Portugal
"De certeza que não assinei qualquer documento que me tivesse parecido duvidoso"
2021-07-29 21:00:00
As ideias fortes da primeira entrevista de Rui Costa como presidente do Benfica

Rui Costa deu esta noite a primeira entrevista desde que foi oficializado como novo presidente do Benfica, na sequência da saída de Luís Filipe Vieira, após ter sido detido e constituído arguido na operação Cartão Vermelho.

Na TVI, Rui Costa abordou os principais temas da atualidade encarnada, numa altura em que foram prometidas eleições até ao final do ano, com a equipa a lutar pelo acesso à Liga dos Campeões e estando o norte-americano John Textor a insistir na compra de 25 por cento da SAD do Benfica.

Veja as ideias fortes de Rui Costa:

– Última vez que falou com Vieira?

–  “Foi na terça-feira, na véspera de ser detido. Evidentemente, fiquei perplexo. Jamais poderia esperar passar aquela quarta-feira. Uma emoção dramática no momento em que soubemos o que se estava a passar com Luís Filipe Vieira."

– Reação à detenção?

– “Infelizmente temos tido várias buscas e vários processos no Benfica. A nossa perplexidade de mais uma busca ao presidente, mas pensando que era relativa a processos que estava em curso. Quando soubemos da detenção, não vou esquecer que foi um abalo no Benfica Campus.”

– Acredita na inocência de Vieira?

– "Até hoje não é acusado. Quer ele, quer no Benfica estamos na esperança de que o processo não passe disto. mas aquele dia foi dramático. Não envolvia só Vieira enquanto pessoa, envolvia o presidente do Benfica. Custou até a aceitar os primeiros dias, a toda a gente que ali trabalha. Volto a dizer que neste momento não há acusados."

– Como foi assumir a presidência do Benfica?

– "Ali não houve tempo para pensar. Houve tempo para analisar e o facto de eu não poder recuar no compromisso com o Benfica. Era o número dois da direção, não podia recusar. Nesse dia, acordo como diretor desportivo e acabo presidente do Benfica. Não houve tempo para pensar, só o assumir de uma responsabilidade à qual não podia fugir. Não era de todo o que mais me agradava, mas não podia tomar outra decisão que não seguir em frente."

– Houve um cordão sanitário do Benfica em relação a Vieira?

- "Compreendo que na cabeça de muita gente isso possa ter feito sentido, mas a exclusão de Vieira do Benfica nunca será feita. A obra que Vieira fez no Benfica nunca será apagada por ninguém. A história acabará por dar os méritos a Vieira. Naquele momento, o que se pretendeu foi defender o Benfica de forma intransigente, porque ninguém está acima do Benfica. O facto de Vieira não ter sido referido não foi para o apagar da história, mas pensando no presente e do futuro do Benfica. Seria o mesmo tumulto se tivesse evidenciado Luís Filipe Vieira naquele dia. Naquele momento pouco importava Rui Costa ou Luís Filipe Vieira, importava a defensa intransigente do Benfica. Tenho a certeza que Luís Filipe Vieira faria o mesmo comigo. Apesar das relações pessoais e reconhecimento que temos uns pelos outros, nenhum de nós está acima do clube. Naquele momento, o clube precisava de ser defendido, de ter alguém que assumisse a responsabilidade de liderar o clube naquele instante e que não o deixasse no vazio."

–  Questões da oposição sobre a Footlab?

–  “Uma canalhice. Não justifica que possa valer tudo para denegrir a minha imagem. É uma canalhice, as pessoas que referiram isso sabem perfeitamente o que é a Footlab. Não tenho nada a esconder sobre isso. Quero ser avaliado como presidente e não como ex-jogador e menino do Benfica. Há coisas que não me conseguem tocar: na minha honra e relação de amor com este clube. Não preciso de trazer os meus contratos para justificar a minha relação de amor com este clube.”

–  Por que não referiu Vieira no dicurso da apresentação como presidente do Benfica?

–  “Estando na situação de se ver afastado do Benfica ele não podia ter outra reação. Mas não foi fácil para mim assumir uma posição destas. Na apresentação, o misto de emoções era tal que causou até dificuldade em expressar-me. Por um lado, estava a assumir uma responsabilidade desta dimensão, por outro lado custava a todos nós a situação em que estava Luís Filipe Vieira. Tenho a certeza absoluta que ele sabe que eu jamais seria ingrato para com ele. Nestes 13 anos vivemos momentos difíceis, mas o Benfica também foi muito feliz. Naquele momento, a nossa direção teve que separar um bocado das águas e defender intransigentemente o Benfica”.

– Sente ter assinado documentos duvidosos?

