me ao espelho e não tenho vergonha do que vejo. Ninguém da minha família tem e isso para mim é o mais importante. Sou incorruptível".

O treinador, que é um ídolo em terras do Egito, não esconde ainda que 'pagou essa fatura' pela forma frontal com que pauta a sua vida. "Prejudiquei-me imenso por ser quem sou e por não deixar que me comprassem".

Numa longa conversa, Manuel José aborda a realidade dos três grandes, com particular enfoque nos treinadores, elogiando o futebol praticado pelo FC Porto, o espírito guerreiro incutido por Sérgio Conceição nos jogadores, bem como o trajeto de Rúben Amorim e o futebol praticado pelo Sporting. Já Jorge Jesus é alvo de críticas, por não compreender as suas limitações ao comunicar e por não ser capaz de reconhecer que erra.

A entrevista é publicada no dia em que Manuel José celebra o 75.º aniversário. O treinador viaja pela sua carreira e revisita os momentos mais marcantes, numa conversa imperdível.