Portugal
"Não vale a pena pensar que enganam as pessoas. Ganha sempre o Jorge Mendes"
2020-10-12 09:55:00
Oliveira diz que os dirigentes têm de fazer uma reflexão profunda sobre o que se está a passar

A aposta na formação tem sido uma das bandeiras dos clubes portugueses nos últimos anos, mas não raras vezes ocorrem situações de jogadores que saem do campeonato luso ainda em tenra idade e sem se terem fixado durante algum tempo nas ditas equipas principais.

Tiago Dantas, emprestado ao Bayern Munique, não sendo conhecido se os bávaros têm, ou não, cláusula de compra do passe do jogador, saiu da equipa B do Benfica, na última semana, e reforçou os campeões europeus, sendo que deverá jogar na formação secundária germânica.

No entanto, essa mudança não deixou de criar um certo impacto mediático, até porque Tiago Dantas era apontado como uma das pérolas do Seixal que poderá, em breve, ser aposta na equipa principal.

Mas outros nomes se juntam nesta lista como os dragões Vitinha, Fábio Silva ou Tomás Esteves que partiram para outras paragens nesta temporada sem se terem fixado no FC Porto.

António Oliveira, antigo selecionador nacional português, diz que é preciso parar para pensar e perceber a realidade das coisas e aconselha os adeptos a terem um pensamento crítico em relação à conversa dos dirigentes quando apregoam o capítulo da aposta na formação.

"A continuar assim, não vale a pena vocês continuarem a defender ou a pensar que enganam as pessoas com a história das academias, com a história das universidades, porque não vai acontecer isso", avisou António Oliveira.

Em declarações no programa Trio d´Ataque, da RTP3, António Oliveira diz que os adeptos podem perceber o que acontece na realidade se olharem para os plantéis das equipas e verificarem quantos são portugueses e quantos são de nacionalidade estrangeira.

"Mesmo fazendo muito dinheiro nas transferências acabamos por gastar mais do que aquilo que encaixamos", considera António Oliveira, destacando que isto é "sempre muito preocupante".

"Antigamente dizia-se que num jogo com a Alemanha no fim eles ganhavam sempre. Agora nisto [transferências], quer se ganhe quer se perca, ganha sempre o mesmo, o Jorge Mendes."

António Oliveira deixou ainda claro no canal público que tem "respeito e admiração" pelo empresário responsável pela Gestifute, que tem, nos últimos anos, realizado as grandes transferências do futebol internacional.

"Tiro-lhe o chapéu mas o que é preciso é repensar mas muito rapidamente os procedimentos que estão a ser colocados na prática não só porque estão a arruinar e vão continuar a arruinar cada vez mais os clubes e vamos acabar com aquilo que é a grande esperanças nos nossos talentos."

O antigo selecionador nacional salientou que Portugal "não pode vencer os talentos antes deles serem talentos" e terem "15, 16 ou 18 anos sem saber o que estamos a fazer ou em que condições estamos a fazê-lo".

António Oliveira entende que o estado das coisas terá de se alterar sob pena de, dentro de algum tempo, se possa vir a falar "de tudo menos de futebol".

"Vamos passar a discutir isto [finanças dos clubes] nos cafés, nas ruas? Pelo amor de Deus. É preciso colocar um ponto numa reflexão sobre isto mas muito rapidamente".

António Oliveira salienta ainda que se estiverem à espera das medidas da FIFA essas, um dia, podem acabar por chegar mas "por decreto" e com os clubes a terem de se adaptar, aí, de forma obrigatória à realidade das transferências no futebol.