– “Que tenha assinado um documento que na altura me tivesse parecido duvidoso, de certeza que não. Volto a dizer que até agora não houve qualquer incriminação. E continua a ser a nossa esperança para todos os efeitos. O que está a ser investigado prende-se com duas assinaturas, que podem ser assinadas por qualquer um dos administradores disponíveis naquele momento na SAD. Em nenhuma circunstância eu posso imaginar estar a assinar um documento que não seja verdadeiro”.

– Motivo para a auditoria?

– "Foi pedida para perceber o que se está a passar com este processo. Não temos nada a esconder. A transparência é uma das coisas que quero trazer para o Benfica. o Benfica tem que ser falado pelas boas razões e não pelas más razões. Tudo o que seja feito no Benfica deve ser com a máxima transparência para os sócios e adeptos. É a minha primeira premissa enquanto presidente do Benfica."

– Vai ser candidato quando forem marcadas eleições?

– "Não disse isso. Neste momento, a minha missão é trazer de novo a estabilidade ao clube e preparar a época desportiva que está à porta. No dia 4, entraremos para na Liga dos Campeões. Os únicos focos prendem-se com a estabilidade que o clube precisa, para podermos ganhar de novo. Toda a gente neste momento que trabalha comigo está proibida de falar em eleições. As eleições vão haver, serão marcadas. Até ao final do ano irão ser efetuadas."

– Admite rever os estatutos?

– "Admito que sim, sendo que não será neste período. Temos de adaptar estatutos às novas realidades e aos desejos dos sócios. Mas tudo a seu tempo. O foco é o que acabei de referir. Temos o apuramento para a Liga dos Campeões já no imediato."

– Ideias para o futuro do Benfica?

– "Tudo o que tiver a falar sobre depois das eleições é futurologia. Com os anos na casa, aprendi a estar envolvido no que são as decisões do Benfica. O importante é manter o meu foco no Benfica. Os nossos adeptos e sócios não querem saber quem vai ganhar as próximas eleições, querem saber se entramos ou não na Liga dos Campões. O empréstimo obrigacionista foi uma vitória enorme para o nosso clube."

– Interesse de John Textor em comprar 25 por cento da SAD?

– "Nunca tive nenhum contacto. Não é querer ou deixar de querer, não é oportuno para o Benfica. Haverá eleições em breve, quem está à frente do clube irá dizer se há possibilidade de avançar com alguma coisa. Até pela forma como nasceu o processo, não é oportuno. Nada contra John Textor. Não criou nenhum dano, é mais um adepto que temos. Só depois de falar com ele poderá saber-se, mas os nossos focos não são esses."

– Continuidade de Jorge Jesus?

– "É treinador do Benfica e continuará a ser. Não se pensa noutra coisa. Jorge Jesus é um treinador com enorme sucesso, mas a época passada correu extremamente mal a todos, por várias razões. Há uma ambição tremenda, que os benfiquistas desejam, para a nova temporada. E Jorge Jesus é o treinador do Benfica."

– Objetivos desportivos?

– "É fundamental estar na Liga dos Campeões. Um clube desta dimensão não pode estar fora desta competição. Sem ser hipócrita, é importantíssimo estar na Liga dos Campeões, acima de tudo em termos desportivos. Num clube de dimensão europeia,não podemos pôr a parte financeira à frente. Vamos entrar com a maior das ambições, vamos chegar à Liga dos Campeões e Jorge Jesus vai fazer o seu caminho como já fez no passado. Não podemos falhar neste ano."

– Abordagem ao mercado de transferências?

– "Tivemos como prioridade preencher o meio-campo, uma das nossas lacunas, e trouxemos um 'seis' e um 'oito', que podem fazer parte destes jogos da Liga dos Campeões. O mercado não está fechado, temos de ser cautelosos, mas ambiciosos. Até ao final haverá mais mexidas, independentemente da Liga dos Campeões. E serão dirigidas por mim, sou o presidente, assumo as responsabilidades."

– Autorizaria Pinto da Costa a gravar na Luz para o Porto Canal?

– "Não conheço os contornos que levaram à autorização dessas filmagens. Provavelmente não aceitaria. Também não faria no Dragão uma reportagem sobre mim."

– Relações com FC Porto e Sporting?

– "Não vou estar aqui com demagogias a dizer que somos amigos. Somos rivais, irão ter da minha parte, e o Benfica é isto, respeito. Mas vou fazer uma defesa intransigente do meu clube."

– Espera reencontrar-se com Vieira?

– "Espero que sim. Se fosse neste momento, dava-lhe um abraço de muita força e coragem. Não tenho a menor dúvida do que está a sofrer pelo que tentou fazer no Benfica. Acima de tudo, se houvesse algo para esclarecer era com ele. Não tenho a menor dúvida de que não há ninguém no Benfica que me conheça melhor que Luís Filipe Vieira. Ele sabe que eu não sou ingrato. Não vou negar a amizade que tenho com Luís Filipe Vieira."